09 Outubro 2015
Na manhã desta sexta-feira, durante a 4ª Congregação Geral da XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, foram apresentadas na Aula os relatórios dos 13 círculos menores que, nos últimos dias (6 a 8 de outubro), se reuniram para refletir sobre a introdução e a primeira parte do Instrumentum laboris, à luz das contribuições que surgiram na Aula durante o debate realizado nas primeiras três Congregações Gerais.
Os Padres sinodais se dividiram em 13 "círculos menores" linguísticos: quatro grupos em inglês, três grupos em francês, três grupos em italiano, dois grupos em espanhol e um grupo em alemão. Pela proximidade linguística, os Padres sinodais brasileiros participaram dos grupos em espanhol.
Do Brasil, o presidente-delegado é o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida (SP). Como membros do Sínodo eleitos pela CNBB, estão presentes o arcebispo de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, presidente da CNBB; o bispo de Camaçari (BA), Dom João Carlos Petrini; o arcebispo de Mariana (MG), Dom Geraldo Lyrio Rocha; e o arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Scherer. Já Dom Sérgio Castriani, arcebispo de Manaus (AM), foi nomeado pessoalmente pelo Papa Francisco.
Outras presenças brasileiras são o frei Antonio Moser, da Ordem dos Frades Menores, professor emérito do Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, como colaborador da Secretaria Especial do Sínodo; Ketty Abaroa de Rezende e Pedro Jussieu de Rezende, docentes da Universidade Estadual de Campinas, presentes no Sínodo como auditores; o Pe. Tiago Gurgel do Vale, como assistente; e, como delegado fraterno, em nome do Conselho Mundial de Igrejas, o pastor luterano Walter Altmann.
Publicamos a seguir o texto dos relatórios sobre essa primeira sessão de trabalho dos dois círculos menores que contam com a presença de membros brasileiros, o Circulus Hibericus "A" e o Circulus Hibericus "B".
Os relatórios foram publicados no sítio da Santa Sé, 08-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Relatio – Circulus Hibericus "A"
Moderador: Card. Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, S.D.B.
Relator: Card. José Luis Lacunza Maestrojuán, O.A.R.
Na Primeira Sessão, depois da oração da Hora Terça, procedeu-se, como estava previsto, à eleição do moderador e do relator. Para o cargo de moderador, foi eleito em segunda votação, com 19 votos, o cardeal Óscar Andrés Rodríguez Madariaga, SDB, arcebispo de Tegucigalpa (Honduras) e, para o cargo de relator, foi eleito em terceira votação, com 17 votos, o cardeal José Luis Lacunza Maestrojuan, OAR, bispo de David (Panamá).
Cumpridas essas formalidades, iniciou-se a leitura do Instrumentum laboris, ponto por ponto, e foram sendo feitos comentários sobre eles, entre os quais destacamos os seguintes:
- Ressaltar a beleza do amor humano aberto à vida.
- Explicitar mais o que significa "escola de humanidade", tendo em vista sobretudo alguma exposição na Aula sobre famílias em que se verificam atos de violência contra a mulher, as crianças etc.
- Assinalar o desafio da renovação da própria Igreja. É verdade que os "fatores externos" nos afetam e são fortes, mas como respondemos, como Igreja? Fracassamos na "formação cristã" e na "educação da fé", e se chega ao matrimônio com muitas lacunas.
- Deveríamos nos perguntar: o que deixamos de fazer? Também somos culpados pela situação da família, já que, em muitas ocasiões, "vivemos de renda".
- Não se enfatizam suficientemente os "avôs": hoje em dia, cresce a média de idade de vida, e os avós dispõem de tempo e capacidades para intervir na formação dos netos. Seria preciso fazer um chamado a viver com alegria o cumprimento dessa missão.
- Descubra o que a família é de verdade: o contexto é importante, mas deve nos levar a ver uma oportunidade para continuar crescendo e fortalecendo.
- Os comentários do âmbito secular, quando a Igreja fala da família, dizem que o pensamento da Igreja é medieval, que não está em sintonia com o mundo atual, que não percebe a realidade. Talvez isso nos faça ver que a nossa reflexão sobre a família e o matrimônio foi monotemática. Enfatizamos alguns aspectos e ficamos na pura norma, sem assumir o que é realmente o verdadeiro ser da família, que, a partir de uma visão integral, é um tesouro.
- Como nasceu a crise? Sem dúvida, ela também teve a ver com o tipo de catequese que fizemos, e é preciso uma preparação mais profunda.
- Na primeira parte, falta algo muito essencial: tentamos resolver problemas sem saber qual é a sua origem.
- Há necessidade de maior renovação, não só das pessoas, mas também das comunidades, tendo o cuidado com a linguagem e com o modo de apresentar a doutrina.
- Ampliar o que tem a ver com a "mudança antropológica": seria preciso destacar como se oculta a presença de Deus e, consequentemente, também do outro; há um questionamento e suspeita da instituição; falta análise sobre a influência das tecnologias que envolvem a solidão, a falta de comunicação, o individualismo. É preciso semear na cultura o Evangelho da família, mas nem sempre conhecemos a cultura.
- Os casais se casam sem saber para quê: qual é a sua identidade como casal e como família. Muitos sacerdotes, inclusive, não sabem qual é. É preciso apoiar esse processo por todo o itinerário de formação.
- Não se diz o que é a família. E não é apenas uma questão de preparação, porque muitos, sem preparação, foram fiéis e felizes, e outros, com muita preparação, acabaram separados.
- Houve uma ruptura da unidade entre amor, sexualidade e procriação.
- Não só isso, mas isso também se separou da dimensão educativa: rompeu-se a relação entre amor, sexualidade, matrimônio, família e educação dos filhos.
A partir daí, nas sessões posteriores, passou-se a uma análise e comentários os contratos que foram se moldando em modos que são submetidos ao discernimento do grupo, e, conforme vão sendo aprovados, moldam-se nos formatos oficiais.
Dessa maneira, ao término da análise dos 36 pontos que a Parte 1 contém, aprovaram-se 54 modos que serão entregues à Secretaria.
* * *
Relatio – Circulus Hibericus "B"
Moderador: Card. Francisco Robles Ortega
Relator: S.E. Mons. Baltazar Enrique Porras Cardozo
Em um clima cordial e fraterno, nós, Padres sinodais, com a ajuda dos peritos e o acompanhamento dos auditores, compartilhamos em espanhol e português, membros da Europa, África e América Latina, a temática relativa à primeira parte: a escuta dos desafios que a família enfrenta. Cabe destacar a participação ativa de todos os membros do grupo.
Viu-se como muito positiva a metodologia compartilhada neste Sínodo e a grande liberdade e fraternidade com que os temas foram tratados. Aludiu-se ao fato de que maioria dos membros participaram também do Sínodo extraordinário, o que facilitou o trabalho de grupo.
Não havia tempo para analisar o capítulo 4. E se solicita que haja tempo para tratá-lo mais adiante, porque há temas de muita profundidade.
Como observação geral que surgiu ao longo do intercâmbio, pede-se para cuidar com mais empenho a linguagem das traduções, que nem sempre concordam com o original italiano, e, às vezes, usam-se vocábulos alheios ao espanhol ou ao português.
Procedeu-se, em primeiro lugar, à leitura em voz alta de cada capítulo, para depois proceder à sua revisão ponto por ponto. Depois de uma breve chuva de ideias ou pontos de vista, o moderador solicitou que se apresentasse por escrito cada modo proposto para sua discussão e posterior votação.
Em geral, foram maiores as coincidências do que as divergência, o que permitiu que se chegasse a consensos e unanimidade. Quando as proposições ou os modos, ao serem compartilhados, não gozavam de unanimidade, geralmente eram retirados pelo seu proponente.
Recolhemos as ideias principais nas que houve maior consenso.
1. Reafirmar a metodologia empregada no Instrumentum laboris como a adequada, e deve ser conservada.
2. O desafio: relacionar o Sínodo extraordinário e o atual. Dar-lhe continuidade. Linguagem de esperança, a Igreja do sim.
3. Sentido pastoral:
a) Não falar da família abstratamente, mas a partir das suas diversas realidades; as mudanças antropológicas são mais profundas do que imaginamos (biotecnologia, gênero). É um desafio cheio de esperanças.
b) Perguntarmo-nos por que fazemos isso e o que devemos fazer. Avaliarmo-nos à luz do estilo Francisco.
c) A família como sujeito de toda a pastoral. Necessidade de formação.
d) Não nos sentirmos donos, mas servidores da família. Converter as leis antifamília em leis mortas.
e) Deficiente iniciação cristã e fragmentação da pastoral. Realidade da diminuição dos membros da Igreja.
f) Assinalar as experiências positivas: movimentos, catecumenato domiciliar, famílias formadas e formadoras, apoiar programas de família e bioética nas universidades e colégios.
4. Relação entre o ver e o agir. O ver do Instrumentum laboris tem uma dimensão ético-teológica. Partir do olhar de Deus.
5. Realidades intercomunicadas:
a) A fé é fraca e assim não pode assumir o desafio. Fragilidade e imaturidade, cura afetiva.
b) Descuido de Deus, indiferença, assim não há capacidade para iluminar.
c) As legislações nacionais e internacionais respondem a um mesmo padrão e pretendem se impor.
d) Passar de uma espiritualidade individual à de comunhão, caso contrário não serão superados os problemas da família.
e) Revisar a autoridade e a obediência, como fraternidade e serviço.
f) Ver a família como um desafio cultural (ideologia de gênero, nova ordem mundial, linguagem ambígua).
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Sínodo: os debates nos "círculos menores" com presenças brasileiras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU