18 Novembro 2016
“Usar a liberdade que o Papa nos deu”. O cardeal Karl Lehmann encorajou com essas palavras os bispos alemães para não perder o momento oportuno para fazer reformas na Igreja, poucos dias antes da publicação da carta dos quatro cardeais ultraconservadores, que chantageiam Francisco para que esclareça as “confusões” que supostamente estão contidas na Amoris Laetitia.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 17-11-2016. A tradução é de André Langer.
“Francisco quer que exploremos novos caminhos. Às vezes, não é preciso esperar o tanque se colocar em movimento”. Em uma entrevista publicada no sítio alemão katholisch.de no dia 10 de novembro, Lehmann referiu-se dessa maneira aos desafios que a Igreja católica enfrenta atualmente – como as relações com outras denominações ou a falta tanto de fiéis como de sacerdotes – e a lentidão da cúria e de outros setores da Igreja, para enfrentá-los.
O atual bispo de Mainz – ex-presidente dos bispos alemães durante 20 anos – não economizou palavras ao definir o que está em jogo para todas as Igrejas, caso não se adaptarem rapidamente à sociedade do século XXI. Sobre a falta de fiéis e de vocações que atinge todas as denominações, o cardeal foi taxativo: “Todas as confissões estão com a água no pescoço e não têm uma eternidade”.
Diante destas crises que afetam a comunidade católica, o cardeal Lehmann encorajou os bispos alemães – como parte da exploração de novos caminhos pela qual Francisco clama – para que busquem soluções criativas, como a abertura do sacerdócio a pessoas que não sejam varões celibatários.
“O que nos impede de ordenar (sacerdotes) os diáconos permanentes – aqueles que prestam um grande serviço à Igreja – para que possam assumir os deveres sacerdotais?”, perguntou o bispo alemão.
Quem parece estar levando a sério a chamada a um maior grau de abertura, hospitalidade e envolvimento social por parte da Igreja, muito na linha tanto de Francisco como do cardeal Lehmann, é o cardeal Rainer Maria Woelki, arcebispo de Colônia.
No ato de bênção de um novo complexo residencial para refugiados na segunda-feira, Woelki reclamou uma “nova política imigratória” europeia que facilite a entrada legal de mais imigrantes e que acabe com os traficantes de pessoas que converteram o Mediterrâneo em um “Mar dos Mortos”.
Woelki fez estas declarações durante a inauguração do refúgio de São Pantaleão, um complexo de cerca de 1.500 metros quadrados que abrigará 22 famílias deslocadas e mais outros 25 menores refugiados. De acordo com dados oficiais, a Arquidiocese gastou cerca de 2,5 milhões de euros neste novo projeto solidário.
“Desde o fim do desastre da Segunda Guerra Mundial não houve tantas pessoas que estivessem em fuga como agora”, explicou o cardeal Woelki no ato, segundo informa o sítio express.de. “Elas fogem da guerra e da violência, da perseguição política e religiosa, da violência sexual, da escravidão. Fogem da fome e da sede”, acrescentou.
Em julho de 2014, Woelki substituiu à frente da Arquidiocese de Colônia o cardeal Joachim Meisner, um dos quatro cardeais que apresentaram uma lista de cinco dubia ao Papa Francisco sobre o conteúdo da Amoris Laetitia.
Em maio deste ano o atual arcebispo da cidade celebrou a missa de Corpus Christi em um altar que foi construído com uma barca na qual cerca de 100 pessoas chegaram à Europa. “Quem permite que as pessoas se afoguem no Mediterrâneo permite que Deus se afogue”, disse Woelki naquela ocasião.
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O cardeal Lehmann encoraja os bispos alemães para “usar a liberdade dada pelo Papa” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU