08 Fevereiro 2017
“Surpreendentes, trágicas, indefensáveis”. Assim a Igreja católica da Austrália qualificou os números apresentados à Real Comissão antipedofilia, nesta segunda-feira, que revelam que, entre 1980 e 2015, quase 4.500 pessoas denunciaram abusos sexuais contra menores cometidos pelos 1.880 membros da Igreja. Isto significa 7% do clero de então, número que aumentou para mais de 15%, em algumas dioceses.
A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 06-02-2017. A tradução é do Cepat.
A comissão real encarregada de investigar a resposta oficial aos abusos sexuais contra menores na Austrália, a partir de 1950, tomará o depoimento de praticamente todos os bispos do país, em uma série de audiências públicas que durarão até o dia 27 de fevereiro.
No primeiro dia, a advogada encarregada dos interrogatórios da investigação, Gail Furness, disse, em Sydney, que reuniram um total de 4.444 denúncias e que estas apontam para centenas de religiosos, 93 deles ocupam altos cargos na Igreja, e atingem mais de mil instituições.
Os dados reunidos apontam que 78% dos denunciantes foram varões e 22% mulheres. Também revelam que a idade média das vítimas foi de 11,6 anos, no caso de meninos, e de 10,5 no caso de meninas, e que demoraram uma média de 33 anos para apresentar as denúncias, depois que foram cometidos os supostos abusos. “Das 1.880 pessoas identificadas como possíveis perpetradores, 597 eram irmãos religiosos, 572 eram sacerdotes, 543 eram leigos e 96 eram irmãs religiosas”, precisou Furness.
“Entre 1950 e 2010, 7% dos padres eram supostamente criminosos”, disse Gail Furness. Número que, acrescentou, aumentou em algumas dioceses para mais de 15% do clero.
“Os relatórios eram deprimentemente semelhantes. As crianças eram ignoradas ou, pior, punidas. As acusações não eram investigadas. Os padres e os (trabalhadores) religiosos eram transferidos”, acrescentou.
“As paróquias ou as comunidades para onde iam não sabiam de nada de seu passado. Os documentos não eram conservados ou eram destruídos”.
A Austrália encomendou a esta comissão, em 2012, e após uma década de crescente pressão, para que as acusações de abusos sexuais contra menores fossem investigadas em todo o país. Um estudo que agora chega a sua fase final, após quatro anos de audiências.
A comissão falou com milhares de sobreviventes e ouviu acusações de abusos sexuais contra menores ocorridos em igrejas, orfanatos, clubes esportivos, grupos juvenis e escolas.
A Igreja católica da Austrália encarregou o Conselho de Verdade, Justiça e Cura para que emitisse uma resposta.
“Estes números são surpreendentes, trágicos, indefensáveis”, disse à comissão o diretor executivo do conselho, Francis Sullivan.
O cardeal George Pell, agora ministro das Finanças do Vaticano, foi abordado na investigação da Real Comissão ao ser interrogado por suas relações com possíveis padres pedófilos no estado de Vitória, nos anos 1970.
Nesta segunda-feira, independente do trabalho da Comissão, a polícia vitoriana confirmou que continua com suas pesquisas sobre supostos abusos cometidos pelo purpurado em Ballarat, nos anos 1970, e Melbourne, nos anos 1990.
Referindo-se ao dossiê que a polícia reuniu com as declarações de vítimas e testemunhas de Pell, uma porta-voz afirmou que “os investigadores entregaram o caso à Promotoria para sua consideração”. Trata-se da segunda vez que a polícia encaminha este relatório ao Ministério Público, depois que os promotores decidiram deixar nas mãos da polícia a decisão de acusar ou não o cardeal.
O proceder da polícia vitoriana neste assunto não implica, no momento, que o Prefeito da Secretaria de Economia da Santa Sé seja culpado de crime algum, mas, sim, que as autoridades ainda consideram que há elementos suficientes para seguir com sua investigação. O purpurado negou todas as alegações contra ele, taxando-as em várias oportunidades como “sem fundamento e totalmente falsas”.
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Nos últimos sessenta anos, 7% do clero australiano se envolveram em casos de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU