27 Junho 2017
Podemos dizer que o papa Bergoglio é um populista? De certa forma, sim.
Esta foi a conclusão do encontro organizado pelo Instituto Gramsci de Ferrara e pelo CEDOC da paróquia de Santa Francisca Romana na última quinta-feira, 22 de junho, com o título: "Papa Francisco, a Igreja e os populismos".
A informação é publicada por Telestense 26-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
O tema foi abordado pelo historiador da igreja Massimo Faggioli e pelo biblista Piero Stefani. Se por populismo entende-se a tendência de se relacionar com o povo sem intermediações, tentando representá-lo e mobilizá-lo em primeira pessoa, o papa Francisco, em alguns aspectos, poderia ser a expressão de um populismo no sentido positivo.
A sua concepção tipicamente latino-americana de "Pueblo" que já foi considerada verdadeiro e próprio emblema do seu imaginário social, carregada de significado eclesiológico (de acordo com a fórmula conciliar Igreja-povo de Deus), pareceria em si uma reação ao modelo de igreja da qual o papa Bento XVI foi um dos maiores expoentes. Uma igreja que não resistia ao impulso de compactuar com certa tendência donatista. Evidentemente não no sentido herético (o Donatismo foi condenado pelo Concílio de Cartago em 411, bem como por Santo Agostinho), mas como uma igreja-perímetro limitada a uma espécie de vanguarda (melhor poucos, mas bons), que aceitava sem hesitação os ditames da doutrina cristã. Uma espécie de intransigência, cuja onda continuou a se propagar na comunidade eclesial até os nossos dias, e que explicaria a resistência, ainda presente, em relação à concessão dos sacramentos e da inclusão no exclusivo círculo eclesial de quem não atende condições existenciais plenamente canônicas (como é o caso do recente exemplo pós-sinodal da comunhão para os divorciados). Um modelo de igreja, como recordou Massimo Faggioli, que nos EUA assume nuances étnico-nacionalistas, em nome de uma defesa da identidade contra possíveis contaminações na era da globalização.
Comparado com esse estilo, o papa Bergoglio parece opor - com o seu metro da misericórdia - um modelo mais inclusivo, que não quer medir distâncias em relação a preceitos e fórmulas doutrinárias. É toda a experiência eclesial latino-americana do pueblo (das teologias da libertação à mais argentina teologia do povo) que, a partir das periferias urbanas e existenciais, não perde tempo quanto à forma de se aproximar da vida sacramental, fechando os olhos para as reais condições de muitos: fome, miséria, marginalização, histórias de vida complicadas e muitas vezes no limiar da ortodoxia.
O apelo de Bergoglio ao povo é endereçado para uma igreja que está saindo das próprias certezas doutrinárias. Uma igreja mais popular e menos seletiva (em sentido donatista), mais fraternal e menos hierárquica, mais poliédrica e menos piramidal. O próprio viés pastoral do papa Francisco seria a expressão lógica de uma atitude que evita a necessidade de definições claras e precisas em sentido dogmático e disciplinar, para abrir os braços (motivo pelo qual é acusado pelos conservadores de fraqueza doutrinária e teológica) para as pessoas, cada uma delas, para serem inclusas sem rodeios na história da salvação.
Mas, em tudo isso, há, no entanto, um senão, apontado prontamente por Piero Stefani. Por um lado a misericórdia é a chave para explicar a ampliação no sentido popular da igreja de Francisco, sem muitas intermediações clericais e hierárquicas intraeclesiais.
Por outro lado, a mesma ênfase cruza-se com o curso da religiosidade popular que, em tempos pós-secularização (em que, mais do que a um retorno para o sagrado estamos testemunhando a explosão puntiforme de um sagrado do tipo ‘faça você mesmo’), pode resultar em adesões fervorosas mesmo nos confrontos de aparições e santuários, sobre os quais a própria igreja tem repetidamente feito um apelo por cautela.
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"Papa Francisco, a Igreja e os populismos" é tema de encontro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU