A Natureza das Coisas Invisíveis. Comentário de Neusa Barbosa

Cena do filme "A natureza das coisas invisíveis" | Foto: Divulgação

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02 Dezembro 2025

Glória tem 10 anos e passa as férias no hospital onde sua mãe trabalha como enfermeira. Lá ela conhece Sofia, uma menina que está convencida de que a piora na saúde da bisavó é causada pela internação no hospital. Unidas pelo desejo de sair dali, as crianças encontram conforto na companhia uma da outra. Quando a partida se torna inevitável, as meninas e suas mães seguem para um refúgio no interior do Goiás para passar os últimos dias de um verão inesquecível. Nos cinemas.

O comentário é de Neusa Barbosa, jornalista e crítica de cinema, publicado por CineWeb, 04-11-2025.

Eis o artigo.

Vencedor de três prêmios no Festival de Gramado - Prêmio Especial do Júri, melhor trilha e atriz coadjuvante (Aline Marta Maia) -, e premiado em diversos outros festivais, o filme de de Rafaela Camelo percorre vários gêneros, temas e tons - e isto não é um problema, dada a maneira delicada e conscienciosa que a diretora brasiliense, estreante em longa solo, consegue imprimir ao ritmo de seu trabalho.

A diretora, aliás, vem sendo notada em festivais internacionais, a partir de 2019, quando seu curta O Mistério da Carne foi selecionado em Sundance. Em 2023, Rafaela dividiu a direção do curta As Miçangas com Emanuel Lavor, que foi exibido no Festival de Berlim, assim como este novo longa, que abriu a seção Generation em 2025.

Há uma atmosfera profundamente feminina nesta história, que une as trajetórias de duas mães solo, a enfermeira Antônia (Larissa Mauro) e a neta de uma paciente, Simone (Camila Márdila). Cada uma delas tem uma filha e as duas meninas, que se conhecem no hospital, acabam formando uma ligação que é uma das espinhas dorsais da narrativa.

As duas meninas são Glória (Laura Brandão), filha de Antônia, e Sofia (Serena), filha de Simone - e dão um show de interpretação sutil e sincera, que é um dos encantos desta história. Elas são duas crianças reais, normais, com nuances, altos e baixos, que se relacionam em cena com uma espontaneidade admirável - certamente fruto do trabalho de preparação no set, que a diretora, na coletiva do filme em Gramado, destacou ter sido consistente com a intenção de atingir um clima afetuoso, de intimidade, que pontua a história de ponta a ponta.

Um outro mérito deste filme delicado e afetuoso é fazer isso a partir de temas espinhosos. A idéia de morte, de luto, permeia várias situações desde o início, a partir da circunstância de que Glória passa muito tempo com a mãe no hospital, em contato com pacientes idosos, alguns terminais. Ela mesma é sobrevivente de um transplante, o que lhe dá uma experiência com a idéia de finitude fora do alcance da maioria das crianças. Um desses pacientes será a bisavó de Serena (Aline Marta Maia), cuja crise maior é com a própria mãe, resultado de um conflito de identidade que o filme explicará mais adiante.

Há também outras dicotomias atravessando o filme, como a dualidade entre a cidade (Brasília, no caso) e o campo - representado pelo sítio da bisavó, para onde finalmente todas as personagens se dirigem.

Esse corte na narrativa aprofunda uma outra camada do filme, explorando um aspecto de realismo mágico, de espiritualidade, que se integra às sensações de um enredo que delimita um ambiente bastante complexo e instigante. Para isso, é importante a presença no elenco de personagens que são atrizes não-profissionais, as benzedeiras Iara e DonAna, que injetam uma verdade em algumas sequências que se acomoda com naturalidade àquilo que A Natureza das Coisa Invisíveis está querendo revelar.

Ficha técnica

Nome: A Natureza das Coisas Invisíveis
Ano: 2025
País: Brasil
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 90 minutos
Classificação: 12 anos
Cor da filmagem: Colorido
Direção: Rafaela Camelo
Elenco: Laura Brandão, Serena, Larissa Mauro, Camila Márdila, Aline Marta Maia

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