13 Setembro 2016
“É a economia, idiota” era o conselho dado por James Carville quando atuou como estrategista da campanha presidencial em 1992 de Bill Clinton. Apesar de toda a polêmica em torno do que Donald Trump possa dizer a cada semana ou o que os e-mails de Hillary Clinton possam relevar, a maioria dos americanos está mais preocupada com aquilo que o futuro presidente fará para melhorar a economia e criar novos postos de trabalho.
A reportagem é de Thomas Reese, publicada por National Catholic Reporter, 08-09-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Durante esta campanha, os temas econômicos mais discutidos foram imigração, acordos comerciais e os impactos no mundo do trabalho. Será que o próximo presidente poderá fazer alguma diferença?
Apesar de todo o debate sobre assuntos econômicos, os presidentes não têm grande poder com respeito à economia, especialmente se não contam com o Congresso ao seu lado para cooperar.
No primeiro dia de trabalho, os presidentes herdam uma economia que pode estar numa ascendente ou não. Eles também herdam uma dívida nacional, a qual não podem fazer desaparecer, apesar da disposição de Trump em usar os Tribunais de Falência para proteger os seus ativos. No orçamento federal, existem compromissos como pagamentos de juros, direitos adquiridos (p.ex., previdência social, assistência médica) e outros, que não podem ser alterados sem a cooperação do Congresso, independentemente de quem for eleito. Politicamente, é quase impossível fazer outra coisa para além de pequenos incrementos nos gastos ou impostos federais.
O presidente Obama, por exemplo, foi eleito presidente durante a pior recessão desde a Grande Depressão. Durante uma recessão, a teoria econômica tradicional recomenda que o governo federal administre os déficits empregando o dinheiro em infraestrutura e outros programas que estimulam a demanda e criam empregos. Mas visto que o governo Bush não conseguiu administrar os excedentes, conforme recomenda a teoria econômica em épocas de vacas gordas, a capacidade do governo Obama de estimular a economia através de gastos ficou limitada. O governo Bush foi à guerra, reduziu impostos e expandiu os direitos, tudo ao mesmo tempo, em vez de administrar os excedentes. Consequentemente, o país não estava pronto para gastos maiores, assim a recuperação foi mais lenta do que deveria ter sido, especialmente porque Obama teve pouca cooperação dos republicanos no Congresso.
A recuperação vem sendo particularmente difícil com os empregos de colarinho azul no setor da construção civil e nas fábricas. A bolha imobiliária estourou, deixando pessoas com hipotecas que não podiam pagar, as quais por vezes excediam o valor corrente de suas casas. Tanto os proprietários como os bancos sofreram, e os bancos acautelaram-se na hora de fazer novos empréstimos. O resultado foi uma menor criação de empregos.
As fábricas que mal estavam sobrevivendo à competição estrangeira quando o momento era próspero tiveram de fechar por causa da diminuição da demanda durante a recessão. Estes empregos não iriam voltar. É verdade, cargos de alto valor existem, porém eles absorvem um número menor de pessoas, que devem ter qualificações elevadas.
Trump coloca a culpa da falta de emprego na imigração e em acordos comerciais como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio – NAFTA e a Parceria Transpacífico – TPP. Hillary Clinton também é crítica destes acordos comerciais que, no passado, ela havia apoiado. No entanto, ainda defende uma reforma imigratória abrangente.
Para a Doutrina Social da Igreja, a imigração não é apenas uma questão econômica, é também uma questão humanitária que afeta pessoas e famílias. Neste artigo, deixarei isso de lado e olharei apenas o lado econômico.
Os que apoiam a imigração observam que aquelas pessoas que entram no país com níveis altos de qualificação ajudam, na verdade, a criar novos empregos em lugar de tirá-los de quem já mora aqui.
Esta prática é boa para a economia americana, dizem. Por outro lado, as pessoas com baixa qualificação estão tirando os empregos que os americanos não estão dispostos a ocupar.
Os críticos afirmam que a imigração rebaixa os salários. O motivo pelo qual os americanos não estão dispostos a atuarem em empregos de baixa qualificação é que eles pagam baixos salários. Sem imigração, os empregadores estariam forçados a aumentar os salários a fim de atrair trabalhadores. O que eles não dizem, é claro, é que estes salários mais altos poderiam conduzir a preços mais elevados aos consumidores, a menos que os empregadores possam absorver o aumento de custos. Preços mais altos poderiam também significar mais problemas diante da competição estrangeira.
A Doutrina Social católica diz que devemos julgar os tratados comerciais não só pelo que fazem aos EUA, mas também pelo que fazem ao resto do mundo, especialmente os países pobres. De novo, deixarei este aspecto de lado e olharei apenas para o impacto dos acordos sobre os EUA.
Hillary Clinton e Donald Trump criticam acordos comerciais como maléficos à economia americana ao permitirem que importações baratas ponham de lado fábricas americanas, e portanto prejudicam os trabalhadores de colarinho azul. O que eles não dizem é que estas importações baratas são compradas por consumidores americanos das classes baixa e média, os quais teriam de pagar muito mais pelos produtos caso se restringissem as importações. Alguns economistas acreditam que a razão por que a economia tem passado tanto tempo sem inflação decorre da pressão das importações que mantêm os preços em baixa.
Os que apoiam tratados comerciais dizem que estes promovem a venda de produtos agrícolas e serviços americanos no exterior. O foco aqui está na promoção de negócios americanos com bons empregos de colarinho branco. O que eles não dizem é que estas pessoas desistiram dos empregos de baixa qualificação nas fábricas.
Tenho amigos que argumentam em ambos os lados deste debate. Claro está que a globalização é um fato, e que não há como voltar atrás. Mas temos de ser honestos ao reconhecer que há vencedores e perdedores em todo acordo comercial e que existe uma responsabilidade governamental de ajudar os perdedores a fazerem a transição a outros empregos. Todo tratado comercial deve incluir fundos generosos para reciclagem, realocação e criação de novos empregos para os que irão sofrer em decorrência do acordo ou tratado comercial firmado.
Enquanto todo mundo está falando sobre imigração e comércio, eu gostaria de direcionar a nossa atenção aos impostos e o impacto deles na criação de novas vagas de trabalho.
Difícil seria projetar um programa fiscal que fosse pior para a criação de empregos do que este que temos atualmente.
Em primeiro lugar, toda vez que um empregador contrata um novo funcionário, o governo federal atinge o empregador e o empregado com um imposto de 6,2% destinado à previdência social e 1,45% para assistência médica. Dessa forma, o governo penaliza os empregadores sempre que eles contratam alguém. Isso é básico em economia. O governo está aumentando o custo de se empregar trabalhadores.
Enquanto isso, o ele permite que as empresas amortizem os custos com equipamentos mais rapidamente do que se considera adequado. Esse rebaixamento acelerado e outros benefícios fiscais tornam as coisas mais baratas para as empresas comprarem equipamentos.
Um rebaixamento acelerado, evidentemente, é vendido ao público como um elemento para a criação de empregos, mas quando considerado em conjunto com os impostos, fica óbvio que o governo está tornando mais caro contratar funcionários, ao mesmo tempo que barateia a aquisição de equipamentos.
Assim, se uma empresa se vê diante da escolha entre gastar U$ 1 milhão ou em equipamentos ou em funcionários para alcançar um mesmo objetivo, o governo irá adicionar U$ 76.500 ao custo se a empresa escolher contratar, mas irá reduzir os impostos dela se acaso se decidir pela aquisição de equipamentos. Alguns economistas defenderiam que este custo é duplo porque pensam que o empregador também fica com uma parcela dos impostos do colaborador.
Para a maior parte das empresas, essa é uma escolha fácil. Elas economizam dinheiro com equipamentos e não precisam lidar com funcionários. Os equipamentos não retrucam nem criam sindicados.
Não sou um luddite [de luddismo, movimento contrário à mecanização do trabalho proporcionado pelo advento da revolução industrial]. Não faço oposição a um aumento da produtividade através do uso de equipamentos, mas a escolha das empresas entre contratar força de trabalho e ou comprar equipamentos não deveria ter o apoio do governo no sentido da segunda opção. Ela deveria ser uma decisão com base nos custos, sem interferência governamental.
Como pagaríamos pela previdência social e assistência médica sem aplicar impostos sobre os trabalhadores? Uma forma seria através de um imposto sobre vendas, semelhante ao VAT (“Value added tax”) na Europa.
Uma jeito ainda melhor seria um imposto sobre o carbono, que também seria benéfico para o meio ambiente. Um tal imposto igualmente poderia ser aplicado a importações de forma que o custo de transporte pudesse aumentar. Isto incentivaria os consumidores a comprar produtos locais onde os custos de transporte fossem menores.
Ninguém irá falar sobre essas ideias na atual corrida presidencial porque um VAT é facilmente condenado como um imposto de vendas nacional, e um imposto sobre o carbono aumentaria o preço dos combustíveis. Estas propostas ainda são inaceitáveis aos eleitores americanos. Sim, estes impostos aumentariam o preço do consumo, mas, ao eliminar os impostos sobre o emprego, aumentaríamos as vagas no mercado de trabalho.
Se realmente quisermos fazer algo para a criação de vagas nas empresas, deveríamos primeiro focar no que o governo está atualmente fazendo para desencorajar o setor.
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As eleições presidenciais nos EUA. Empregos, economia e política. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU