12 Outubro 2016
Em dezembro de 2015, o padre John Walshe defendeu o cardeal George Pell perante a Real Comissão sobre as Respostas Institucionais ao Abuso Sexual Infantil da Austrália. Agora, Walshe acaba de ser inabilitado para a celebração dos sacramentos na Irlanda, para onde fugiu após tornar-se público o seu caso, acusado de abusos sexuais.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 11-10-2016. A tradução é de André Langer.
A agência de notícias Fairfax Media informou no domingo que o bispo de Cork e Ross, John Buckley, negou o pedido de Walshe para trabalhar em sua diocese. A decisão se dá depois que um membro do Conselho Nacional para a Proteção de Menores da Igreja irlandesa recebesse um aviso anônimo sobre o histórico de Walshe na Austrália e informasse sobre isso, por sua vez, o bispo Buckley.
Em dezembro do ano passado, Walshe testemunhou perante a Real Comissão a respeito de um telefonema recebido pelo cardeal Pell no qual o cardeal supostamente teria dito a uma vítima de abusos sexuais cometidos por um padre: “Quero saber o que lhe falta para ficar calado”. Essa vítima, David Ridsdale, foi sobrinho de um padre pederasta com quem Pell morava em uma casa paroquial no povoado de Ballarat na década de 70. Em 1993, telefonou para o cardeal Pell para denunciar os abusos que sofreu nas mãos do seu tio, mas em vez de apoiá-lo, o prelado lhe teria insinuado que a Igreja poderia ajudá-lo com a compra de um carro novo ou uma casa para a sua família.
Ridsdale testemunhou perante a Real Comissão que Pell foi ficando enfurecido durante o telefonema. Walshe, ao contrário, negou esta tese, assegurando que viu o hoje cardeal “pálido” e “cabisbaixo”. O testemunho de Walshe fez água, pois não só acabou reconhecendo que o telefonema aconteceu durante o dia – e não à noite, como havia recordado –, mas que sequer pôde provar que naquele dia esteve na casa paroquial que compartilhava com Pell. Houve tantas dúvidas que um advogado da Comissão acabou acusando Walshe de ter “fabricado aspectos da sua declaração para salvar o seu bom amigo”.
Dias depois do seu testemunho, veio à tona que Walshe abusou de um seminarista de 18 anos. John Roach decidiu falar publicamente dos assaltos que sofreu para denunciar que Walshe se apresentou, na Real Comissão, “como um exemplo de virtude”.
No que diz respeito a Pell, disse, “Walshe é uma testemunha parcial”. Em declarações ao canal ABC Roac se queixou de que o cardeal Pell sabia que Walshe tinha abusado dele e não fez nada a este respeito. “Durante a entrevista [para que fosse readmitido ao seminário]... disse [a Pell, na época reitor] que uma das principais razões pelas quais tinha deixado o seminário foi que tinha sido acusado por um padre”, disse Roach. “Ele me perguntou: ‘Você pode me dizer quem era o padre?’ E lhe disse: ‘Sim, é o padre John Walshe’. E ele me disse: “De acordo’”.
Roach recebeu uma compensação de 75 mil dólares por seu sofrimento, mas ao tratar-se de um adulto Walshe não foi afastado do sacerdócio. Após tornar-se insustentável a permanência em sua paróquia de Mentone-Pakdale, Walshe refugiou-se na Irlanda, país em que os sacerdotes não teriam “nenhuma queixa, denúncia nem alegação” contra ele para o exercício do serviço sacerdotal, de acordo com as pautas estabelecidas pelo Conselho Nacional para a Proteção de Menores.
Segundo informação obtida pelo Religión Digital, após ser negado a ele a licença para celebrar na Irlanda, Walshe acaba de retornar à Austrália, onde pretende voltar aos seus trabalhos como pároco de Mentone-Pakdale. De acordo com o Fairfax Media, alguns pais das escolas paroquiais pediram às autoridades para que impeçam Walshe de trabalhar com seus filhos. “Se isto fosse uma creche privada, teria sido fechada”, disse Andrew Pope, porta-voz do comitê de pais. “Mas, é a Igreja católica, e aqui estamos: eles não entendem estes conceitos tão básicos”.
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O sacerdote que defendeu Pell na Austrália é suspenso após ser acusado de abusos na Irlanda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU