06 Fevereiro 2015
Um grupo representando aproximadamente mil padres católicos americanos pediu aos bispos do país que “comecem a dialogar” no sentido da ordenação de homens casados ao sacerdócio.
A reportagem é de Brian Roewe, publicada pela National Catholic Reporter, 03-02-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Em cartas enviadas no dia 23 de janeiro a todos os membros da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, a Associação dos Padres Católicos dos EUA disse que o pedido foi feito principalmente com a preocupação “pelo acompanhamento pastoral das almas” e que se precisa de padres casados para “servir às necessidades pastorais das pessoas”.
“O momento chegou. A porta está aberta. A necessidade disso é urgente”, disseram os padres.
A carta é assinada por 12 membros da equipe diretiva e funcionários da Associação, representando 9 dioceses e uma ordem religiosa; a secretária executiva, a Irmã Jackie Doepker (franciscana), também subscreveu o documento.
O padre diocesano Bob Bonnot, que serve em Youngstown, Ohio, é o presidente da Associação e falou ao National Catholic Reporter que, até onde sabe, não houve resposta por parte da Conferência dos Bispos nem de algum bispo em particular. Ele disse que não pediram aos bispos que lhes respondam, mas que considerem o assunto entre eles mesmos. Acrescentou que a Associação incentiva os seus membros, onde for o caso, a discutir a questão dos padres casados com os seus respectivos bispos.
“Este pode ser um assunto que alguns padres, em certas situações, poderão dizer: ‘Bispo, achamos que o senhor deveria estar pensando sobre o assunto.’ Fica a critério deles tomar esta decisão”, disse Bonnot.
Entre os motivos que os padres citaram na carta para o início do diálogo estão:
• a inclusão na Igreja romana do clero casado de outras denominações cristãs, tais como a Igreja Anglicana;
• os pedidos dos leigos de um diálogo sobre padres casados;
• o número decrescente de padres ativos e o fechamento resultante de paróquias;
• e a saúde espiritual, mental e física dos atuais padres, em particular aqueles que experimentam uma “carga de trabalho cada vez maior e, por vezes, esmagadora”.
“A saúde e vitalidade da função do padre dentro da comunidade de fé é fundamental para a vida da tradição católico-romana e de seu ministério. Dados os sinais dos tempos, a diversidade e desafios que a Igreja enfrenta neste momento, o sacerdócio ministerial precisa de opções criativas. O testemunho que pode vir de padres casados servindo à Igreja junto dos padres celibatos é uma opção fundamental a ser explorada”, diz a carta.
“Existem muitas vozes na Igreja esperando serem ouvidas aqui – inclusive a nossa”, disserem os padres.
A Associação dos Padres baseou o seu pedido por padres casados na crença de que o Papa Francisco está aberto à possibilidade, caso uma conferência episcopal nacional leve o assunto até ele. Nesse sentido, há uma referência feita a uma entrevista (de abril de 2014) dada a um jornal australiano em que o papa teria dito a um bispo brasileiro que cabia às conferências episcopais regionais buscarem e encontrarem um consenso sobre as reformas da Igreja, e então trazê-las a Roma.
Segundo uma reportagem do jornal The Tablet a partir da entrevista, Dom Erwin Kräutler disse que, numa conversa sobre a escassez de padres na prelazia do Xingu, Francisco expressou certa abertura ao assunto.
“O papa explicou que não podia tomar tudo nas mãos pessoalmente estando em Roma. Nós, os bispos locais, que estamos mais familiarizados com as necessidades de nossos fiéis, devemos ser ‘corajudos’, ou seja, ‘valentes’ em espanhol, e dar sugestões concretas”, disse o bispo segundo o The Tablet.
Dom Erwin confirmou que ele e o papa discutiram a ordenação de viri probati (“homens casados provados”) ao sacerdócio. “Cabe aos bispos apresentar sugestões, disse novamente o papa”, completou.
Na carta, a Associação pede a seus bispos que “aceitem a oferta do Papa Francisco de considerar a possibilidade de ordenar viri probati casados como padres”. Pediram que os bispos iniciem um amplo processo de consulta elencando impressões de funcionários diocesanos, párocos, diáconos e dos leigos.
Bonnot disse ao National Catholic Reporter que, neste momento, a Associação não tem ações adicionais planejas e que dará “tempo para a questão amadurecer”.
O pedido de revisão da possibilidade de padres casados esteve entre as oito resoluções que a Associação dos Padres Católicos dos EUA considerou em sua terceira assembleia anual, realizada em St. Louis, em junho. O grupo, em grande parte composto de sacerdotes da era pós-Vaticano II, formou-se em agosto de 2011 como uma rede de apoio para padres e para permitir a eles falarem com uma voz unificada.
“Estamos tentando ser uma vez de alegria e esperança em nossa Igreja peregrina e achamos que expressar as opiniões dos padres com respeito a questões tais como esta é algo que desejamos ser uma contribuição positiva para a vida da Igreja neste momento animador que ela vive”, disse Bonnot.
Nota do editor: Esta reportagem foi atualizada com comentários do Pe. Bob Bonnot, presidente da Associação dos Padres Católicos dos EUA.
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Padres pedem a bispos americanos que “comecem a dialogar” sobre ordenação de homens casados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU