30 Mai 2016
"Espera-se que todos os participantes do Santo e Grande Concílio sejam animados por uma abertura verdadeiramente Pentecostal e que permaneçam cientes de que eles não estão sozinhos em seus esforços", deseja Carrie Frederick Frost, teóloga, em artigo publicado Commonweal, 24-05-2016. A tradução é de Luísa Flores.
Eis o artigo.
O Papa Francisco foi recentemente manchete no Ocidente por uma reunião com os Patriarcas Ortodoxos Bartolomeu e Kirill, juntando-se a eles para discutir a crise dos refugiados. Muito menos atenção foi dada a um desenvolvimento diferente que pode ter consequências importantes para a Igreja Ortodoxa e suas relações com Roma: um "Santo e Grande Concílio" histórico e sem precedentes, a ser realizado em junho.
A novidade deste Concílio, que acontecerá em Chania, na ilha grega de Creta, dificilmente pode ser exagerada. O mundo ortodoxo é composto por quatorze igrejas Ortodoxas Autocéfalas, que estão em comunhão e diálogo, mas não têm nenhum método oficial de conclave. As Ortodoxias não têm uma instituição ou figura que as presida, nenhum equivalente a um papa.
O Patriarca Ecumênico Bartolomeu, Arcebispo de Constantinopla, é considerado um primeiro entre iguais, e certamente tem sido um defensor deste concílio, mas não tem autoridade final para solicitar a participação de outras igrejas ortodoxas, ou controlar o resultado do Concílio. Embora muitos concílios de igrejas locais tenham ocorrido ao longo da história, a última vez que todo o mundo ortodoxo reuniu-se em concílio foi em 787 - antes da separação entre a Igreja Ortodoxa e Roma.
A agenda preliminar para tal Concílio, elaborada em 1960, incluiu mais de uma centena de itens. A agenda já foi condensada e peneirada em um esforço para torná-la mais palatável para as igrejas presentes. Dos itens que permanecem na ordem do dia, alguns dos mais complexos e potencialmente controversos têm a ver com o relacionamento da Igreja Ortodoxa com outras igrejas e com o resto do mundo.
Para aqueles de nós da Igreja Ortodoxa que gostariam de vê-la se envolver em um diálogo aberto e amoroso com outras comunidades cristãs, incluindo a Igreja Católica, os documentos pré-conciliares sobre este tema são lamentavelmente conservadores. Eles refletem as preocupações de um movimento antiecumênico dentro da Ortodoxia, que se esquiva de qualquer esforço para reparar as relações com outras igrejas, com medo de diluição ou contaminação. As versões anteriores dos documentos pré-conciliares referenciavam abertamente o trabalho teológico sério que tem sido feito pelos teólogos ortodoxos trabalhando em conjunto com seus pares em outras Igrejas cristãs, mas a versão aprovada dos documentos é omissa sobre este assunto.
Os documentos pré-conciliares sobre o casamento e o jejum são também decepcionantemente cautelosos. O documento sobre o casamento foge de situações difíceis - como as de sacerdotes viúvos, que normalmente são proibidos de casar novamente - e apresenta uma teologia do casamento que é desigual, no melhor dos casos.
Parte do propósito original da agenda sobre o jejum foi considerar situações de missão em que a comida disponível e os hábitos alimentares locais são muito diferentes daqueles do Levante, onde os regulamentos de jejum da Igreja Ortodoxa foram inicialmente desenvolvidos. Será que significa muito abster-se de azeite de oliva por determinados dias em um lugar onde o azeite de oliva não é utilizado? Ao invés de investigar estas situações complicadas, o documento sobre o jejum simplesmente fornece um resumo das restrições de jejum no mundo Ortodoxo - como as que são facilmente encontradas em panfletos de qualquer paróquia Ortodoxa.
Depois, há a questão dos procedimentos de tomada de decisão do Concílio. As orientações indicam que o "consenso" - o padrão previamente acordado para o concílio - deve ser agora entendido como "unanimidade." Isso é preocupante para muitos, porque sugere que qualquer uma das quatorze igrejas autocéfalas pode ter poder de veto, o que seria sem precedentes. Mas resta verificar como esta norma de consenso será implementada.
Os procedimentos do Concílio também ditam que cada igreja autocéfala traga uma delegação de hierarcas, que irá compor o corpo de decisão do concílio. Cada delegação pode também contar com seis "consultores especiais", que podem ser clérigos, monges ou leigos. Finalmente, os observadores de outras igrejas também serão convidados.
Embora o papel dos "consultores especiais" seja limitado, a sua presença no concílio é importante porque permite a participação não apenas de não-hierarcas, mas também de mulheres no concílio. Foi recentemente anunciado que duas mulheres farão parte da delegação do Patriarca Ecumênico. O nível exato de participação que será permitido a essas duas mulheres ainda está por ser conhecido.
Será que elas acabarão verdadeiramente contribuindo para o trabalho do Concílio, ou apenas presenciando-o? Será que suas contribuições serão solicitadas para a declaração do Concílio sobre o casamento, ou será que esse documento será relegado inteiramente aos hierarcas celibatários? Como o Arcebispo Católico canadense Durocher observou recentemente, a sinodalidade real deve envolver as mulheres. Isto é tão verdadeiro para a Igreja Ortodoxa quanto para a Igreja Católica.
Embora a agenda abreviada e os modestos documentos pré-conciliares pareçam indicar um Concílio conservador, incontestável e sem ambição, muitos cristãos ortodoxos - incluindo a mim mesmo - terão o prazer de ver o concílio finalmente acontecer. Se ele puder ter sucesso mesmo em seus termos modestos, pode abrir as portas para futuros concílios menos cautelosos.
O Patriarca Ecumênico afirmou que, se a Igreja Ortodoxa não se envolver com o mundo, "ela será reduzida a um gueto à margem da história". Há muitas forças que trabalham para tornar a Igreja Ortodoxa mais insular e amedrontadora, mas eu concordo com o Patriarca Ecumênico e considero o Santo e Grande Concílio de 2016 um valente esforço para sustentar a missão da Igreja Ortodoxa "para a vida do mundo".
O que quer que saia deste Concílio, seu significado duradouro será desconhecido por algum tempo, porque todos os concílios ortodoxos devem ser recebidos pelos fieis para que sejam entendidos como legítimos e duradouros. Mesmo os concílios Ecumênicos não foram chamados "Ecumênicos" ou considerados como possuidores de significado universal enquanto estavam ocorrendo.
Enquanto aguardo pelo Concílio do próximo mês, lembro-me do ícone Ortodoxo de Pentecostes, que mostra a Mãe de Deus com os discípulos. Eles não estão sozinhos; o Espírito Santo também está presente - às vezes retratado como uma pomba, às vezes como línguas de fogo. Maria e os discípulos são frequentemente mostrados olhando para cima, abertos à obra do Espírito. É uma imagem apropriada para um concílio da igreja. Espera-se que todos os participantes do Santo e Grande Concílio sejam animados por uma abertura verdadeiramente Pentecostal e que permaneçam cientes de que eles não estão sozinhos em seus esforços.
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Um Pentecostes na ilha de Creta? Santo e Grande Concílio da Igreja Ortodoxa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU