23 Setembro 2016
Cresce a tensão entre o Papa Francisco e o cardeal Müller depois da renúncia de Claudio Papale como membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores.
A reportagem é de Cameron Doody e publicada por Religión Digital, 22-09-2016. A tradução é de André Langer.
A renúncia, revelada na segunda-feira pela Marie Collins, foi confirmada pela coordenadora de projetos e meios de comunicação da Comissão, Emer McCarthy, ao National Catholic Reporter. De acordo com ela, Papale deixou a comissão por “razões pessoais”.
“A Comissão não vê a necessidade de mais comentários por respeito à sua intimidade [a de Papale]”, limitou-se a dizer McCarthy. No momento, Papale negou dar mais explicações. Fontes consultadas por Religión Digital, no entanto, assinalam que a saída de Papale está relacionada à oposição da Congregação para a Doutrina da Fé de implementar as reformas que Francisco quer no que se refere à proteção de menores.
O dicastério presidido por Müller já se negou em 2015 a criar um tribunal especial – como propôs a Comissão – para julgar os bispos acusados de negligência na gestão de casos de pederastia.
O National Catholic Reporter inclui uma entrevista com Marie Collins – membro leiga da Comissão e sobrevivente de abusos – que lamenta, precisamente, a falta de um tribunal para bispos que ocultam casos de abusos sexuais dentro da Congregação para a Doutrina da Fé. “Eu fiquei bastante decepcionada com o tribunal voltado à responsabilização”, disse Collins. “Depois que foi anunciado no ano passado, fiquei bem ansiosa com a ideia e, em seguida, quando vi que ela não foi adiante, me desanimei”, revela.
Apesar de tudo, Collins mantém suas esperanças em relação ao futuro da Comissão. Ela acredita que os processos finalmente adotados em junho por Francisco no seu Motu Proprio Como uma mãe amorosa “são mais amplos” que aqueles que acompanharam a criação de um tribunal especial. Mesmo assim, está preocupada com o fato de que a Comissão não tenha o poder de impor sua colocação em prática nos dicastérios competentes.
“É uma área... que é uma preocupação para mim, no sentido de que não temos competência de nenhum tipo para examinar a implementação [das reformas]”, confessa Collins a este respeito. “gostaria que tivéssemos mais autoridade para avaliar realmente como as coisas estarão sendo implementadas”, disse.
O trabalho da Comissão avança em bom ritmo. Não obstante, a saída de Papale da comissão soma-se à efetiva retirada de Peter Saunders, outro membro da Comissão, ao qual se impôs uma “licença” do seu trabalho, em fevereiro. A perda destes dois membros do grupo anti-abusos de Francisco demonstra as resistências na cúria para conseguir uma autêntica reforma anti-pedofilia na Igreja.
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Outra saída da Comissão Anti-Abusos evidencia a “guerra fria” entre Francisco e Müller - Instituto Humanitas Unisinos - IHU