Por: Jonas | 19 Mai 2014
A migração forçada, “que infelizmente assume em certas regiões e em certos momentos o caráter de verdadeira e própria tragédia humana” é um fenômeno de nossa época, que deve ser enfrentada “com uma visão política séria e responsável, que envolve a todos os níveis”. Foi o que disse o Papa Francisco, durante o discurso pronunciado nesta manhã, na audiência com os novos embaixadores ante a Santa Sé da Suíça, Libéria, Sudão, Jamaica, África do Sul e Índia, que foram recebidos por ocasião da apresentação das cartas credenciais. Não podemos nos limitar em lamentar as emergências e tragédias, apontou.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por Vatican Insider, 15-05-2014. A tradução é do Cepat.
“A paz” é o conceito a partir do qual o Papa iniciou o discurso dirigido ao grupo de diplomáticos não residenciais: “Esta palavra resume todos os bens aos quais todas as pessoas e todas as sociedades humanas aspiram”, “uma meta que nunca foi plenamente alcançada, que exige ser buscada novamente por parte de cada geração, enfrentando os desafios de cada época”. São dois, explicou os desafios, “que é urgente abordar para se construir um mundo mais pacífico”: o comércio de armas e a migração forçada.
“Todos falam de paz, todos declaram essa pretensão, mas infelizmente a proliferação de armas de todo tipo conduz à direção oposta. O comércio de armas tem o efeito de complicar e evitar a resolução de conflitos, ao passo que se desenvolve e se implementa, em grande, parte fora da legalidade”, afirmou o Pontífice.
“Considero, portanto, que quando nos reunimos nesta Sé Apostólica – explicou -, que por sua natureza tem a tarefa especial de serviço à causa da paz, podemos unir nossas vozes na esperança de que a comunidade internacional dê lugar a uma nova era no compromisso acordado e corajoso contra o crescimento dos armamentos e para sua redução”.
“Outro desafio à paz que surgiu diante de nossos olhos, e que infelizmente assume em certas regiões e em certos momentos o caráter de verdadeira tragédia humana – explicou o Papa argentino – é o das migrações forçadas. Trata-se de um fenômeno muito complexo, e é preciso reconhecer que há alguns esforços notáveis por parte das Organizações internacionais, dos Estados, das forças sociais, assim como por parte das comunidades religiosas e do voluntariado, para tratar de responder civil e organizadamente aos aspectos mais críticos, às emergências, às situações de maior necessidade. Entretanto, aqui, também percebemos que não podemos nos limitar a perseguir as emergências. O fenômeno se manifestou em toda a sua amplitude e em seu caráter, por assim dizer, histórico. Chegou o momento de enfrentá-lo com uma visão política séria e responsável, que envolva a todos os níveis: global, continental, de macrorregiões, de relações entre Nações, até os níveis nacional e local. Neste campo, nós podemos observar experiências opostas. Por um lado, histórias grandiosas de humanidade, de encontro, de acolhida; pessoas e famílias que conseguiram sair de realidades desumanas e que encontraram a dignidade, a liberdade, a segurança. Por outro lado, infelizmente, há histórias que nos fazem chorar e nos envergonharmos: seres humanos, nossos irmãos e irmãs, filhos de Deus que, também impelidos pela vontade de viver e trabalhar em paz, enfrentam viagens massacrantes e sofrem chantagens, torturas, violência de todo tipo, para deixar suas vidas, às vezes, no deserto ou no fundo do mar”.
“O fenômeno da migração forçada está estreitamente relacionado aos conflitos e às guerras – prosseguiu -, e consequentemente pelo problema da proliferação das armas, que eu mencionava antes. São feridas de um mundo que é nosso mundo, no qual Deus nos colocou para viver hoje e que nos chama para sermos responsáveis por nossos irmãos e nossas irmãs, para que nenhum ser humano tenha a sua dignidade violada”.
“Seria uma contradição absurda – recordou com ênfase – falar de paz, negociar a paz e, ao mesmo tempo, promover ou permitir o comércio de armas. Também poderíamos pensar que, de alguma maneira, seria uma atitude cínica proclamar os direitos humanos e, ao mesmo tempo, ignorar ou não se tornar responsável por homens e mulheres que, obrigados a abandonar suas terras, morrerem na tentativa ou não são acolhidos pela solidariedade internacional”.
“A Santa Sé – concluiu Francisco – afirma diante de vocês e diante de seus respectivos países seu firme desejo de continuar colaborando para dar passos adiante nestas frentes e em todos os caminhos que conduzem à justiça e a paz, baseando-se nos direitos humanos reconhecidos universalmente”.
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Para Francisco, não basta lamentar as emergências e tragédias dos migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU