13 Janeiro 2016
“O nome de Deus é misericórdia” é o primeiro livro do Papa Francisco desde a sua eleição ao papado em março de 2013. A obra resulta de uma entrevista entre o pontífice e o experiente escritor e vaticanista italiano Andrea Tornielli, ocorrida em julho de 2015 logo depois que Francisco voltou de uma viagem ao Equador, Bolívia e Paraguai.
A reportagem foi publicada por Crux, 10-01-2016. A tradução de Isaque Gomes Correa.
O objetivo do livro é o de Francisco explicar a visão por detrás de seu jubileu extraordinário, Ano Santo da Misericórdia, lançado por ele em 8 de dezembro com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro e que irá durar até 20 de novembro de 2016.
A misericórdia é o valor espiritual angular para Francisco, expresso em seu lema papal (o mesmo que ele usava como bispo): Miserando atque eligendo, ou “escolhendo através dos olhos da misericórdia”. Ele já falou que vê a era atual como um kairos de misericórdia, empregando o termo grego presente no Novo Testamento que significa um momento privilegiado no plano divino da salvação.
A seguir apresentamos cinco pontos do livro que vão ao cerne da mensagem de Francisco.
A “carteira de identidade” de Deus: Francisco insiste repetidas vezes ao longo do livro que a misericórdia é a própria essência de Deus. Eis uma forma típica em que ele manifesta esse pensamento:
Jesus disse que veio não para que são bons, mas para os pecadores. Ele não veio para os saudáveis, aqueles que não precisam de médico, mas para os doentes. Por esse motivo, podemos dizer que a misericórdia é a carteira de identidade de Deus. Deus da misericórdia, Deus misericordioso. Para mim, essa é verdadeiramente a identidade do Senhor.
Sacerdotes misericordiosos: O pontífice descreve o exemplo de vários padres misericordiosos que ele veio a conhecer com o passar dos anos. Dois em particular parecem ter deixado uma impressão profunda, inclusive um que ele conheceu enquanto adolescente, o Rev. Carlos Duarte Ibarra, quem acabaria morrendo no ano seguinte.
Eu ainda me lembro de como eu me senti quando cheguei em casa, depois de seu velório e enterro; era como se eu tivesse sido abandonado. Chorei muito naquela noite, muito mesmo, e me escondi no meu quarto. Por quê? Porque eu tinha perdido um alguém que me ajudava a sentir a misericórdia de Deus.
Ele igualmente descreve um padre capuchinho que veio até ele em Buenos Aires para dizer que estava preocupado, pois estaria sendo demais misericordioso ao escutar as confissões. O futuro papa perguntou ao capuchinho se ele chegou a orar sobre o assunto.
Eis o que o sacerdote lhe respondeu: “Vou para a nossa capela e fico de frente para o tabernáculo, e então digo a Jesus: ‘Senhor, perdoe-me se eu tenho perdoado demais. Mas foste tu quem me deu o mal exemplo!’”
Francisco diz:
Jamais vou esquecer isso. Quando um sacerdote experimenta dar a misericórdia para si mesmo daquele jeito, então ele pode dar aos outros.
“Apostolado de orelha”: Francisco fala sobre a importância do sacramento da Confissão, salientando, entre outras coisas, que os sacerdotes precisam escutar com cuidado ao que as pessoas têm a dizer:
Na grande maioria, as pessoas estão em busca de alguém que as escute. Alguém disposto a conceder-lhes tempo, a escutar seus dramas e dificuldades. É isso o que chamo de o “apostolado de orelha”, e ele é importante. Muito importante. Sinto-me inclinado a dizer aos confessores: conversem, escutem com paciência e, sobretudo, digam às pessoas que Deus ama elas.
Em outro momento, Francisco afirma:
Em uma conversa com um confessor, precisamos ser escutados, não interrogados.
Farisaísmo: Escutando Francisco, lembramos da prática antiga conhecida por farisaísmo, a atitude de condenar as falhas nos outros sem reconhecê-las em si próprio.
Francisco diz que, ao longo da “longa história da Igreja”, houve pessoas que não parecem compreender isso, comparando-as com os doutores da lei que, no Antigo Testamento, estiveram tentados a criar armadilhas para Jesus.
Jesus, diz o papa, é para sempre uma ameaça à rigidez:
Naquela época, assim como hoje, este tipo de lógica e conduta pode ser chocante; ela provoca murmúrios furiosos por aqueles que somente estão acostumados a terem as coisas segundo as suas noções preconcebidas e a pureza ritualística, ao invés de se deixarem ser surpreendidos pela realidade, por um amor maior ou um padrão mais elevado.
Às vezes eu me surpreendi pensando que seria bom que umas poucas pessoas muito rígidas escorregassem um pouquinho de forma que pudessem lembrar que também são pecadoras.
Misericórdia em ação: Francisco insiste que a misericórdia precisa ser expressa em atos de compaixão, especialmente pelos pobres e marginalizados.
Se olharmos para a nossa situação, para a nossa sociedade, me parece não faltarão circunstâncias ou oportunidades ao nosso redor.
O que deveríamos fazer para o sem-teto acampado em frente à nossa casa, para o pobre homem que nada tem a comer, para a família do bairro que não consegue chegar até o fim do mês com as despesas devido à recessão, porque o marido perdeu o emprego?
Como deveríamos nos comportar com os imigrantes que sobreviveram à travessia e que chegaram até as nossas praias? O que deveríamos fazer aos idosos que se encontram sozinhos, abandonados e que não têm ninguém?
Francisco conclui o livro citando São João da Cruz:
No crepúsculo da vida, seremos julgados pelo amor.
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Em novo livro, Francisco chama de misericórdia a “carteira de identidade” de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU