Por: João Flores da Cunha | 07 Março 2017
Milhares de pessoas foram às ruas do Peru no dia 4-03 para protestar contra a inclusão de temáticas de gênero no currículo da educação básica no país. Sob o lema “não se meta com meus filhos”, setores conservadores da sociedade marcharam contra o que chamam de “ideologia de gênero”.
Houve atos na capital Lima e em cidades do interior do país. As marchas tiveram o apoio de setores religiosos e de congressistas peruanos. “Não se meta com meus filhos” é também o nome do coletivo formado por esses grupos conservadores.
O protesto é contra o Currículo Nacional da Educação Básica, que estabelece as diretrizes para a educação básica do país. O documento foi aprovado em maio de 2016, ainda no governo do presidente Ollanta Humala. Nele, “igualdade de gênero” consta como um princípio educativo, ao lado de termos como “ética”, “democracia” e “consciência ambiental”.
A inclusão da temática de gênero provocou a reação conservadora. Para os grupos responsáveis pelo protesto, o novo currículo representa uma doutrinação dos alunos, e deveria ser revogado pelo governo do presidente Pedro Pablo Kuczynski.
A ministra da Educação, Marilú Martens, vem defendendo publicamente os princípios educativos que constam no projeto educacional. “O Currículo Nacional promove a igualdade de gênero entre homens e mulheres”, segundo ela. Frente aos críticos do plano curricular, que dizem que ele promove a homossexualidade, a ministra afirmou que “a homossexualidade não se ensina, mas o ódio e a discriminação sim”.
Ela denuncia uma campanha de desinformação, em que circulam pelas redes sociais documentos apócrifos como se constassem do currículo nacional. “Preocupa-nos que os pais estejam atemorizados por algo que não existe”, disse à imprensa local. Martens convidou os opositores da iniciativa a visitar o sítio do Ministério da Educação peruano e ler o documento. “O que se promove no currículo nacional é igualdade e respeito para todos”, afirmou.
#IgualdadYRespetoParaTodos "Me comprometo a trabajar por formar al peruano que todos queremos", ministra Martens https://t.co/SzmtkaAZSz
— MineduPerú (@MineduPeru) 5 de março de 2017
A iniciativa do governo peruano foi saudada por uma representação da Organização das Nações Unidas – ONU no Peru, que deu seu respaldo à “aprovação de políticas públicas que protegem e promovem a igualdade de gênero e os direitos humanos como uma estratégia essencial para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa para todos e todas”. A nota é do Sistema das Nações Unidas no Peru.
Segundo o órgão, “nos últimos anos, o Estado peruano deu demonstrações de seu compromisso” com o tema da igualdade de gênero, aprovando “políticas orientadas a fortalecer o reconhecimento e o exercício dos direitos humanos, em particular daquelas pessoas que se encontram em situação de maior vulnerabilidade”. Esse “é o caso do Currículo Nacional de Educação Básica, que reconhece e promove os enfoques de gênero, direitos humanos e educação sexual integral nas escolas, a fim de que essa se consolide como um espaço livre de violência, promotor de relações baseadas nos valores de igualdade e respeito a todos os e as estudantes”, de acordo com a representação da ONU.
??Governo do Peru garante enfoque de igualdade de gênero e de não discriminação no currículo escolar. #8M #EscolaSemMachismo #Planeta5050 pic.twitter.com/meYXoigNYp
— ONU Mulheres Brasil (@ONUMulheresBR) 4 de março de 2017
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Peru. Milhares marcham contra ensino de gênero em escolas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU