18 Mai 2017
O líder da Igreja católica e a presidenta da Associação Mães da Praça de Maio mantiveram, no começo do mês, uma troca de correspondência que foi divulgada nesta terça-feira após a abertura de um processo por suposto desvio de dinheiro público do programa Sonhos Compartilhados (para a construção de casas populares). Outras mães também manifestaram apoio.
A reportagem é publicada por Página/12, 17-05-2017. A tradução é de André Langer.
“Diante da dor de uma mãe que perde os seus filhos de uma maneira tão cruel e violenta sinto um profundo respeito e a necessidade de acompanhá-la com minha proximidade e oração. Somente ela sabe o que é esse sofrimento”. Com essa frase, o Papa Francisco enviou uma mensagem de apoio a Hebe de Bonafini. A troca de correspondência com Francisco foi divulgada na terça-feira pela presidenta das Mães da Praça de Maio, após ser indiciada na segunda-feira junto com outras integrantes de sua associação na causa Sonhos Compartilhados. Na primeira carta, Bonafini pediu ao Papa para que visite a Argentina: “Sei que você pensa que se vier faz um favor ao Pastor Mauricio. Eu lhe peço que pense no bem que faria a milhões se viesse”.
Pouco antes de completar os 40 anos das históricas marchas das quintas-feiras, Hebe de Bonafini escreveu a Jorge Bergoglio. “Todos precisam da sua ajuda. Estamos passando por um momento muito difícil, o país parece uma montanha que desmorona com um terremoto”, contou-lhe Hebe na carta de 14 de abril. No dia 30 desse mesmo mês, as Mães da Praça de Maio completariam “40 anos de luta sem faltar uma só quinta-feira na Praça”. Nessa mesma carta, Hebe destacou que a associação construiu “uma ponte indestrutível entre os nossos filhos e as novas gerações que levaram a Pátria a sério”. “As Mães morrem tranquilas, porque a luta e a defesa da vida estão nas melhores mãos: a juventude, que está comprometida com a luta pelos outros e para os outros. Francisco, peço-lhe que no dia 30 não se esqueça de nós, que peça ao Tatita Deus que não nos abandone. Despeço-me com um forte abraço e um ‘venha, que é importante’, concluiu Bonafini, que acrescentou um P.S. no qual se referiu de maneira irônica ao “Pastor Mauricio”.
Três semanas mais tarde, no dia 05 de maio, Bergoglio reiterou seu apoio e relembrou o encontro que tiveram no Vaticano no mesmo mês do ano passado. “Agradeço-lhe pelo que me disse na carta e gostaria de reiterar o que disse tantas vezes e lhe falei isso quando esteve no Vaticano: diante da dor de uma mãe que perde os seus filhos de maneira tão cruel e violenta sinto um profundo respeito e a necessidade de acompanhá-la com minha proximidade e oração. Somente ela sabe o que é esse sofrimento”.
Sobre a visita, Francisco foi vago: “Ainda não há nada definido sobre a minha viagem à Argentina. Tenho em conta as suas palavras”. No final, fechou com seu clássico pedido: “Por favor, não se esqueça de rezar por mim. Que Jesus a abençoe e Nossa Senhora a proteja”.
Paralelamente à divulgação dessas cartas, as integrantes da Associação Mães da Praça de Maio divulgaram um vídeo para apoiar Bonafini diante do indiciamento feito pelo juiz Martínez De Giorgi: “Todas as Mães colocam a mão no fogo pela honorabilidade de Hebe”, disseram. Sentadas em uma mesa, com seus lenços brancos na cabeça, Visitación de Loyola, Mercedes de Merino, Josefa de Fiore, Evel de Petrini, Elsa de Manzotti e Claudia de San Martín manifestaram seu apoio incondicional a Bonafini. “Eu estou muito orgulhosa da presidenta que temos; ela sempre foi fiel, é completamente sincera, disse as coisas como são e a amamos com toda a alma”, definiu Visitación de Loyola. Mercedes de Merino acrescentou que Bonafini representa todas as Mães e disse: “Vamos acompanhá-la até as últimas consequências. Ela nos representa, gostamos dela e estamos certas da pessoa que é”.
Josefina de Fiore, por sua vez, disse que “graças a Hebe estamos onde estamos, graças a essa cabeça que ela sempre teve”. A última a falar foi Evel de Petrini, que, sem nomeá-los, assinalou como “vigaristas, traidores e sem-vergonha” os irmãos de Pablo e Sergio Schoklender, também indiciados na causa Sonhos Compartilhados. “Também nós confiamos nessas pessoas, nessa porcaria de pessoas. Nós os defendemos, brigamos muitas vezes para defendê-los”, acrescentou.
Por último, Petrini insistiu em que estão “seguras e confiantes em relação ao que Hebe de Bonafini faz e diz” e desafiou a Justiça para que encontre alguma evidência de enriquecimento: “Podem revirar tudo de ponta a cabeça, buscar em cima, embaixo, no centro, no lado e ela vai continuar mantendo sua casinha, seu lugar e sua integridade”, afirmou. “Todas as Mães somos Hebe”, concluiu.
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“Sinto a necessidade de acompanhá-la”. O Papa Francisco enviou uma mensagem de apoio a Hebe de Bonafini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU