02 Dezembro 2025
O medo da morte ou de morrer é tão antigo quanto a própria humanidade. Independentemente do que vem depois, a Bíblia também nos ensina como lidar com a morte. Três exemplos das Escrituras são particularmente úteis.
A reportagem é de Carina Adams, publicada por Katholisch, 29-11-2025.
Especialmente no Antigo Testamento, muitas pessoas morrem. Algumas são simplesmente registradas em genealogias, outras são vítimas anônimas de grandes massacres. Muitas pessoas morrem de forma terrível nas guerras dos reis. Mas, em algumas passagens, os autores também examinam a morte mais de perto. O fim dessas pessoas pode nos oferecer conforto e lições. A morte se torna o ápice de uma boa vida — seja prematura ou em idade avançada. Sempre vemos: Deus está presente.
Moisés – Falhou por um triz?
Muitos e muitos anos se passaram desde a sarça ardente e os Dez Mandamentos quando Moisés subiu novamente a uma montanha. Segundo a Bíblia, ele tinha "120 anos quando morreu" (Deuteronômio 34,7). Nessa idade bíblica proverbial, ele contemplou a terra prometida, mas jamais a alcançou.
A Bíblia enfatiza sua boa saúde e não explica se a velhice foi a causa de sua morte. Afinal, Abraão viveu até os 175 anos. Diferentemente dele, Moisés não morre "cheio de vida" (Gênesis 25,8) com uma herança estabelecida, cercado por seus entes queridos. Entretanto, tudo acontece "como o Senhor havia ordenado" (Deuteronômio 34,5). Embora ele pudesse ter vivido mais tempo, ele nunca chega a entrar na terra prometida, e sua família não está lá.
A vida de Moisés — do começo ao fim nas mãos de Deus — termina com o cumprimento de sua missão. Ele conduziu seu povo para fora da escravidão e pode ter certeza de que eles alcançarão a terra que Deus lhes mostrará. E ele não morre sozinho. No fim, eles estão juntos novamente: Moisés e Deus, que cumpriu sua promessa.
Jó – Ansiando pela Paz
Jó anseia pela morte. Ele chega a desejar nunca ter vivido, tão insuportável lhe parece o seu sofrimento. "Eu ainda não tinha tido paz, nem descanso, nem trégua, quando me sobreveio uma nova aflição" (Jó 3,26), lamenta ele aos seus amigos.
E eles não facilitam as coisas para ele. Suspeitam que toda essa desgraça seja um castigo por algo que Jó fez. Em desespero, ele acusa Deus de não merecer nada disso. E a Bíblia concorda com ele; desde o início, ele é descrito como "íntegro e reto" (Jó 1,1). Talvez seja justamente essa injustiça e as palavras desconfortáveis de seus amigos que ajudam Jó.
A dor de suas perdas e sua condição física lhe parecem insuportáveis. Ele descreve a morte como o lugar onde repousam aqueles "cuja força está esgotada" (Jó 3,17). Contudo, Jó ainda possui alguma força, talvez provocada pela injustiça que sofreu. Irado e desesperado, ele desafia a Deus e seus amigos. Ele não se afasta de Deus.
Quando ele de fato morre muitas décadas depois, sua morte completa o sucesso da provação. Ele morre como as grandes figuras do Antigo Testamento. Como Judite, ele deixa sua herança para uma família numerosa em sua velhice. Como Abraão, ele morre "muito velho e farto de anos" (Jó 42,17).
Estevão – determinado e convicto?
O primeiro mártir também conhecia bem a história de Moisés. Ele testemunhou sobre ela perante o sumo sacerdote, que perguntou: "Qual dos profetas os vossos antepassados não perseguiram?" (Atos 7,52).
As palavras acusatórias de Estêvão, criticando a morte de Jesus, levaram à sua própria ruína. O povo "tapou os ouvidos" (Atos 7,57), recusando-se a ouvir sua mensagem. A ira da multidão resultou em seu fim trágico.
Um dos envolvidos no apedrejamento viria a se tornar o Apóstolo dos Gentios. Mas a morte de Estêvão não é apenas um impressionante testemunho de um homem de convicções fortes. Ele morre em paz consigo mesmo e diz aos seus assassinos: "Senhor, não lhes imputes este pecado!" (Atos 7,60).
Por mais conhecida que seja essa citação, essa mentalidade permanece incompreensível. O mártir não alcançou isso sozinho, por meio de pura força de vontade. Antes de sua morte, ele viu "a glória de Deus e Jesus em pé à direita de Deus" (Atos 7,56). Assim como Moisés e Jó, Estêvão não foi deixado à própria sorte diante da morte. Deus estava lá.
Leia mais
- O sentido da morte e do luto! A morte não existe (Jo 8,51-59). Artigo de Jacir de Freitas Faria
- O que sentimos e pensamos no momento da morte?
- A morte como invenção da vida. Artigo de Leonardo Boff
- O grito de Jesus na cruz: um convite para ouvir e viver a Paixão do mundo
- E o homem criou a morte. Artigo de Enzo Bianchi
- A crise da Igreja é fruto da fraqueza da fé na ressurreição
- O sentido da morte e da vida!
- Questionamentos e certezas dançando com a morte
- Relembrar os mortos para homenagear a vida
- “Uma sólida experiência de sentido não se esgota nas dimensões particulares da existência humana”. Entrevista especial com Ana Paula Reis
- Todos morremos incompletos no mergulho insondável do mistério. Entrevista especial com Luiz Carlos Susin e Faustino Teixeira
- Morte. Uma experiência cada vez mais hermética e pasteurizada. Revista IHU On-Line, Nº. 496
- Morte. Resiliência e fé. Revista IHU On-Line, Nº. 279
- A morte. Revista IHU On-Line, Nº. 121