Por: Jonas | 19 Julho 2016
O Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, escreveu uma carta ao bispo de Riobamba, no Equador, Dom Julio Parrilla, na qual pede explicações acerca do sumiço do memorável Mural da Catedral, que é símbolo dos mártires latino-americanos que propuseram uma Igreja para os pobres e marginalizados. A carta é publicada por Religión Digital, 15-07-2016. A tradução é do Cepat.
Fonte:http://goo.gl/z656MS |
Eis a carta.
Ao Bispo de Riobamba, Dom Julio Parrilla
Querido irmão em Cristo, uma fraterna saudação de Paz e Bem. Escrevo-lhe a presente carta motivado pela informação recebida, nestes dias, que o Mural que doei para Catedral de Riobamba, durante o bispado do irmão Dom Leonidas Proãno, foi retirado da catedral.
Lamento não ter sido informado e desconheço os motivos dessa decisão. Ficarei agradecido se me puder informar e onde se encontra atualmente o mural e em que condições.
O mural é uma pintura sobre placas de madeira de 8x5 metros, dedicada ao povo de Deus de Riobamba. O Cristo de Poncho e os indígenas estão presentes no caminhar a partir da fé acompanhados pelos profetas e mártires, como São Óscar Romero da América, agora beato, que deu sua vida para dar vida, acompanhado por Marianela García, religiosa de El Salvador que também deu sua vida por seus irmãos.
Eles são sementes fecundas da Igreja latino-americana. São as vozes proféticas que anunciam e denunciam, como a de Dom Hélder Câmara, Bispo de Olinda e Recife, e do Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo de São Paulo, Dom Pedro Casaldáliga, a voz profética de São Félix do Araguaia, Brasil, o Padre Ernesto Cardenal da Nicarágua e a figura de Dom Leonidas Proãno, profeta e missionário que semeou a vida e a esperança.
No mural estão representados mártires como Dom Angelelli e o Padre Carlos Mugica da Argentina, Lucho Espinal, jesuíta espanhol. Todos eles deram suas vidas, assim como tantos outros que abraçaram a cruz seguindo a Cristo.
No mural estão representadas as Mães da Praça de Maio: seu caminhar, resistência e esperança na busca por seus filhos, que, como Maria, sofrem o calvário da violência, mas são sustentadas pela resistência do Amor.
Seria bom, irmão Julio, que conhecesse a obra desenvolvida por Dom Leonidas Proãno, seu predecessor na diocese de Riobamba, que deu frutos que perduram na mente e o coração da Igreja do Equador, dos irmãos e irmãs indígenas, dos mais pobres e marginalizados da sociedade que se formaram na liberdade. Também que conhecesse a atuação histórica das Escolas Radiofônicas Populares e de tantas obras que o bispo desenvolveu em defesa e dignidade da vida.
Todos eles têm um ouvido no Evangelho e outro no Povo para saber por onde caminhar.
Não faltaram as incompreensões e a perseguição que Dom Proãno precisou sofrer por abraçar a cruz junto aos mais pobres, nossos irmãos indígenas. Seria demorado enumerar e não conseguiria tempo para lhe explicar o mural e seu significado, tanto para a Igreja latino-americana em geral, como para a Igreja Equatoriana em particular e muito especialmente para a diocese de Riobamba, pois o mural ressalta a Casa de Santa Cruz, que para Dom Proãno foi a Casa Mãe da Igreja de Riobamba, lugar de encontro, de reflexão e oração e de peregrinação de cristãos e não cristãos provenientes de todas as partes do mundo, onde religiosos e religiosas, leigos, teólogos, em nível ecumênico, encontraram o lugar da irmandade e fraternidade à luz do Evangelho.
Seria muito bom e importante que você se aproximasse de Pucahuaico, o Centro de Formação de Missionários indígenas e lugar onde descansa Dom Leonidas Proãno, para compartilhar e orar em comunhão com aqueles que caminharam junto ao profeta e pastor.
Estou a par, por alguma informação que me chegou, que você fez um Centro Penitencial no lugar onde estava o mural. Acredito que o mural pode ajudar e contribuir para a meditação e a oração no pensar o caminhar do povo de Deus. Também informo que os mártires e profetas estão em outros murais no mundo, como a Via Crucis latino-americana, encarregadas por Misereor, Adveniat e Pão para o Mundo entre outras organizações cristãs, ecumênicas; em especial, o Paño de Cuaresma de la Resurrección junto aos profetas e Mártires.
Uma cópia desta carta será enviada à Conferência Episcopal do Equador e ao Santo Padre, o irmão Francisco.
Por último, querido irmão, que o Senhor te ilumine e dê muita força e esperança em tua missão evangélica de anunciar a Boa Nova.
Reitero-lhe a fraterna saudação de Paz e Bem.
Adolfo Pérez Esquivel
Buenos Aires, 12 de maio de 2016.
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De Adolfo Pérez Esquivel ao bispo de Riobamba, Equador: “Onde está o mural dos mártires da América?” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU