16 Setembro 2016
“Abrimos uma investigação por indução ao suicídio”, declarou nesta quarta-feira o chefe do Ministério Público do Norte de Nápoles, Francesco Greco, em referência à morte de T. C., uma napolitana de 31 anos. A mulher se suicidou na terça-feira da semana passada, após passar mais de um ano sendo alvo de insultos e ironias por causa de um vídeo sexual que seu ex-namorado compartilhou no Whatsapp e que foi posteriormente reproduzido em vários sites e redes sociais.
A reportagem é de Jaime Rubio Hancock, publicada por El País, 15-09-2016.
Foto: Reprodução do Facebook
Muitos desses insultos eram por causa de uma frase que ela dizia no vídeo: “Está gravando um vídeo? Bravo”. A frase inspirou memes, camisetas, grupos no Facebook e piadas no Twitter.
Algumas televisões locais também ironizaram o caso, saindo à rua para perguntar pela moça e pela frase. O grupo musical supostamente cômico Tapandos lhe dedicou uma canção num vídeo divulgado em maio de 2015 que superou as 130.000 exibições só no YouTube. E não é a única paródia. Até jogadores de futebol como Paolo Cannavaro e Antonio Floro Flores fizeram brincadeiras à custa dela em outro vídeo (que já foi apagado), no qual a frase era repetida dentro de um supermercado. A zoeira continuou mesmo depois da morte, como no caso de um jovem de Salerno que precisou se desculpar por um comentário sobre o suicídio dela, depois da contundente resposta contrária e da denúncia de uma jornalista e blogueira.
T.C. era insultada tanto nas ruas quanto no seu mural do Facebook, segundo o Corriere della Sera. Uma amiga dela disse a esse jornal que a jovem estava “destroçada” e “não tinha feito nada de errado”.
Por causa do assédio, a jovem tinha se mudado de Nápoles para a Toscana e iniciara trâmites para trocar de nome. Além disso, havia movido ações contra Google, YouTube, Yahoo e Facebook, exigindo o seu direito ao esquecimento. Já em 2015 conseguira que o vídeo não aparecesse mais nos buscadores, mas continuava aparecendo com outros títulos e menções. De fato, a busca por "Stai facendo il vídeo? Bravo” continua dando mais de 200.000 resultados no Google.
O julgamento terminou na semana passada, quando foi ordenada a retirada dos vídeos e dos comentários. Entretanto, como relata a agência Efe, a mesma sentença também considerou que a mulher consentiu com as gravações, e que por isso seria condenada a pagar 20.000 euros (75.000 reais) a cinco sites por custas processuais.
Segundo a imprensa italiana, os familiares consideram que a obrigação de pagar a esses sites que contribuíram para o assédio foi o estopim do suicídio, que ela já havia tentado anteriormente por causa desses fatos. “Minha sobrinha foi assassinada pela Internet e pela indiferença de muitos", disse uma das tias do T. C. à Efe.
No Twitter, aparecem desde quarta-feira comentários que recordam o machismo que há por trás deste caso. Também se falou sobre a responsabilidade de todos os que riram da frase e do vídeo. E houve menções à dupla moral que usamos para julgar homens e mulheres em questões de sexo. De fato, muitos veículos publicam nome e a foto dela, mas mal se fala do protagonista masculino do vídeo. Seu nome nem sequer ficou famoso.
O caso de T. C. não é único: uma jovem norte-americana de 18 anos se suicidou em 2008 depois que seu namorado divulgou fotos que ela lhe enviara. Em 2009, o mesmo aconteceu com outra norte-americana de 13 anos. Uma canadense de 15 anos se matou em 2012 depois de gravar um vídeo no qual contava o assédio que sofrera devido a uma foto, e apesar de ter mudado várias vezes de colégio.
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Italiana se mata após assédio nas redes por causa de vídeo sexual espalhado por ex-namorado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU