Advento: tempo de encontrar Cristo e assumir o propósito de imitá-Lo

Foto: Irmãs dos Pobres

12 Dezembro 2025

"Depois de ser perdoado, Zaqueu assume um compromisso com Cristo: a restituição do que é devido e a imitação daquele 'por quem se sentiu amado'. Como esclarece o Papa Francisco, a restituição não significa um preço a ser pago, mas um amor a ser imitado".

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestra em Filosofia pela Unisinos e mestra em Teologia pela PUCRS. 

A terceira forma de encontrar Cristo, disse René Latourelle, é no próprio encontro, além da Palavra e do testemunho. O encontro, como todo aquele que se dedica à vida espiritual sabe, tem vários graus de profundidade, como acentuou o jesuíta canadense. 

A observação do teólogo lembra o percurso feito por Jesus durante seu ministério. Encontrava-se com a multidão, da qual faziam parte aqueles que escutavam seus ensinamentos à distância e iam a seu encontro por diferentes motivações. Encontrava-se com os que foram curados e reconciliados, como nos recorda o evangelho deste domingo: “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11, 5). 

Encontrava-se com os que o desprezavam. Encontrava-se de modo mais próximo com os discípulos, que ouviam seus ensinamentos mais atentamente, sem nem sempre compreenderem tudo e, por vezes, distorcerem o que havia sido dito. Entre os discípulos, encontrou-se de modo mais íntimo com aqueles que orientou minuciosamente, seja por causa da missão, seja por que muito o amaram, seja por que renunciaram a tudo, inclusive a si próprios, para segui-Lo. 

Dos que se encontraram com Jesus, nem todos permaneceram. Isso é observável à medida que nem todos voltaram para dar glória a Deus pelas graças recebidas e porque nem todos aceitaram que o encontro transformasse todo o seu modo de ser. Mas, como recorda Latourelle, “se Cristo é Deus, a Verdade em pessoa, sua palavra se torna o ponto de apoio, a norma, o critério de tudo”. A fé, nesse sentido, não pode ser reduzida à repetição do credo, mas implica “uma decisão por Deus”, de modo que “toda a vida deverá girar em torno dessa decisão dramática que compromete o homen até o mais íntimo de seus desejos”, acrescenta o jesuíta. 

O encontro com Cristo foi amplamente acentuado pelo Papa Francisco nos doze anos de seu ministério como sucessor de Pedro e pastor da Igreja, a ponto de dizer que “o encontro com Jesus é mais importante do que todos os mandamentos”. Aliás, as últimas catequeses do Papa Francisco foram dedicadas aos encontros de Jesus com personagens do Evangelho. Dias antes de falecer, ele não pode comparecer à audiência semanal e a catequese sobre o encontro de Jesus com Zaqueu foi publicada pela Sala de Imprensa do Vaticano. O encontro entre ambos, revelou o pontífice na ocasião, é um “episódio de que particularmente gosto, pois ocupa um lugar especial no meu caminho espiritual”. 

Zaqueu, continuou, é apresentado pelo evangelista Lucas como “alguém que parece irremediavelmente perdido”. Acrescenta o Papa: ele “tinha feito escolhas erradas ou talvez a vida o tenha colocado em situações das quais não consegue sair”. Além disso, Zaqueu “é rico”; “enriqueceu às custas dos outros”. Mas ele sentia um “desejo” de ver Jesus, sublinha Francisco. 

Quando esse desejo é forte, continuou o Papa argentino, “é preciso coragem e não sentir vergonha, é preciso um pouco da simplicidade das crianças e não se preocupar demais com a própria imagem”. Zaqueu, nessa situação, narra o pontífice, “como uma criança, sobe em uma árvore. Deve ter sido um bom ponto de observação, especialmente para olhar sem ser visto, escondido no meio da folhagem” – a cena nos faz lembrar das várias vezes em que passamos por essa situação, indo ao encontro dele, esperando que ninguém nos visse. “Mas com o Senhor”, complementou o Papa, “o inesperado sempre acontece: Jesus, quando chega perto, olha para cima. Zaqueu se sente exposto e provavelmente espera uma repreensão pública”. 

Não era só Zaqueu quem esperava a repreensão de Jesus. As pessoas, menciona o Papa, “talvez tenham esperado por isso, mas ficarão desapontadas: Jesus pede a Zaqueu que desça imediatamente, quase surpreso por vê-lo na árvore, e lhe diz: ‘Hoje me convém pousar em tua casa!’ (Lc 19,5). Deus não pode passar sem procurar quem está perdido. Lucas destaca a alegria do coração de Zaqueu. É a alegria de quem se sente olhado, reconhecido e, acima de tudo, perdoado”. 

A história de Zaqueu e a catequese terminam com a narração do que se passa na casa do publicano. Depois de ser perdoado, Zaqueu assume um compromisso com Cristo: a restituição do que é devido e a imitação daquele “por quem se sentiu amado”. Como esclarece o Papa Francisco, a restituição não significa um preço a ser pago, mas um amor a ser imitado. 

Que neste Advento, possamos ir ao encontro de Cristo e voltar para casa com o coração cheio de alegria, assumindo o firme propósito de imitá-Lo.

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