02 Dezembro 2025
As vendas dos 100 maiores fabricantes de armas do mundo aumentaram 5,9% em 2024, atingindo um faturamento de aproximadamente 679 bilhões de dólares. Essa informação consta em um novo relatório do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI). Embora os principais motivos estejam ligados aos conflitos em Gaza e na Ucrânia, o relatório também destaca outras razões preocupantes e significativas. Em primeiro lugar, a situação das indústrias bélicas das duas maiores potências mundiais, os Estados Unidos e a China.
A informação é de Guglielmo Gallone, publicado por L'Osservatore Romano, 01-12-2025. A tradução é e Luisa Rabolini.
Washington permanece o principal polo global, com vendas de 334 bilhões de dólares (+3,8%) e seis gigantes entre os dez maiores fabricantes do mundo. No entanto, enfrenta uma série de problemas — atrasos nas entregas, gargalos na cadeia de suprimentos e escassez de componentes críticos — que, além de desacelerar programas estratégicos como a produção de F-35, dos submarinos da classe Columbia e do míssil intercontinental Sentinel, parecem revelar o verdadeiro problema dos Estados Unidos: a falta de uma base industrial sólida. A transformação para um sistema baseado em alta tecnologia e finanças, em vez de manufatura, produziu armas sofisticadas, mas que são difíceis de produzir em larga escala, ainda mais porque o setor militar sofre com uma grave escassez de mão de obra especializada, depende do exterior para as matérias-primas e se encontra em uma espécie de oligopólio, onde os produtores de sistemas-chave passaram de dezenas para apenas algumas unidades.
A China também está atravessando uma fase de dificuldades, inesperadas para um país que investiu durante anos na modernização militar, como demonstrado pela recente conclusão do Fujian, o primeiro porta-aviões desenvolvido e construído inteiramente no país. Em 2024, a receita combinada das oito empresas chinesas listadas pelo SIPRI caiu 10%, ficando em 130 bilhões de dólares. Essa é a maior queda geral entre todos os países monitorados, tornando a região Ásia-Oceania a única a registrar uma redução geral, correspondente a 1,2%, 130 bilhões de dólares.
O SIPRI atribui essa queda a múltiplos fatores internos à China, principalmente as investigações de corrupção no complexo industrial militar e a redução da atividade manufatureira, que vem caindo há oito meses consecutivos.
Potências de médio porte parecem estar se aproveitando dessa desaceleração. A Coreia do Sul, com um aumento de 31% nas vendas, está se tornando o principal fornecedor do Ocidente, principalmente graças à Hanwha, que fornece artilharia, sistemas antiaéreos e tanques para a Europa. Também as empresas militares japonesas, sob estímulo governamental e percebendo a pressão da Coreia do Norte, Rússia e China, aumentaram suas receitas em 42%. E também há o Oriente Médio, onde o relatório do SIPRI revela a verdadeira novidade: nove empresas do Oriente Médio estão entre as top 100 — nunca antes acontecido — com um faturamento total de 27 bilhões de dólares (+14%). Mas há mais: Israel, com 14 bilhões (+14%), representa sozinho mais da metade da receita total da região. As críticas internacionais e as decisões políticas relativas à guerra de Israel em Gaza não parecem ter arrefecido as compras de armas; pelo contrário.
O Oriente Médio, porém, não é o único teatro de guerra onde as vendas de armas estão em alta. As duas empresas russas presentes nas top 100, Rostec e United Shipbuilding Corporation, aumentaram suas receitas totais com a venda de armas em 23%, para 31,2 bilhões de dólares, apesar das sanções internacionais. Os fabricantes de armas europeus também estão registrando crescimento nas vendas: dos 36 pesquisados, 23 viram suas receitas aumentarem, com o volume total subindo 13%, para 151 bilhões de euros, impulsionado pelo rearmamento após a invasão da Ucrânia pela Rússia e pela necessidade de reabastecer os estoques esgotados. Esse crescimento robusto, mas que, no entanto, observa o SIPRI, enfrenta a dependência de minerais críticos, especialmente da China.
Esses poucos números revelam um mundo em que, como já lembrava o Papa Francisco em sua última mensagem Urbi et Orbi, a exigência de cada povo prover à sua própria defesa parece estar se transformando em uma corrida armamentista generalizada. Mais do que estratégias de longo prazo, diálogo ou empenho, o que parece importar são as urgências contingentes, a necessidade de reafirmar a estratégia do mais forte e de inflar os orçamentos nacionais produzindo aqueles que o Papa Leão XIV, em sua audiência com o corpo diplomático em 16 de maio, havia definido de "instrumentos de destruição e de morte": porque assim nenhuma paz pode ser realmente possível.
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