18 Janeiro 2017
“O paradoxo está no fato de que aqueles que, aqui e agora, reivindicam contra o papa a própria liberdade de consciência, muitas vezes e desde sempre, pensaram e escreveram como se cada palavra de um papa não admitisse possibilidade de discordância, embora respeitoso e aberto ao diálogo.”
O comentário é de Gianni Gennari, teólogo e jornalista, em artigo publicado no jornal Avvenire, 17-01-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Alergia personalíssima sobre paradoxos opostos.
1) Leio páginas em que eminentes eclesiásticos “corrigem” o papa no orgulhoso nome da sua liberdade de consciência: “Ninguém nunca poderá me pedir para trair a minha consciência!”, “Nem mesmo o papa é infalível, e criticá-lo não é pecado!” (jornais Il Foglio, La Verità e outros). Em doutrina, correto, com a exceção do ex-cathedra, que aqui não tem nada a ver. Basta lembrar a Escritura, a grande teologia e o Vaticano II (Paulo, Tomás, Newman e a Dignitatis humanae).
O paradoxo está no fato de que aqueles que, aqui e agora, reivindicam contra o papa a própria liberdade de consciência, muitas vezes e desde sempre, pensaram e escreveram como se cada palavra de um papa não admitisse possibilidade de discordância, embora respeitoso e aberto ao diálogo.
Depois da Humanae vitae (1968), que, na sua conclusão específica, também encontrou a crítica de nada menos do que 49 Conferências Episcopais, eles foram ferocíssimos adversários de qualquer um que pusesse em discussão aquela conclusão, que até mesmo o Papa Paulo VI quisera explicitamente que não fosse coberta pelo caráter da infalibilidade.
Houve drásticas punições e marginalizações postas em prática também pelos mesmos que hoje gostariam de “corrigir” o papa. Vale a pena pensar a respeito.
2) Outro paradoxo, laico: a revista L’Espresso nas bancas, capa vermelha e grande chamada (ecoada nessa segunda-feira no jornal La Repubblica) para lançar um livro ainda a ser lido: “É assim que o Vaticano protege os padres pedófilos”. “O Vaticano”? Porém, todos registraram condenações e severidades – em particular com o Papa Bento e, depois, nos anos do Papa Francisco – contra os responsáveis de casos reconhecidos em todos os níveis e escolha evangélica sem sombras “do lado das vítimas”.
Mas, naquelas páginas-degustação, brinca-se com coisas citadas pela metade e vociferadas todas por inteiro, até à distorção. O que diriam essas mesmas páginas e esses mesmos ambientes se, sobre o tema da corrupção desenfreada – que é um fato –, uma fonte vaticana desse a manchete à queima-roupa e secamente: “O Estado italiano protege os corruptos”? Pensar a respeito pode ser útil a todos, quer sejam eminentes ou não.
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Paradoxos eminentes: a liberdade de consciência e as críticas ao papa. Artigo de Gianni Gennari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU