22 Fevereiro 2016
“Nem mesmo o Papa deveria fazer uma conferência de imprensa quando está cansado”. Michael Novak responde ao telefone de casa. Ele viu na Tv o Pontífice falar, no avião, sobre o trajeto de retorno a Roma. Ouviu-o dizer que “o cristão não constrói muros, mas pontes”. Novak, com 82 anos, é o filósofo católico referencial da cultura conservadora nos Estados Unidos. Na comunidade intelectual é conhecido pelos seus estudos que procuram conjugar o espírito da fé e aquele do capitalismo. Mas, é conhecido também por sua atividade pública: foi, entre outros, conselheiro de Ronald Reagan. O filósofo solicita meia hora para refletir sobre o embate entre o Papa Francisco e Donald Trump. Depois retoma a conversação.
Entrevista com Michael Novak, aos cuidados de Giuseppe Sarcina, publicado por "Corriere della Sera”, 19-02-2016. A tradução é de Benno Dischinger.
- Por quê o Papa não teria devido falar com os jornalistas no avião?
“Não é uma boa ideia apresentar-se ante os repórteres após uma longa jornada fatigante. Talvez não tenha tido o tempo de refletir sobre as questões...”.
- O que há de apressado nas palavras de Francisco?
“Bem, é verdade que um cristão deve construir as pontes, mas talvez os muros sejam necessários”.
- Então Trump tem razão?
“Não, Trump errou ao dirigir-se ao Papa daquele modo exagerado. Como faz sempre, de resto, com qualquer um”.
- Retornamos ao Papa então...
“Francisco não entrou na complexidade da questão. Não distinguiu entre a imigração legal e a ilegal. Os Estados Unidos têm uma longa tradição de abertura: os estrangeiros são sempre bem acolhidos. E, atenção, diversamente do que aconteceu na Europa ou no Japão, aqui todos aqueles que chegam, antes ou depois se tornam americanos. Eu o sei bem, porque também os meus avós vieram para cá da Eslováquia”.
- E esta tradição de abertura é hoje posta em discussão?
“Não, porque este Papa sempre acolheu os imigrantes. Hoje, ao invés, os fluxos estão fora de controle e o impacto sobre a sociedade é pesado”.
- O Papa diz que um cristão não pode aceitar muros.
“De acordo, mas nem todos os americanos são cristãos. É um problema que devemos analisar em termos políticos. O Papa não conhece bem os efeitos da imigração sobre a vida das pessoas. E falou precisamente na véspera do voto republicano na Carolina do Sul, onde muitas fábricas têm fechado porque a atividade foi transferida a outros Países. Um território onde a chegada descontrolada, ilegal dos migrantes fez baixar os salários, empobrecendo a todos.
Além disso, o presidente dos Estados Unidos, seja ele quem for, tem o dever de preservar a legalidade das divisas. Trump assegura que construirá um muro intransponível. Mas nem mesmo ele distingue entre imigrantes legais ou ilegais. “Por certo, Trump não capta ou não quer captar esta distinção: por isso não o apoio. Dizer que é preciso construir outro muro não basta. E não me agrada sequer que difunda a ideia de que nos Estados Unidos exista um problema com os hispânicos. São pessoas que há tempo fazem parte a pleno título deste País”.
- Qual é então o ponto?
“Aos americanos é explicado que não nos estamos fechando. Mas, que é necessário atualizar as condições de legalidade”.
- Também com outro muro?
“Sim, se é preciso para garantir o retorno à legalidade, a um sistema eficaz de controle e, portanto, de gestão da imigração. Esta é uma opinião compartilhada pelos americanos e é o melhor modo de manter aberto o País”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Novak: mas a América teme a imigração ilegal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU