Por que negligenciamos um projeto para proteger a Amazônia?

Foto: VaqueroFrancis | Flickr CC

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26 Junho 2017

“O atual governo dá claros sinais de subserviência aos interesses da parcela do agronegócio que deseja flexibilizar o licenciamento ambiental, interferir nas decisões sobre novas reservas ambientais ou demarcações indígenas (mudando a Constituição de 1988), entre outras medidas desastradas. A julgar pelos protestos ocorridos na Noruega durante a passagem da delegação brasileira por lá, o governo Temer não é mal visto apenas por aqui”, escreve André Trigueiro, jornalista, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 25-06-2017.

Eis o artigo.

Brasileiro adora bacalhau e faz piada com o fato de o peixe vindo do outro lado do oceano Atlântico, das águas geladas da distante Noruega, nunca ter sido visto com cabeça. Agora a piada somos nós.

Onde estávamos com a cabeça quando negligenciamos um projeto - financiado pelos noruegueses - para proteger a Amazônia e os povos da floresta? Foram quase R$ 3 bilhões doados por eles a um fundo criado por nós em 2008, gerenciado pelo BNDES, para apoiar projetos de combate ao desmatamento e de desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal.

Pelas regras do fundo - criadas pelo próprio governo brasileiro -, vínhamos recebendo aproximadamente R$ 400 milhões por ano (valor próximo do orçamento do Ministério do Meio Ambiente previsto para este ano) até que as taxas de desmatamento voltaram a subir. "De acordo com as regras que foram desenhadas pelas próprias autoridades brasileiras, se o desmatamento aumentar, haverá menos dinheiro saindo da Noruega", disse na última quinta-feira o ministro de Clima e Meio Ambiente daquele país. Estima-se que o corte seja de aproximadamente R$ 200 milhões.

O anúncio ocorre no momento em que especialistas começam a duvidar da capacidade de o Brasil cumprir, pelo rumo dos acontecimentos, a meta estabelecida no Acordo de Paris de reduzir as emissões de gases estufa em 43% até 2030. Uma meta confortável de ser alcançada desde que não hajam barbeiragens na proteção das áreas verdes.

O Presidente Temer e o ministro Sarney Filho tentaram defender em Oslo os interesses de um governo afogado em fatos e números desabonadores que vieram da gestão Dilma e prosseguem sem controle.

Os desmatamentos aumentaram 29% (em 2016), os assassinatos no campo registraram o segundo maior índice em 25 anos (61 homicídios em 2016) e apenas neste ano massacres como os de Colniza/MS (9 mortos) e Pau D' Arco/PA (10 mortos) levaram o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos a alertar o Brasil para o risco de uma escalada de violência no campo.

O atual governo dá claros sinais de subserviência aos interesses da parcela do agronegócio que deseja flexibilizar o licenciamento ambiental, interferir nas decisões sobre novas reservas ambientais ou demarcações indígenas (mudando a Constituição de 1988), entre outras medidas desastradas. A julgar pelos protestos ocorridos na Noruega durante a passagem da delegação brasileira por lá, o governo Temer não é mal visto apenas por aqui.

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