14 Outubro 2016
O chefe de Estado da Colômbia recebeu, na quarta-feira, 14 representantes de vítimas que lhe entregaram um documento com observações sobre o acordo com as FARC, entre elas que se saiba a verdade sobre os desaparecidos.
A reportagem é publicada por Página/12, 13-10-2106. A tradução é de André Langer.
O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, comprometeu-se com um grupo de vítimas a exigir das FARC que devolvam os corpos das pessoas desaparecidas durante o conflito armado. Por outro lado, na quarta-feira, o líder máximo das FARC, Rodrigo Londoño, mostrou-se otimista em relação ao futuro do acordo de paz com o governo colombiano, mas considerou uma grosseria a discussão sobre o tema da justiça transicional.
“Juan Manuel Santos comprometeu-se pessoalmente a pedir à guerrilha a devolução das pessoas que desapareceram em consequência da violência”, disse a jornalistas a diretora da Fundação Vítimas Visíveis, Diana Sofía Giraldo. O governo colombiano e as FARC assinaram em 26 de setembro passado em Cartagena um acordo de paz após quase quatro anos de negociações em Havana. O mesmo tratou de ser referendado no dia 02 de outubro em um plebiscito, mas a opção de “Não” apoiar o texto final ganhou com 50,21% dos votos. Portanto, o fim do conflito de mais de 52 anos entre o Estado e a guerrilha mergulhou na incerteza e levou o presidente Santos a entabular um diálogo com a oposição para destravar o processo.
“Há um compromisso com pessoas com nome próprio e agradecemos que haja agora uma interlocução direta com as vítimas das FARC”, disse Giraldo ao término da reunião com Santos. O chefe de Estado recebeu, na quarta-feira, na Casa de Nariño, sede do Executivo, 14 representantes de vítimas que lhe entregaram um documento com observações sobre o acordo com as FARC, entre elas que se conheça a verdade sobre os desaparecidos, precisou a líder. Segundo o informe “Já basta”, do Centro Nacional de Memória Histórica, o conflito deixou pelo menos 220 mil mortos, sete milhões de deslocados, mais de 25 mil desaparecidos e mais de 27 mil sequestrados, crimes em grande parte cometidos pelas FARC.
Por outro lado, em uma entrevista à Rádio Caracol, Londoño, conhecido como Timochenko, assegurou: “Estamos trabalhando, ouvindo diferentes setores, buscando alternativas e logo podem surgir notícias muito positivas. Sinto muita tranquilidade”. No entanto, precisou: “Seria uma grosseria ter de fazer novamente uma discussão que tomou mais de um ano e meio, que foi uma das discussões mais difíceis em que se acolheram as opiniões de muitas pessoas, de muitas organizações, em especial das organizações de vítimas”.
O número um das FARC reiterou, além disso, a vontade que têm para encontrar as pessoas que morreram enquanto estavam sequestradas por essa guerrilha. “Desde há muito tempo se vem implementando com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (para buscar) as pessoas que se acredita que desapareceram em nossas mãos”, disse Timochenko.
O comissionado da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al Husein, assinalou no meio da semana em Genebra, que a Colômbia enfrenta uma situação extremamente complicada após a rejeição no plebiscito do acordo de paz alcançado pelo governo e a guerrilha das FARC, cuja renegociação agora parece incerta. “Não sabemos em que medida podemos agora ter uma reconstrução das partes (do acordo) que foram as mais difíceis para a oposição e para o ex-presidente Álvaro Uribe (que defendeu o “Não” no plebiscito)”, declarou a um grupo de jornalistas.
Londoño disse que as FARC continuarão a respeitar o cessar-fogo bilateral, que está em vigor desde agosto e que está seguro de que o acordo de paz terminará sendo implementado, porque sua organização não voltará à luta armada. O chefe das FARC admitiu que pensa que foi bom que o “Não” tivesse ganhado no plebiscito, pois esse cenário político permitiu ao governo fazer uma pedagogia melhor sobre o pacto, sobre o qual, disse: “Há muita desinformação”. “Penso, pessoalmente, que foi até bom que isso tivesse acontecido, porque permite que muitas dúvidas sejam esclarecidas e em especial está comprometendo esse importante setor do povo colombiano que não votou, mais de 63% dos eleitores aptos a votar, a interessar-se por este fato histórico”, acrescentou.
Segundo Londoño, as FARC estão fazendo uma “autocrítica” porque durante a negociação, que se estendeu de novembro de 2012 até agosto passado, poderia ter havido uma maior participação de setores políticos e sociais. Apesar das dificuldades, comentou que o acordo já está sendo implementado, pois a missão das Nações Unidas (ONU) encarregada de monitorar o cessar-fogo e as fases de desmobilização e desarmamento estão em andamento. “O cessar-fogo vem sendo respeitado. Nenhum morto, nenhum ferido. É isso que queremos: solucionar as diferenças sem mortos”, disse Londoño, após indicar que para solucionar a dificuldade em que ficou o acordo é preciso dar tempo ao tempo. Não obstante, disse que o tempo deve ser curto, pois há setores políticos que querem que o processo de paz naufrague procurando dilatar os prazos da implementação do acordo.
Londoño insistiu em que o acordo já está assinado e tem sustentação jurídica e que o problema após o plebiscito é mais de tipo político para o governo. Também celebrou que a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) tenha aberto as negociações formais com o governo colombiano para o dia 27 de outubro próximo em Quito, no Equador.
Entre as alternativas que estão sendo estudadas para aprovar finalmente o acordo de paz do governo e das FARC considera-se a possibilidade de que o Congresso, onde a situação tem maioria, crie leis para implementá-lo ou a convocação de uma Assembleia Constituinte. Consultado Londoño sobre a possibilidade de que se reúna com os ex-presidentes Uribe e Andrés Pastrana, ferrenhos críticos do processo de paz e líderes do “Não” no plebiscito, disse que não recebeu nenhum pedido a este respeito.
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As FARC ratificaram o acordo de paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU