07 Dezembro 2015
Em poucos dias, em Roma, será aberto, com a abertura da Porta Santa, o Jubileu da Misericórdia. Um evento importante para o pontificado do Papa Bergoglio. Um evento que pretende marca uma reviravolta para toda a Igreja Católica. E também na próxima semana, no Vaticano, o processo Vatileaks recomeça. Como prossegue o caminho reformador do Papa Francisco? Falamos sobre isso, nesta entrevista, com o vaticanista Marco Politi.
De Politi, nestes dias, foi publicada a nova edição atualizada e ampliada do livro, publicado pela editora Laterza, Francesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione [Francisco entre os lobos. O segredo de uma revolução] (280 páginas).
A reportagem é de Pierluigi Mele, publicada no sítio Rai News, 04-12-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Concluiu-se há pouco a viagem do Papa Francisco à África, que sela de modo definitivo a sua eclesiologia das "periferias" (extremas). A abertura da Porta Santa na Igreja de Bangui (República Centro-Africana) foi o emblema dessa eclesiologia. É isso?
A República Centro-Africana, tão rica em petróleo, diamantes e urânio, é um dos países mais pisoteados e degradados da África. É a "última" no verdadeiro sentido da palavra, e Francisco, ao abrir a Porta Santa em Bangui, mostrou, por um lado, a descentralização da Igreja e, por outro – e sobretudo –, que os últimos são os primeiros. Em certo sentido, foi a sua segunda viagem à África, porque a sua primeira viagem a Lampedusa já era o encontro com os migrantes que vêm do Magrebe e do continente negro.
Uma pergunta sobre o "Jubileu da Misericórdia", que será aberto no dia 8 de dezembro: quais são os objetivos do Papa Francisco? Você espera um gesto fortemente significativo de Francisco, ou seja, o Jubileu da Misericórdia será um divisor de águas para a Igreja Católica?
O Jubileu Extraordinário, no fundo, é um apelo especial para o povo de Deus, para marchar junto pela estrada da reforma da Igreja. O resultado do Sínodo, que não conseguiu votar um documento claro sobre a comunhão aos divorciados recasados, trouxe à tona fortes resistências dentro dos episcopados do mundo e revelou a existência de uma divisão entre aqueles que – como Francisco – querem uma Igreja hospital de campanha e aqueles que se encastelam na doutrina: os "doutrinários", como o pontífice argentino os chama, que são surdos aos dramas de tantos homens e mulheres. Francisco quer pregar, como ele disse no encontro com o Comunhão e Libertação, que o caminho da Igreja é de não condenar eternamente ninguém.
No seu livro, de título emblemático, "Francisco entre os lobos", dentre outras coisas, você analisa a ação reformadora do Papa Bergoglio. Quais foram os frutos, até agora, da obra de Francisco?
O papa já trouxe muita limpeza para o banco e para os assuntos financeiros vaticanos. Foram fechadas milhares de contas, foi criado um comitê contra a lavagem de dinheiro no Vaticano, foram firmados acordos de cooperação judiciária com muitos Estados, foi criado um Secretariado para a Economia, que irá supervisionar contratos que são fonte de corrupção, foi potencializado o papel da Autoridade de Informação Financeira.
Os bolsões de maus negócios que resistem – e é meritória, a partir desse ponto de vista, a obra de informação dos livros de Fittipaldi e Nuzzi – demonstram que toda reforma esbarra em interesses opacos poderosos. Francisco começou a dar ao Sínodo dos bispos um verdadeiro poder propositivo, criou um órgão de consulta internacional ao seu lado: o Conselho dos nove cardeais. E começou a descentralizar, dando a faculdade aos bispos locais de decidirem autonomamente em certos casos sobre a nulidade dos casamentos religiosos.
Francisco reabriu o diálogo entre Igreja e sociedade pluralista moderna: hoje, são muitos os que pertencem a outras religiões ou os agnósticos e os ateus que escutam com interesse a sua mensagem.
Por fim, Francisco está dizendo palavras claras sobre a exploração de uma massa enorme de homens e mulheres e sobre a degradação ambiental, que, por sua vez, envolve graves custos sociais.
Há limites para essa ação? Em caso afirmativo, quais?
É preciso fazer a reforma da Cúria. É preciso realizar a inserção de mulheres nos postos onde se decide e se exerce a autoridade (para citar as suas palavras). É preciso dar forma codificada a muitos dos seus impulsos.
Você também fala da "solidão" do papa. No entanto, é um papa que goza de um imenso amor no "povo de Deus". Onde nasce essa solidão?
Muitos disseram isso: o bispo Bregantini, o secretário da Conferência Episcopal Italiana, Dom Galantino: não basta aplaudir o pontífice, é preciso ajudá-lo ativamente na sua obra de mudança. Muitos bispos, muitos sacerdotes muitos fiéis estão parados. Às vezes por inércia, às vezes por medo, às vezes para sabotar passivamente.
E chegamos aos "inimigos" do Papa Francisco. No livro, você fala deles longamente. Tem-se a impressão de ver um pontífice rodeada por "inimigos". Qual é o mais perigoso?
Os adversários são aqueles que, na hierarquia, impediram o Sínodo de pronunciar uma palavra definitiva sobre a acolhida aos divorciados recasados e sobre o reconhecimento do valor afetivo e solidário de um casal homossexual. Os adversários são aqueles que continuam fazendo um mau uso dos bens econômicos da Igreja, aqueles que viram a cabeça para o outro lado quando se trata de estabelecer mecanismos concretos para combater os abusos sexuais. Aqueles que fingem não ouvir que as mulheres devem ser chamadas a papéis decisionais. Especialmente na internet, assiste-se na Itália e no mundo a uma campanha sistemática de difamação do pontífice. E também o caso Vatileaks 2 demonstra que os seus colaboradores na Cúria fazem operações desestabilizadoras e rompem os mais elementares pactos de lealdade, gravando as intervenções do papa em reuniões privadas e, depois, espalhando isso para fora.
E na Igreja italiana como é a atitude com relação ao Papa Francisco, depois do Congresso de Florença?
Francisco pede à Igreja italiana uma grande reviravolta de conversão, deixando para trás intervencionismos políticos e pedindo um grande rigor financeiro em todos os níveis. Pensemos no escândalo do abade de Montecassino e nas centenas de milhares de euros desperdiçados por um homem que devia preservar a grande tradição de São Bento.
Última pergunta: no livro, nas páginas finais, você escreve que "Francisco não ignora a ampulheta invisível posto ao lado do seu assento papal". O que você quer dizer com isso?
O Papa Francisco disse e repetiu isto: ele também, em um certo momento, estará disponível para renunciar. No dia do segundo aniversário da sua eleição, ele declarou à TV mexicana que imagina que o seu pontificado vai durar quatro ou cinco anos. Dois anos e meio já se passaram!
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Papa Francisco, entre Vatileaks e Jubileu da Misericórdia. Entrevista com Marco Politi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU