28 Setembro 2015
"Não sei dizer o que os protestante do Bible Belt [Cinturão da Bíblia] pensam, mas garanto a vocês que, para os liberais como eu, as mensagens enviadas até agora pelo Papa Francisco são bem-vindas." O filósofo Michael Walzer não esconde a sua satisfação: "Veja, neste exato momento, estou escrevendo um artigo para propor a criação de um sistema para o controle de armas em todos os níveis: é fácil imaginar como me agrada que o pontífice tenha pedido que o Congresso acabe com esse tráfico. Também é muito importante a ênfase na paz e no uso do poder norte-americano em favor da reconciliação".
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no jornal La Stampa, 25-09-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Antes da sua chegada, Francisco era suspeito de antiamericanismo: parece-lhe que ele está captando o espírito dos EUA?
Não posso falar em nome de todo o país, mas o componente progressista certamente está contente com a sua mensagem. O elemento fundamental que eu notei foi a decisão de pôr em segundo plano as questões sociais. Ele não deixou de falar sobre a proteção da vida ou da família, que são aspectos fundamentais da sua fé, mas, como falava para todo o país, deu prioridade às questões que são importantes para todos.
A imigração, por exemplo.
É verdade, mas esse, no momento, é um problema europeu mais do que americano. Além dos extremistas como Trump, a maior parte dos políticos sensatos compartilha o fato de que os Estados Unidos são e continuarão sendo um país de imigrantes. Na Europa, ao contrário, vocês estão rejeitando tanto os imigrantes econômicos quanto os refugiados.
Ele disse que a atividade empresarial é uma vocação nobre, porque o crescimento serve para criar emprego e prosperidade, mas também é preciso distribuir a riqueza para ajudar os mais fracos.
Essa é uma mensagem que eu espero que seja ouvida especialmente pelos democratas. Os republicanos gostarão da primeira parte, mais do que da segunda, mas não entendo por que os democratas se tornaram tão tímidos sobre a questão da redistribuição. Afinal, a reforma da saúde de Obama é redistribuição.
Ele disse que a vida deve ser protegida em todas as fases, sem citar o aborto, mas, depois, pediu para abolir a pena de morte.
Esse é o elemento de novidade de que eu falava antes. Francisco continua sendo contrário ao aborto e deixa isso claro, mas ele sabe que é uma questão importante, sobretudo para os fiéis. Mas ele quer dialogar também com as pessoas seculares e, portanto, aponta para a pena de morte.
Ele não citou o casamento gay, mas não deixou dúvidas sobre o que ele falava quando disse que a família está ameaçada.
Claro. Sobre esse ponto, a meu ver, é relevante que seis dos nove juízes da Suprema Corte que legalizaram o casamento gay são católicos. Os expoentes mais extremistas da comunidade homossexual se opõem ao casamento, porque o veem como uma ameaça de normalização das suas vidas. Os católicos podem ser contrários por razões teológicas, mas não podem ignorar que se trata de um procedimento moralizante da sociedade.
Portanto, você promove Francisco em quase tudo?
Eu diria que sim e espero que ele gere "conversões" para as suas ideias.
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"Francisco quer falar com as pessoas seculares, por isso não mencionou o aborto." Entrevista com Michael Walzer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU