24 Junho 2015
"Em outras palavras, a encíclica está recebendo tanta atenção dos meios de comunicação porque ela fala sobre o tema certo, na hora certa, e foi escrita pela pessoa certa.", escreve Thomas Reese, jornalista e jesuíta, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 18-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Algumas das perguntas mais frequentes que me foram feitas pelos jornalistas esta semana: Por que a encíclica do Papa Francisco importa? Que impacto ela terá? Por que ela está recebendo toda esta atenção?
Vamos começar com a última pergunta: Por que ela está recebendo toda esta atenção?
A encíclica “Laudato Si’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum” está recebendo tanto atenção por duas razões.
Em primeiro lugar, há um consenso crescente em todo o mundo de que precisamos cuidar melhor do meio ambiente. Existe o consenso científico de que as mudanças climáticas estão acontecendo e que é a atividade humana o que está causando isso. As pessoas estão ficando mais conscientes dos problemas ambientais, mas também estão vendo que, até agora, o mundo pouco tem feito para responder à crise.
A segunda razão por que a encíclica está recebendo tanta atenção é porque ela é do Papa Francisco. Este papa é admirado, respeitado e, até mesmo, amado em todo o mundo por católicos e não católicos. Todo mundo está fascinado por este papa, e ele tem a capacidade de se comunicar numa linguagem simples que as pessoas comuns conseguem entender.
É verdade que os papas anteriores falaram ou escreveram sobre o meio ambiente e o aquecimento global, mas a mensagem deles não penetrou no ambiente público por dois motivos. Primeiro, os meios de comunicação estavam mais interessados em escrever histórias sobre os papas e o uso de preservativos do que sobre os papas e o meio ambiente.
Segundo, nos dois últimos papados, as declarações papais tendiam a soar como teses acadêmicas. A Igreja nunca foi muito boa em comunicar o ensino social católico, fosse sobre justiça, a paz ou o meio ambiente.
Por outro lado, Francisco escreve mais como um jornalista do que como um acadêmico. Qualquer um que consiga ler um jornal pode ler esta encíclica e tirar alguma coisa dela.
Em outras palavras, a encíclica está recebendo tanta atenção dos meios de comunicação porque ela fala sobre o tema certo, na hora certa, e foi escrita pela pessoa certa.
Por que a encíclica do Papa Francisco importa?
Esta encíclica importa porque é uma mensagem de autoridade por um dos grandes líderes religiosos do mundo. Ela vai estimular homilias e discussões nas paróquias de todo o mundo. Tornar-se-á uma fonte de inspiração e ideias para ativistas, pregadores, professores, teólogos e autores que ecoarão e desenvolverão a mensagem do papa.
Em sua encíclica, o papa começa olhando para os fatos: O que temos feito à terra? Em seguida, ele argumenta que a forma como tratamos a terra, a forma como respondemos às alterações climáticas, são questões morais – na verdade, uma das questões morais mais importantes do nosso tempo.
Aqueles que argumentam que o papa deveria se restringir à fé e à moral, não se envolvendo em questões políticas, parecem ter uma visão limitada da problemática. O que pode ser uma questão moral mais importante do que aquela que pode causar a morte e o deslocamento de milhões de pessoas?
A encíclica é, também, um convite para o diálogo. O papa não tem a pretensão de possuir todas as respostas. Quanto mais específicas as suas recomendações políticas, menos autoritário ele se torna. Ele está convidando economistas, empresários, funcionários públicos, ambientalistas, inventores e líderes religiosos a se reunirem, todos, para uma conversa sobre como proteger o meio ambiente. Qualquer pessoa com uma boa ideia é bem-vinda.
Esta encíclica também importa porque coloca a Igreja Católica junto do movimento ambientalista. Com abraço do Papa, esse movimento entra para a grande mídia. Os seus integrantes não podem mais ser simplesmente tomados como “abraçadores de árvores” e “adoradores da Gaia”.
Apesar dos seus esforços, o movimento ambientalista teve apenas um sucesso limitado.
Francamente, as pessoas não mudarão os seus estilos de vida a fim de proteger os ursos polares. Mas se a história nos mostra alguma coisa, é que a religião pode motivar as pessoas a fazerem coisas extraordinárias. Motivos religiosos podem levar as pessoas ao autossacrifício, a desistirem de seu próprio interesse por um bem maior. O movimento ambientalista necessita de crentes de todas as religiões que estejam motivados por suas convicções religiosas a protegerem a criação de Deus.
Que impacto ela terá?
O papa está chamando o mundo para uma conversão que terá um enorme impacto sobre o modo como vivemos, sobre a forma como funciona a nossa economia e na maneira em que os governos operam. “Revolucionário” é uma palavra muito fraca. Exigir-se-á uma mudança extraordinária de opinião e de comportamento humano para que esta revolução pacífica se realize. Exigir-se-á um sacrifício de todos, especialmente dos ricos e poderosos, que estão usufruindo dos frutos do status quo.
Fazer o que o papa pede não será tarefa fácil. Todavia, ele nos encoraja a confiarmos em um Deus amoroso e em um espírito poderoso que podem renovar a face da terra. Esta sua encíclica é notável na medida em que não depende, primeiramente, do medo para motivar as pessoas a cuidarem da terra. Em vez disso, enfatiza o amor como força motivadora.
Não podemos esperar que a encíclica transforme milagrosamente as atitudes e os comportamentos humanos de um dia para o outro. Diferentemente, a encíclica é o começo de um processo que vai durar anos. Ela exige que cada um de nós se envolva neste longo trajeto. É uma maratona, não uma simples corrida.
Como cientista social, estou bastante pessimista em que podemos evitar uma catástrofe ambiental, porém, como um cristão, tenho que ter esperança. Esta encíclica do Papa Francisco fortalece essa esperança.
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Por que a encíclica do Papa Francisco tem importância - Instituto Humanitas Unisinos - IHU