Por: André | 29 Junho 2016
“O senhor ‘continua a servir a Igreja’ e não deixa de contribuir com vigor e sabedoria para o seu crescimento”. O Papa Francisco dirigiu-se com estas palavras ao seu predecessor Bento XVI por ocasião do 65º aniversáriode sua ordenação sacerdotal, que foi no dia 29 de junho de 1951, na catedral de Freising. Joseph Ratzinger foi ordenado sacerdote junto com o seu irmão maior Georg. E em sua saudação final, Bento disse a Francisco: “Espero que você siga em frente neste caminho da misericórdia”, e acrescentou: “sua bondade é o lugar em que habito e no qual me sinto protegido”.
Fonte: http://bit.ly/292h1Fr |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada por Vatican Insider, 28-06-2016. A tradução é de André Langer.
A festinha foi sóbria, como quis Ratzinger e como havia anunciado no domingo, 26 de junho, o próprio Papa Francisco ao conversar com os jornalistas durante o voo de volta de Erevan, desmentindo a teoria segundo a qual existiria uma espécie de ministério petrino (compartilhado) e os Papas, em vez de um, seriam dois.
Francisco abraçou Bento duas vezes. O coro da Capela Sistina interpretou o canto “in insigni die solemnitatis vestrae”.
Em seu discurso, Francisco disse ao seu predecessor: “Em uma das tantas belas páginas que você dedica ao sacerdócio, destaca que, na hora do chamado definitivo de Simão, Jesus, olhando-o, no fundo pergunta-lhe somente uma coisa: “Tu me amas?” Quão belo e verdadeiro é isto! Porque está aqui, você nos diz, é naquele ‘tu me amas’ que o Senhor funda o apascentar, porque ele só pode apascentar através de nós se existe o amor pelo Senhor: ‘Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo’”.
“Esta é a nota – continuou o Papa Bergoglio – que domina toda uma vida empenhada no serviço sacerdotal e da teologia que você, não por acaso, definiu como “a busca do Amado”; é isto o que você sempre testemunhou e segue testemunhando ainda hoje: que o decisivo em nossas jornadas – com sol ou com chuva –, aquilo com o qual vem todo o resto, é que o Senhor esteja verdadeiramente presente, que o desejamos, que interiormente estejamos perto d’Ele, que o amemos, que verdadeiramente creiamos profundamente n’Ele e crendo o amemos verdadeiramente”.
“É este amar – destacou Francisco – que verdadeiramente enche o nosso coração, este crer é o que nos faz caminhar seguros e tranquilos sobre as águas, mesmo em meio às tempestades, precisamente como aconteceu a Pedro; este amar e este crer são o que nos permitem olhar para o futuro não com medo ou nostalgia, mas com alegria, inclusive nos anos já avançados da nossa vida”.
Depois, o Papa falou sobre a situação em que vive, como emérito após ter renunciado ao papado por motivos de idade, Bento XVI: “precisamente vivendo e testemunhando hoje de modo tão intenso e luminoso esta única coisa verdadeiramente decisiva – ter o olhar e o coração dirigidos a Deus – você, santidade, continua a servir a Igreja, não deixa de contribuir verdadeiramente com vigor e sabedoria para o seu crescimento; e o faz desde aquele Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano que se revela desse modo muito diferente daqueles lugares esquecidos nos quais a cultura do descarte tende, hoje, a relegar as pessoas quando, com a idade, suas forças decaem”.
“É todo o contrário – continuou Bergoglio; e isto permite que o diga com força o seu sucessor que escolheu chamar-se Francisco! Porque o caminho espiritual de São Francisco começou em São Damião, mas o verdadeiro lugar amado, o coração pulsante da Ordem – ali onde a fundou e onde, enfim, entregou sua vida a Deus – foi a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o lugarzinho diante da Mãe de Deus; perto de Maria que, por sua fé tão firme e por viver inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações chamarão bem-aventurada. Do mesmo modo, a providência quis que você, querido irmão, chegasse a um lugar, por assim dizer, ‘propriamente franciscano’, do qual brota uma tranquilidade, uma paz, uma força, uma confiança, uma maturidade, uma fé, uma entrega e uma fidelidade que me fazem tanto bem e me dão tanta força, assim como a toda a Igreja. E me permito dizer que também de você vem um saudável e alegre senso de humor”.
Francisco concluiu seu discurso com este desejo, dirigido ao seu predecessor e também a toda a Igreja: “Que você, santidade, siga sentindo a mão de Deus misericordioso que o sustenta, que experimente e testemunhe o amor de Deus; que, com Pedro e Paulo, possa continuar a exultar com grande alegria enquanto caminha rumo à meta da fé”.
Depois do Papa tomaram a palavra o cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e o decano do colégio cardinalício, o cardeal Angelo Sodano. Müller deu a Bento o livro Die Liebe Gottes Lehren und Lernen – Ensinar e aprender o Amor de Deus.
Ao final, Bento XVI levantou-se e pronunciou poucas lúcidas palavras: “Santo Padre, queridos irmãos: há 65 anos um irmão meu ordenado comigo naquele dia, colocou na lembrancinha, além do nome e da data, uma única palavra: ‘Eucaristomen’, Obrigado! Obrigado a todos, obrigado, sobretudo, a você, pela bondade que me demonstrou desde o momento de sua eleição, que me surpreende. Mais que a beleza dos jardins vaticanos, sua bondade é o lugar em que habito e em que me sinto protegido. Espero que você possa seguir em frente por este caminho da misericórdia divina”.
Ao final, um terceiro abraço entre o Papa e o Papa emérito. Depois, enquanto o coro entoou o “Sicut cervus”, os cardeais que estavam presentes saudaram primeiro a Francisco e depois a Bento.
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Ratzinger a Francisco: “Sua bondade é o lugar em que me sinto protegido. Siga em frente por este caminho da misericórdia” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU