09 Outubro 2025
“Fico feliz que o Pontífice tenha intervindo com palavras tão firmes e claras, endossando a posição expressa pelo Cardeal Parolin."
A entrevista é de Alessandra Ziniti, publicada por La Repubblica, 08-10-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Anna Foa, uma das principais especialistas em história dos judeus na Europa e na Itália, como a senhora avalia o discurso do Papa Leão?
De grande importância. Eu realmente não entendo o que o embaixador israelense na Santa Sé poderia criticar sobre as declarações do Cardeal Parolin. O massacre de palestinos não poderia ter sido equiparado ao do Hamas de 7 de outubro?
Israel contesta a equivalência moral.
O 7 de outubro não é de forma alguma um episódio da luta de libertação. É um ato de terrorismo extremamente violento, condenável em todos os sentidos, que marcou o destino do Oriente Médio, mas que acredito também deve ser visto como o olhar de dois anos depois. Um genocídio que se arrasta por dois anos é certamente comparável ao 7 de outubro. Nunca teria imaginado que veria Gaza arrasada. E, portanto, acredito que as palavras do Cardeal Parolin sejam compartilháveis e inequívocas. E não entendo como poderiam prejudicar o julgamento sobre o que o Hamas cometeu. Eu diria que Israel está se mostrando extremamente suscetível.
Além disso, segundo Israel, a entrevista de Parolin poderia até sabotar as negociações de paz.
De que forma? Parece-me absurdo afirmar que aquele juízo sobre o genocídio possa prejudicar as negociações. Elas não envolvem a Santa Sé, nem mesmo a avaliação do que está acontecendo em Gaza. São os historiadores que terão que dizer o que aconteceu. Parece-me, ao contrário, que o governo de Netanyahu está fazendo tudo o que pode para evitar que essas negociações se concretizem. A ponto de descontar na Santa Sé.
Acredita que há uma chance real de que as negociações se concretizem?
Há muito tempo parei de avaliar o que Netanyahu faz e o que Trump tem condições de levá-lo a fazer. Sei que esse plano de paz apresenta muitas falhas e até coisas inaceitáveis para os palestinos, mas acho que é algo mais do que uma luz no fim do túnel. Espero que se consiga realmente encontrar um acordo que leve a uma paz duradoura; quero ter confiança. Cada dia que passa tem um custo muito alto em vidas humanas e sofrimento. E é necessário que todos os atores envolvidos façam o máximo para pôr fim a esse massacre em Gaza.
O Papa Leão, em seu discurso, também expressou profunda preocupação com a disseminação do ódio e do antissemitismo.
Um lembrete importante que também o Presidente Mattarella fez nos últimos dias. É um grande problema amplificado por Netanyahu, que o evoca todos os dias, acusando a todos, inclusive a ONU. Só falta acusar também o Papa. Em um mundo onde tudo é antissemitismo, nada o é. Neste momento, alcançar a paz e pôr fim ao massacre em Gaza certamente teria o efeito imediato de reduzir o nível de antissemitismo.
Leia mais
- O Papa sobre o ataque de Israel a Parolin: "O cardeal expressou a opinião da Santa Sé"
- "Gaza é uma carnificina. O plano de Trump deve envolver os palestinos", afirma Pietro Parolin, secretário de estado do Vaticano
- Parolin: "Estamos à beira do desastre; a escalada é assustadora." A Flotilha? "Ainda bem que estamos ajudando Gaza"
- Parolin: "O que está acontecendo em Gaza é inaceitável"
- A luta de Parolin, o governo de Leão XIV: a direção compartilhada entre o secretário de Estado e o Papa sobre Gaza e a diferença com o centralizador Bergoglio. Artigo de Francesco Grana
- O Papa ouve Abu Mazen: "A ajuda humanitária para Gaza é urgentemente necessária"
- "É hora de acabar com este massacre": Leão XIV liga para Pizzaballa após entrar em Gaza com ajuda humanitária
- "A devastação em Gaza tem sido sistemática. Agora é um deserto", constata relatório da ONU
- Dois anos de extermínio que permitem a Israel perpetuar sua presença em Gaza e mudar a ordem no Oriente Médio