Trump redobra o cerco à Venezuela e ordena impedir a entrada e saída do país de “petroleiros sancionados” pelos EUA

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17 Dezembro 2025

“A Venezuela está completamente cercada pela maior Marinha jamais reunida na história da América do Sul”. Essa é a mensagem do presidente dos EUA publicada nesta terça-feira à noite. De fato, Donald Trump está redobrando o cerco à Venezuela com o endurecimento do bloqueio à sua principal indústria e via de receitas e subsistência: o petróleo. Um petróleo que também é fundamental para que o país continue funcionando e para que haja gasolina capaz de mover pessoas, mercadorias e alimentos.

A informação é de Andrés Gil, publicada por El Salto, 17-12-2025.

“Até que Maduro se renda”: a estratégia de Trump com a Venezuela

O petróleo representa atualmente cerca de 88% dos 24 bilhões de dólares em receitas de exportação da Venezuela, e cada petroleiro apreendido corroeria os recursos necessários para importar alimentos e medicamentos, segundo o The New York Times. Os produtos vinculados à produção petrolífera, como os petroquímicos, representam grande parte do restante.

Assim, uma queda abrupta das receitas do petróleo poderia desencadear uma recessão e, consequentemente, escassez de alimentos para a população, o que poderia se traduzir em fome.

“Essa Marinha”, disse Trump, “continuará crescendo, e o impacto para eles será como nada do que já viram antes”. E acrescenta: “Até que devolvam aos Estados Unidos da América todo o petróleo, as terras e demais ativos que nos roubaram”.

No entanto, Trump não explica a que petróleo, ativos e territórios se refere, nem apresenta provas desse suposto roubo.

“O regime ilegítimo de Nicolás Maduro está utilizando o petróleo desses campos roubados para se financiar, assim como para o narcoterrorismo, o tráfico de pessoas, o assassinato e o sequestro”, prossegue Trump. “Pelo roubo de nossos ativos e por muitas outras razões, incluindo terrorismo, narcotráfico e tráfico de pessoas, o regime venezuelano foi designado como organização terrorista estrangeira. Portanto, hoje ordeno um bloqueio total e completo de todos os navios petroleiros sancionados [pelos EUA] que entrem ou saiam da Venezuela”.

O que Trump também não explica é qual base legal os EUA teriam para impedir que navios sancionados por Washington naveguem por águas internacionais ou venezuelanas.

O governo da Venezuela respondeu em comunicado ao anúncio de Trump: “Em suas redes sociais, ele assume que o petróleo, as terras e as riquezas minerais da Venezuela são de sua propriedade. E, em consequência, a Venezuela deve entregar imediatamente todas as suas riquezas. O presidente dos EUA pretende impor de maneira absolutamente irracional um suposto bloqueio militar naval à Venezuela com o objetivo de roubar as riquezas que pertencem à nossa pátria”.

E acrescenta: “De imediato, nosso embaixador junto à ONU procederá a denunciar essa grave violação do Direito Internacional contra a Venezuela. [...] Essa ameaça extravagante revela mais uma vez as verdadeiras intenções de Donald Trump de roubar as riquezas do país”.

Segundo Trump, “os imigrantes ilegais e criminosos que o regime de Maduro enviou aos Estados Unidos durante a fraca e inepta Administração Biden estão sendo devolvidos à Venezuela em ritmo acelerado. Os Estados Unidos não permitirão que criminosos, terroristas ou outros países roubem, ameacem ou prejudiquem nossa nação e, da mesma forma, não permitirão que um regime hostil se aproprie de nosso petróleo, de nossas terras ou de qualquer outro ativo, os quais devem ser devolvidos imediatamente aos Estados Unidos”.

O Congresso dos EUA reage a Trump

“Um bloqueio naval é, sem dúvida, um ato de guerra”, afirmou o deputado democrata Joaquín Castro (Texas). “Uma guerra que o Congresso nunca autorizou e que o povo americano não deseja. Na quinta-feira, a Câmara dos Representantes votará a resolução dos deputados Jim McGovern, Thomas Massie e minha, que ordena ao presidente pôr fim às hostilidades com a Venezuela. Cada membro da Câmara terá a oportunidade de decidir se apoia enviar americanos a outra guerra para derrubar um regime”.

Nesse contexto, há duas resoluções sobre poderes de guerra, para evitar que Trump lance um ataque unilateral contra a Venezuela, prontas para serem votadas nesta semana na Câmara dos Representantes antes do recesso natalino — resolução 61 e resolução 64.

As resoluções para pôr fim à campanha de Trump contra a Venezuela são impulsionadas pelos democratas de maior hierarquia nos Comitês de Relações Exteriores e de Regras da Câmara dos Representantes dos EUA, Gregory Meeks (Nova York) e Jim McGovern (Massachusetts).

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou nesta terça-feira, em comunicado anterior ao anúncio de Trump sobre as sanções dos EUA: “Gostaria de reiterar o impacto desproporcional que sanções generalizadas têm sobre as pessoas mais vulneráveis, assim como seus efeitos adversos no trabalho de algumas organizações de direitos humanos e humanitárias. Exorto para que as sanções sejam reavaliadas e suspensas”.

Francisco Rodríguez, pesquisador venezuelano da Universidade de Denver, autor de The Collapse of Venezuela (2025, University of Notre Dame Press) e analista do CEPR, lembra que “esta é a primeira vez que os EUA apreendem um petroleiro venezuelano. Se os EUA começarem a fazer isso de forma sistemática, isso implicaria essencialmente um bloqueio naval (...). A Venezuela pode vender petróleo à China, mas precisa encontrar petroleiros para fazê-lo”.

Alguns especialistas afirmam que a ameaça de Trump de apreender mais petroleiros venezuelanos pode violar o direito internacional e apontam a CONVEMAR (Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar), que proíbe a apreensão de navios estrangeiros sem autorização prévia do Estado de bandeira (...). O navio apreendido na sexta-feira navegava sem bandeira, segundo os EUA.

Trump aperta o cerco sobre a Venezuela por terra, mar e ar

Na quinta-feira passada, os EUA anunciaram sanções às seguintes companhias petrolíferas: Myra Marine Limited, registrada nas Ilhas Marshall, proprietária e gestora do navio White Crane; Arctic Voyager Incorporated, registrada nas Ilhas Marshall, proprietária registrada do navio Kiara M., com bandeira do Panamá; Poweroy Investment Limited, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas, proprietária registrada do navio H. Constance, com bandeira do Panamá; Ready Great Limited, registrada nas Ilhas Marshall, proprietária registrada do navio Lattafa, com bandeira do Panamá; Sino Marine Services Limited, registrada no Reino Unido, gestora e operadora do navio Tamia, com bandeira de Hong Kong; Full Happy Limited, registrada nas Ilhas Marshall, proprietária registrada e gestora do navio Monique, com bandeira das Ilhas Cook.

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