12 Mai 2016
Ele é bispo de Mainz, na Alemanha, desde 1983. No seu 80º aniversário, o cardeal Karl Lehmann espera ser liberado dos seus compromissos oficiais. Nesta entrevista, ele fala dos momentos de destaque e dos momentos críticos do período em que foi bispo e da sua posição em relação ao diaconato feminino.
A reportagem é do sítio do jornal Frankfurter Rundschau, 05-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Lehmann tem uma posição favorável ao diaconato feminino. "Infelizmente, há muito tempo, Roma evita tomar uma decisão sobre um diaconato permanente das mulheres", disse o bispo de Mainz, perto de renunciar. Para um presbiterado das mulheres, porém, ele não vê qualquer possibilidade na Igreja Católica. Para as Igrejas locais, ele considera sensata uma maior autonomia. "O papa não faz tudo sozinho."
Lehmann, que também é membro honorário do clube do time de futebol de Mainz, está convencido de que a Igreja e o mundo do futebol podem aprender mutuamente. No dia 16 de maio, o cardeal Lehmann vai completar 80 e pediu ao Papa Francisco para poder interromper o seu serviço como bispo. A diocese tem poucas dúvidas sobre o fato de que o papa vai acolher o pedido.
Eis a entrevista.
Quais foram os momentos de destaques do período em que o senhor foi bispo de Mainz, desde 1983? Houve também momentos críticos?
Há momentos de destaque e momentos críticos muito diferentes. Visto de fora, um momento destaque certamente foi o Katholikentag [um congresso público dos leigos católicos alemães] de 1998 [150 anos depois do primeiro congresso e 50 anos depois do primeiro Katholikentag do pós-guerra], mas também os grandes jubileus, especialmente os 1.000 anos da catedral de Mainz. Eventos particularmente significativos também foram todas as celebrações de consagração e de envio à missão dos jovens, sejam elas feitas pela primeira vez, sejam renovadas: a Igreja continua jovem! Aspectos críticos foram os casos de abuso sexual, mas também as consequências dos escândalos de Limburg, que causaram a saída de muitas pessoas da Igreja. Muitos dos nossos passos em falso também estão na base dessa rejeição!
O que o senhor espera nos próximos anos do Papa Francisco? Ele vai abrir aos católicos outros espaços de liberdade, como agora com os temas do casamento e da família?
Acima de tudo, espero e rezo para que o Papa Francisco permaneça por muito tempo entre nós. Espero que ele encontre o tempo para tomar as decisões certas relativas aos responsáveis – em Roma, entre nós e em todo o mundo. Em relação ao restante, eu não me importo. Talvez, graças à sua ideia, que ele expressa muito frequentemente, de que a Igreja está organizada sinodalmente, ele também vai encontrar formas de maior autonomia para as Igrejas locais, sem pôr em perigo, por causa disso, a unidade da Igreja universal hoje tão importante. Nisso, nós também somos interpelados. O papa não faz tudo sozinho.
Como o senhor vê o desenvolvimento futuro do papel das mulheres para cargos de tipo presbiteral na Igreja?
Não posso limitar isso aos cargos presbiterais. Quando eu ainda era estudante, nos anos 1950, havia muito poucas mulheres na faculdade de teologia. Hoje, praticamente não há mais nenhuma faculdade teológica sem ao menos uma professora titular em uma matéria principal. Nas nossas dioceses, há mulheres que dirigem escritórios pastorais ou instituições importantes, como escolas inferiores e superiores. A Conferência Episcopal lançou recentemente um programa de cinco anos para uma maior consideração das mulheres em posições diretivas.
Em Mainz, temos uma clínica nossa com muitas mulheres médicas, mais do que em muitas clínicas seculares. Nisso, estamos bem representados. Há mulheres que desempenham cargos pastorais e espirituais como representantes pastorais, como representantes de comunidade. Infelizmente, há muito tempo, Roma evita tomar uma decisão sobre o diaconato permanente das mulheres. Para ser sincero, não vejo nenhuma possibilidade na nossa Igreja para um presbiterado das mulheres. Mas, como também mostra essa pequena visão de conjunto, não devemos nos fixar apenas nesse problema e considerá-lo como o único critério para uma melhor aceitação da mulher. Em uma antropologia aprofundada, também está em jogo uma visão diferenciada da relação entre homem e mulher.
Que perspectivas o senhor vê na Igreja no que diz respeito ao ecumenismo? O compromisso com os refugiados tem um peso nisso?
Nos últimos 50 anos, demos muitos passos no trabalho ecumênico. Devemos fazer uma pausa para não esquecer o que foi obtido e dirigir um olhar sério para as tarefas que ainda restam. Elas dizem respeito fundamentalmente ao âmbito da Igreja e dos cargos e serviços. Na crise dos refugiados, todas as Igrejas estão fazendo muito. Isso certamente vai nos aproximar, também em relação às outras questões, mas, sobre os problemas ecumênicos de fundo, isso tem uma influência apenas indireta.
O senhor sempre olhou com simpatia para o entusiasmo das pessoas em relação ao futebol. Também é membro honorário do time de Mainz (Mainz 05). A Igreja pode aprender com o mundo do futebol ou vice-versa?
Todos podemos aprender uns com os outros. A Igreja pode aprender do futebol: presença de espírito e capacidade de aproveitar as oportunidades. O futebol pode aprender da Igreja: correção e atenção aos outros, especialmente aos mais frágeis.
O senhor já fez planos para a sua aposentadoria? Vai escrever mais livros?
Agora eu não faço projetos. Estou feliz por poder me sentir livre da maioria das obrigações. Mas, certamente, vou continuar trabalhando no âmbito da teologia, da filosofia e do ecumenismo, enquanto eu tiver forças. Talvez eu até escreva livros. Mas só vou falar deles quando eu os tiver escrito! Não quero sofrer pressão. Já degusto a oportunidade de viver "slow"... dar tempo ao tempo!
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"O papa não faz tudo sozinho." Entrevista com Karl Lehmann - Instituto Humanitas Unisinos - IHU