09 Dezembro 2025
Semana passada, Hernández foi libertado de sua condenação de 45 anos por ligações com o tráfico de drogas. "Honduras pagou um preço muito alto pelo tráfico de drogas", argumenta o promotor Johel Zelaya.
A informação é de Carlos S. Maldonado, publicado por El País, 09-12-2025.
Os resultados das eleições em Honduras permanecem indefinidos, mas a sombra do ex-presidente Juan Orlando Hernández paira sobre a imprensa em meio à apuração dos votos. O procurador-geral do país centro-americano, Johel Zelaya, emitiu na segunda-feira uma ordem de prisão imediata do ex-presidente, que foi indultado por Donald Trump e libertado semana passada de uma prisão nos Estados Unidos, onde cumpria pena de 45 anos por tráfico de drogas. “Esta ordem deve ser cumprida”, afirma o documento oficial, alertando Hernández de que será preso caso pise em solo hondurenho.
“Fomos devastados pelos tentáculos da corrupção e por redes criminosas que marcaram profundamente a vida do nosso país. Por isso, por ocasião do Dia Internacional contra a Corrupção, comemorado amanhã, 9 de dezembro, informo ao povo hondurenho que instruí a ATIC (Agência Técnica de Investigação Criminal) e também exorto os órgãos de segurança do Estado e nossos aliados internacionais, como a INTERPOL, a executarem o mandado de prisão internacional contra o ex-presidente, acusado dos crimes de lavagem de dinheiro e fraude”, anunciou Zelaya em seu perfil nas redes sociais. “Nossa luta é frontal”, acrescentou. “Honduras pagou um preço muito alto pelo narcotráfico: famílias destruídas, jovens assassinados, comunidades cooptadas pelo crime organizado e milhares de hondurenhos forçados a migrar, fugindo da violência gerada por esse flagelo”, disse.
O anúncio surge uma semana depois de Hernández ter recuperado a sua liberdade e celebrado o seu regresso às redes sociais, onde expressou gratidão pelo indulto de Trump e pela sua "coragem" em fazer justiça. "Concederei um indulto total e completo ao ex-presidente, que, segundo muitas pessoas que respeito profundamente, foi tratado com grande dureza e injustiça", escreveu Trump na sua conta nas redes sociais. "Isto não pode ser permitido, especialmente agora, com a vitória eleitoral de Tito Asfura [como é conhecido o candidato conservador que apoia], Honduras caminha para um grande sucesso político e financeiro."
A prisão de Hernández pareceu saída de um filme. Ele desfrutou de apenas 18 dias de liberdade como ex-presidente. Após entregar a presidência a Xiomara Castro no final de janeiro de 2022, o político foi preso em sua casa e o processo de extradição teve início — um duro golpe para um homem que se definia como um aliado incondicional de Washington. Hernández assumiu a presidência de Honduras em 2014. Seu governo alegava manter uma relação próxima com os Estados Unidos na luta contra o narcotráfico, para a qual recebeu cooperação e apoio no combate às drogas e à imigração. O presidente vangloriava-se de implementar uma política de linha dura contra o crime, que logo foi manchada por acusações cada vez mais persistentes. Na carta que enviou a Trump solicitando indulto, ele enfatizou sua fiel cooperação com diversas agências americanas. “Minha condenação é injusta. Assim como você, sofri perseguição política”, afirmou na carta. Hernández não comentou o anúncio feito pelo procurador-geral de Honduras.
O que ficou claro para os analistas hondurenhos é que os comentários e decisões de Trump influenciaram o resultado da eleição, que permanece incerto devido à demora na apuração dos votos, em parte por conta da incapacidade técnica da empresa contratada para realizá-la. Houve outro atraso durante o fim de semana, sem que a autoridade eleitoral desse qualquer explicação. A Organização dos Estados Americanos (OEA), por meio de sua missão de observação eleitoral, criticou "a flagrante falta de expertise no desenvolvimento e execução" da contagem dos votos e pediu a aceleração do processo, enquanto o partido governista, Libre, exige a anulação da eleição presidencial. A contagem ainda mostra um resultado muito apertado, mas dá uma ligeira vantagem ao candidato conservador Nasry Asfura, apoiado por Trump, que tem 40,50% dos votos, enquanto seu rival, o liberal Salvador Nasralla, tem 39,1% dos votos, com mais de 88% das urnas apuradas.
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