02 Julho 2017
Uma clara mudança na Cúria: Francisco substitui o cardeal alemão Gerhard Müller, prefeito da Doutrina da Fé, pelo vice do mesmo dicastério, o arcebispo jesuíta espanhol Luis Ladaria. Tanto Müller quanto Ladaria tinham sido chamados a esses papéis pelo Papa Bento (um em 2012, o outro em 2008) e eram o pedal direito e esquerdo dessa máquina: Bento privilegiava o direito. Francisco, agora, move o pé para o esquerdo.
A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 02-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Trata-se da maior novidade introduzida na Cúria pelo Papa Bergoglio depois da substituição, em 2013, do cardeal Bertone pelo cardeal Parolin na Secretaria de Estado. Gerhard Müller, ratzingeriano integral (Bento confiou a ele a publicação da sua “Opera omnia”), com a chegada de Francisco, tentou colaborar lealmente com o novo papa, mas só teve sucesso nos temas sociais, e não nos propriamente doutrinais.
A proximidade com o papa sobre os temas sociais foi expressada em um livro de Müller, intitulado Povera per i poveri. La missione della Chiesa [Pobre para os pobres. A missão da Igreja] (LEV, 2014), para o qual Francisco escreveu o prefácio. Em outubro de 2015, ele foi um dos 13 signatários de uma carta ao papa que protestava contra a condução demasiado liberal do segundo Sínodo sobre a família. Ultimamente, ele tinha desaprovado as interpretações “abertas” das indicações papais sobre os divorciados em segunda união, que, ao contrário, o papa aprovava.
Luis Francisco Ladaria Ferrer, 73 anos, vem da ilha de Mallorca, no arquipélago das Baleares. Professor de Dogmática na Gregoriana, vice-reitor da instituição, secretário da Comissão Teológica Internacional, é o primeiro jesuíta ao qual foi confiada a liderança da Doutrina da Fé. Ele se considera um moderado: “Eu não gosto dos extremismos, nem dos progressistas, nem dos tradicionalistas”, disse ele em uma rara entrevista à revista 30 Giorni, quando Bento o nomeou secretário da Doutrina.
Ambientes da direita espanhola e curial o consideram perigoso por causa dos seus estudos de “antropologia teológica” e sobre o “pecado original”, mas ele nunca se preocupou em responder às acusações, mostrando, nisso, uma liberdade de espírito tipicamente jesuíta, semelhante à do Papa Bergoglio diante dos muitos ataques.
“Cada um é livre para criticar”, disse ele na entrevista citada: “Essas opiniões não me preocupam mais tanto”.
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Ex-Santo Ofício: papa substitui Müller, que criticou o Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU