01 Julho 2015
Uma das muitas coisas maravilhosas da encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente “Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum” é que ela escrita num estilo muito acessível. Ela não se parece como um tomo acadêmico, como muitas das encíclicas no passado. Qualquer um que consiga ler um jornal poderá ler esta encíclica e tirar algo para si.
A reflexão é do jesuíta norte-americano Thomas Reese, publicada pelo sítio National Catholic, 26-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis a reflexão.
É verdade: são 190 páginas e cerca de 40 mil palavras. Mesmo assim, os seus seis capítulos fluem bem. Não é uma leitura difícil.
Esta encíclica é ótima para uma leitura individual, mas ainda melhor para uma leitura coletiva, ou para uma discussão em grupo. Ler e discutir a encíclica em um grupo é exatamente a finalidade do documento, pois do início ao fim há chamadas para o diálogo.
Não há necessidade de as pessoas parar e esperar enquanto os bispos e pastores organizam uma resposta à encíclica. Qualquer um pode baixar o texto integral na internet, chamar os amigos e dizer: “Vamos ler e discutir a encíclica”. Qualquer um que participe de um clube de leitura poderá recomendar que a encíclica seja a próxima leitura.
O impacto desta encíclica vai ser significativo até mesmo fora da Igreja Católica. Ambientalistas e cientistas subscreveram o documento. Da mesma forma, líderes religiosos não católicos estão ansiosos para discutir a encíclica, que se tornará um tema de diálogo ecumênico e inter-religioso.
Aqui apresento um guia de leitura com perguntas para na abordagem da encíclica. Devido à riqueza de conteúdo, eu gostaria de sugerir que, para a leitura e discussão, considere-se um capítulo de cada vez. Há muitas perguntas. Usem aquelas que acharem úteis; não se sintam obrigados a responder a todas elas.
UMA INTRODUÇÃO
O Papa Francisco começa a encíclica resumindo sua apresentação e citando papas anteriores e outros líderes religiosos que falaram sobre o meio ambiente. Ele diz que a Irmã Terra “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la”.
Questões:
1.- Onde você vê o mal infligido à Irmã Terra (Parágrafo 2)?
2.- Por que acha que poucas pessoas sabem que Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI falaram abertamente sobre questões ambientais (4-6)?
3.- São Francisco de Assis é chamado de santo padroeiro do meio ambiente. O que o faz interessante neste aspecto (10-12)?
4.- O Papa Francisco conclui a sua introdução com um apelo (13-16). Qual a sua resposta?
CAPÍTULO 1: O que está acontecendo com a nossa casa comum
O Papa Francisco crê firmemente na necessidade de se reunir os fatos a fim de que se compreenda um problema. O Capítulo 1 apresenta o consenso científico sobre as mudanças climáticas, juntamente com uma descrição de outras ameaças ao meio ambiente, incluindo as ameaças ao abastecimento de água e à biodiversidade. Ele também analisa a forma como a degradação ambiental afeta a vida humana e a sociedade. Finalmente, ele escreve sobre a desigualdade global da crise ambiental.
Questões:
1.- Como a poluição tem afetado você ou sua família?
2.- O que o papa quer dizer por “cultura do descarte” (22)? Você concorda com ele? Por quê?
3.- O que o papa quer dizer quando afirma: “O clima é um bem comum” (23)?
4.- Quais as evidências de que as mudanças climáticas estão acontecendo e que são causadas pela atividade humana (23)? Quais serão os seus efeitos?
5.- O papa diz que “o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal”, embora muitos pobres ainda não tenham acesso a ela (27-31). Por que isso acontece? O que pode ser feito?
6.- Por que o papa acha que a biodiversidade é importante (32-42)? Quais são as ameaças à biodiversidade?
7.- Quais são os efeitos da degradação ambiental, dos atuais modelos de desenvolvimento e da cultura do desperdício na vida das pessoas (43-47)?
8.- Por que o papa acredita que nós “não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social” (48)?
9.- Por que o papa acha que simplesmente reduzir os índices de natalidade dos pobres não é uma resposta justa nem adequada ao problema da pobreza ou à degradação ambiental (50)?
10.- “Há uma verdadeira ‘dívida ecológica’, particularmente entre o Norte e o Sul”, escreve o papa (51). O que ele quer dizer?
11.- Por que o papa acha que a resposta à crise ambiental tem sido fraca (53)?
CAPÍTULO 2: O Evangelho da criação
O papa sustenta que convicções religiosas podem motivar os cristãos a cuidarem da natureza e dos mais vulneráveis entre seus irmãos e irmãs. Ele começa com o relato bíblico da criação e, em seguida, medita sobre o mistério do universo, que ele considera uma revelação contínua do divino. “Tudo está relacionado, e todos nós, seres humanos, caminhamos juntos como irmãos e irmãs numa peregrinação maravilhosa, entrelaçados pelo amor que Deus tem a cada uma das suas criaturas e que nos une também, com terna afeição, ao irmão sol, à irmã lua, ao irmão rio e à mãe terra”. E conclui: “A terra é, essencialmente, uma herança comum, cujos frutos devem beneficiar a todos”.
Questões:
1.- Segundo o Papa Francisco, a Bíblia ensina que a harmonia entre o criador, a humanidade e a criação foi destruída por termos pretendido “ocupar o lugar de Deus, recusando reconhecer-nos como criaturas limitadas” (66). O que quer dizer “pretender ocupar o lugar de Deus”?
2.- Como Francisco interpreta Gênesis 1,28, que concede à espécie humana domínio sobre a terra (67)?
3.- Como Francisco usa a Bíblia para sustentar a sua visão de que a dádiva da terra com os seus frutos pertence a todos (71)?
4.- Ao refletir sobre o mistério do universo, o que Francisco quer dizer ao escrever que a “criação pertence à ordem do amor” (77)?
5.- Qual o nosso papel “neste universo, composto por sistemas abertos que entram em comunicação” onde “podemos descobrir inumeráveis formas de relação e participação” (79)?
6.- Francisco diz: “De certa maneira, quis [Deus] limitar-Se a Si mesmo, criando um mundo necessitado de desenvolvimento, onde muitas coisas que consideramos males, perigos ou fontes de sofrimento, na realidade fazem parte das dores de parto que nos estimulam a colaborar com o Criador” (80). Como você entende isso?
7.- Se o fim último das outras criaturas não deve ser encontrada em nós, como nós e as demais criaturas se encaixam nos planos de Deus (83)?
8.- Junto da revelação contida nas Escrituras, “há uma manifestação divina no despontar do sol e no cair da noite” (85). Como você tem vivenciado Deus na criação?
9.- Qual a sua reação ao hino de São Francisco de Assis (87)?
10.- “A tradição cristã nunca reconheceu como absoluto ou intocável o direito à propriedade privada, e salientou a função social de qualquer forma de propriedade privada” (93). Quando o direito à propriedade privada pode estar subordinado ao bem comum?
11.- Qual foi a atitude de Jesus para com a criação (96-100)?
CAPÍTULO 3: As origens humanas da crise ecológica
Embora a ciência e tecnologia “[podem] produzir coisas realmente valiosas para melhorar a qualidade de vida do ser humano”, elas também têm dado “àqueles que detêm o conhecimento e sobretudo o poder econômico […] um domínio impressionante sobre o conjunto do gênero humano e do mundo inteiro”. Francisco diz que estamos fascinados pelo paradigma tecnocrático, que promete crescimento ilimitado. Mas esse paradigma “supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a ‘espremê-lo’ até ao limite e para além do mesmo”. Os que defendem esse paradigma “[parecem] não preocupar-se com o justo nível da produção, uma melhor distribuição da riqueza, um cuidado responsável do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras. Com os seus comportamentos, afirmam que é suficiente o objetivo da maximização dos ganhos”.
Questões:
1.- Qual a atitude de Francisco para com a tecnologia? O que ele quer dizer por paradigma tecnocrático (101, 106-114)?
2.- Como Francisco sustenta que “os produtos da técnica não são neutros” (107, 114), que o “paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política” (109)?
3.- Francisco diz: “[somos demasiadamente lentos em criar] instituições econômicas e programas sociais que permitam aos mais pobres terem regularmente acesso aos recursos básicos” (109). O que ele quer dizer aqui? Por que isso acontece?
4.- Francisco afirma que “o mercado, por si mesmo, não garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social” (109). Por que ele diz isso? Você concorda?
5.- Francisco sustenta: “Buscar apenas um remédio técnico para cada problema ambiental que aparece, é isolar coisas que, na realidade, estão interligadas e esconder os problemas verdadeiros e mais profundos do sistema mundial” (111). Quais são os verdadeiros e mais profundos problemas do sistema global que Francisco tem em mente?
6.- Francisco convida a um olhar ampliado (112), a uma “corajosa revolução cultural” (114). Como seria isso na realidade?
7.- O que Francisco quer dizer por “antropocentrismo moderno” (115)?
8.- Para Francisco, “a crise ecológica é uma expressão ou uma manifestação externa da crise ética, cultural e espiritual da modernidade” (119). O que ele quer dizer por “relativismo prático” (122) e “cultura do relativismo” (123)?
9.- Por que Francisco sustenta que qualquer abordagem da ecologia integral deve também defender o trabalho, o emprego (124)?
10.- O que Francisco vê como aspectos positivos e negativos das tecnologias biológicas? (130-136)?
CAPÍTULO 4: Ecologia integral
Reconhecer as razões pelas quais uma determinada região está poluída exige uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza.
Questões:
1.- Por que Francisco defende que “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental” (139)?
2.- O que significa ter uma “abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza” (139)?
3.- Por que Francisco acha importante compreendermos os ecossistemas e a nossa relação com eles (140)?
4.- Por que “torna-se atual a necessidade imperiosa do humanismo, que faz apelo aos distintos saberes, incluindo o econômico, para uma visão mais integral e integradora” (141)?
5.- Francisco fala de uma “ecologia integral” que combina as ecologias ambiental (138-140), econômica (141), social (142) e cultural (134). O que essa expressão significa? Como funciona?
6.- Como os ambientes onde vivemos, os nossos locais de trabalho e o nosso bairro afetam a nossa qualidade de vida (147)?
7.- Como a pobreza, a superlotação, a falta de espaços abertos e as moradias precárias afetam os pobres (149)? Por que estas questões são também ambientais?
8.- O que Francisco quer dizer por “o bem comum” (156)?
9.- Quais as consequências de enxergar a terra como uma dádiva que recebemos livremente e que devemos compartilhar com os outros, uma dádiva que também pertence àqueles que virão depois de nós (159)?
10.- “Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lutamos? Que necessidade tem de nós esta terra?” (160)
11.- O que Francisco quer dizer com “as previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia” (161)?
12.- O que ele quer dizer quando afirma: “uma deterioração ética e cultural, que acompanha a deterioração ecológica” (162)?
CAPÍTULO 5: Linhas de abordagem e ação
O que devemos fazer? Francisco convida para um diálogo sobre política ambiental nas comunidades internacionais, nacionais e locais. Este diálogo deve incluir a tomada de decisões transparente de modo que a política esteja a serviço da realização humana – e não apenas dos interesses econômicos. Envolve também o diálogo entre as religiões e a ciência, trabalhando juntas para o bem comum.
Questões:
1.- A palavra “diálogo” é repetida ao longo de todo este capítulo. O que isso significa e por que Francisco acha o diálogo importante?
2.- Francisco fala da necessidade de um consenso global no confronto dos problemas. Por que este consenso é necessário? Como alcançá-lo?
3.- Por que ele acha que o “período pós-industrial talvez fique [lembrado] como [um dos] mais irresponsáveis da história” (165)?
4.- O que Francisco considera como sendo um sucesso ou falhas da resposta global às questões ambientais (166-169)?
5.- A quais estratégias internacionais Francisco se opõe na resposta à crise ambiental (170-171), e quais ele apoia (171-173)?
6.- Francisco sustenta: “A lógica que dificulta a tomada de decisões drásticas para inverter a tendência ao aquecimento global é a mesma que não permite cumprir o objetivo de erradicar a pobreza” (175). Que lógica é esta?
7.- “Perante a possibilidade duma utilização irresponsável das capacidades humanas”, afirma Francisco, “são funções inadiáveis de cada Estado planificar, coordenar, vigiar e sancionar dentro do respectivo território” (177). O que isso significa para o nosso país?
8.- “A Igreja não pretende definir as questões científicas nem substituir-se à política”, diz Francisco. “Mas convido a um debate honesto e transparente, para que as necessidades particulares ou as ideologias não lesem o bem comum” (188). Qual o papal apropriado da Igreja nas questões políticas, econômicas e ambientais?
9.- Francisco é crítico quanto a inúmeras práticas comerciais, não tem fé no mercado para salvaguardar o meio ambiente e vê um papel decisivo a cargo dos governos em regular a economia e proteger o meio ambiente. Como as pessoas em geral irão responder a isso? Como você responderá?
10.- O que Francisco quer dizer quando afirma: “Precisamos ‘converter o modelo de desenvolvimento global’” (194)? O que há de errado com os atuais modelos? Como seriam estes novos modelos?
11.- Quais são os papéis separados da religião e da ciência, e como elas podem dialogar e trabalhar juntas (199-201)?
CAPÍTULO 6: Educação ecológica e espiritualidade
Precisamos mudar e desenvolver novas convicções, atitudes e formas de vida, incluindo uma nova forma (um novo estilo) de viver. Isso requer não apenas uma conversão individual, mas também redes comunitárias para resolver a complexa situação que o mundo, hoje, enfrenta. Essencial aqui é uma espiritualidade que possa nos motivar a uma preocupação mais apaixonada para com a proteção deste nosso mundo. A espiritualidade cristã propõe um crescimento e uma realização marcados pela moderação e pela capacidade de ser feliz com pouco. O amor, que transborda com pequenos gestos de carinho mútuo, também é civil e político, e faz-se sentir em toda ação que busca construir um mundo melhor.
Questões:
1.- Ao longo de toda esta encíclica, Francisco relaciona a preocupação pelos pobres com o meio ambiente. Por que ele faz isso?
2.- Francisco critica o estilo de vida consumista (204). Como seria um novo estilo de vida?
3.- Qual pode ser o impacto político e econômico de uma mudança generalizada nos estilos de vida (206)?
4.- O que Francisco vê como o papel da educação ambiental no objetivo de se conscientizar e mudar os hábitos?
5.- O que Francisco quer dizer por uma espiritualidade ecológica, e como ela pode nos motivar a uma paixão pelo cuidado do nosso mundo (216)?
6.- Segundo Francisco, não basta que cada um seja melhor para se remediar a situação extremamente complexa que enfrentamos hoje. Qual o papal das redes comunitárias? E dos governos?
7.- Quais as atitudes que fomentam um espírito de cuidado generoso (220-227)?
8.- Visto todos os problemas que enfrentamos, o que traz alegria e paz ao Papa Francisco (222-227)?
9.- O amor deve também ser civil e político, de acordo com Francisco. “O amor social impele-nos a pensar em grandes estratégias que detenham eficazmente a degradação ambiental e incentivem uma ‘cultura do cuidado’ que permeie toda a sociedade” (231). Como podemos encorajar o amor civil e político em nosso país?
10.- Francisco propõe que o mundo natural seja integral em nossas vidas sacramentais e espirituais (233-242). Como você vivencia estas coisas?
11.- Como esta encíclica mudará a sua vida?
Para leituras adicionais sobre a encíclica, você poderá conferir outros artigos disponíveis em nosso sítio.
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Um guia de leitura para a Laudato Si’ - Instituto Humanitas Unisinos - IHU