07 Junho 2016
O vinho tinto que me foi ofertado por minha irmã e sua amiga, a embaixadora do Panamá, começa a fazer efeito e a melancolia do extremo Sul, dá lugar a um otimismo que eu pensei que havia perdido. Estamos contentes, compartilhando, durante este anoitecer romano, a alegria e satisfação do dever cumprido. Minha irmã, Mónica Jiménez (1), está encerrando sua missão como embaixadora no Vaticano e há pouco, pela manhã, despediu-se do Santo Padre (sábado, 4 de junho); ela teve a gentileza de compartilhar esse momento sublime comigo.
O relato é de Marcela Jiménez, publicado por Il Sismógrafo, 05-06-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
Timidamente e com certa insegurança, me vesti também em um rigoroso preto e desloquei-me espantada pelas salas indescritíveis do Palácio do Vaticano; esperava que os guardas suíços ou os numerosos sacerdotes que cuidam do Papa fossem se opor à minha presença e pedissem para que me retirasse, mas isso não ocorreu; pude participar desse momento mágico.
Cansada por ter permanecido muito tempo de pé e muito emocionada, observo como minha irmã Mónica entrega ao Papa um pequeno papel; no meio de sua conversação protocolar e informes de nossa presidente, Michelle Bachelet, há um pedido explícito:
- "Por favor, telefone para o Padre Francisco Rencoret, que sofre de um câncer muito agressivo" - "ele está em uma situação delicada, submetido a um tratamento doloroso de quimio e radioterapia".
E ali estavam os números de telefone.
Isto é exatamente o que nós celebrávamos na Praça São Pedro; o Papa ligou para o seu xará, o sacerdote novato!(2)
A surpresa foi tamanha para a família do paciente; a mãe do jovem Francisco tomou o telefone e, pensando que se tratava de outra pessoa, agradece aos berros:
- "Muito obrigado por esta ligação Arturzinho! Meu filho vai se alegrar bastante!”
Ela o havia confundido com um padre espanhol que costumava se comunicar com eles para ter notícias do enfermo.
Frente a tal confusão, o Papa responde:
- Não sou Arturzinho! Sou Francisco e estou ligando do Vaticano!
Inacreditável! O próprio Papa havia marcado o número de telefone fixo da família Rencoret para se comunicar diretamente com o jovem padre.
Isso é o que nós celebrávamos na Praça São Pedro! Milagre cotidiano? Sincronia? Tudo junto; admiração por tanta simplicidade. Uma pessoa tão importante e com uma agenda saturada, encontrou tempo para marcar diretamente um número de telefone e iluminar toda uma família, e porque não dizer, um país inteiro.
Gratidão por esta iniciativa milagrosa, que definitivamente vai ter um efeito que não era esperado, uma vez que diminuirá os sintomas do enfermo.
Satisfação pela sensação de missão cumprida, com um bonito toque final para uma tarefa diplomática altruísta, entusiasta e eficiente, que chega ao seu fim.
A risada de Mónica nos contagia e ao lado de sua amiga Embaixadora do Panamá, damos graças a Deus e à vida, empinando o restante de vinho tinto e saboreando também o que restava do tiramisu e do sorvete de limão que coroavam nosso jantar romano.
**Notas do Editor
(1) Nos primeiros dias de junho assumirá sua nova missão diplomática como Embaixadora em Israel.
(2) Francisco Rencoret é um sacerdote chileno. Advogado. Pároco em Maipú, na Diocese de Santiago. Ele estava estudando na Universidade Gregoriana de Direito Canônico. Teve de voltar para o Chile depois de um diagnóstico clínico grave e delicado. Atualmente está em tratamento oncológico.
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"Não sou Arturzinho. Sou Francisco e estou ligando do Vaticano" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU