29 Setembro 2025
"Com a nomeação de Iannone como Prefeito dos Bispos, função que também inclui a presidência da Pontifícia Comissão para a América Latina, o Papa coloca um jurista e canonista especialista de 67 anos à frente de um dicastério fundamental da Cúria", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 20-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O Papa escolheu, como sucessor na direção do órgão curial que ele liderava antes de ser eleito, o prefeito canonista do Dicastério para os Textos Legislativos. Ex-vigário da diocese de Nápoles, com ele um italiano retorna a um cargo-chave da Cúria Romana. Chegou a primeira nomeação de um prefeito de dicastério feita por Leão XIV. Pouco menos de cinco meses após sua eleição, o Papa escolheu seu sucessor no Dicastério para os Bispos. Trata-se de Filippo Iannone, até então prefeito do Dicastério para os Textos Legislativos, e agora colocado à frente do órgão curial liderado até poucos meses atrás pelo próprio Cardeal Prevost.
O Pontífice preencheu assim a lacuna deixada pela sua eleição à Sé de Pedro, confirmando a abordagem prudente do Papa na construção da sua equipa de governo.
O retorno de um italiano
O primeiro ponto a destacar é o retorno de um italiano, após 15 anos, ao comando do dicastério, que desempenha um papel decisivo na seleção de bispos em nível mundial. Em 2010, Bento XVI nomeou o canadense Marc Ouellet, para a liderança da então Congregação para os Bispos. Depois, em 30 de janeiro de 2023, Francisco nomeou Robert Francis Prevost para liderar o Dicastério para os Bispos, chamando-o a Roma da Diocese de Chiclayo, no Peru, abrindo efetivamente o caminho para a sua eleição. O último italiano a liderar o Dicastério dos Bispos (de 2000 a 2010) havia sido o Cardeal Giovanni Battista Re, uma figura-chave no poder curial.
Com a nomeação de Iannone como Prefeito dos Bispos, função que também inclui a presidência da Pontifícia Comissão para a América Latina, o Papa coloca um jurista e canonista especialista de 67 anos à frente de um dicastério fundamental da Cúria.
Leão XIV também confirmou o secretário (Ilson de Jesus Montanari, prelado brasileiro já em seu segundo mandato) e o subsecretário (Monsenhor Ivan Kovač) do mesmo dicastério.
Antes de hoje, a única outra nomeação feita pelo novo Papa na Cúria havia sido aquela da Irmã Tiziana Merletti, religiosa do Instituto das Irmãs Franciscanas dos Pobres, como secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades Apostólicas, em 22 de maio — poucos dias após sua eleição.
Um cargo-chave
Deve-se enfatizar que, de acordo com a nova Constituição Apostólica que redefiniu os cargos e funções da Cúria Romana, Praedicate Evangelium, o Dicastério dos Bispos “provê a tudo o que diz respeito à nomeação dos Bispos diocesanos e titulares, dos administradores apostólicos e, em geral, à provisão das Igrejas particulares". Além disso, "o Dicastério, de acordo com as Conferências episcopais e as suas Uniões regionais e continentais, indica os critérios para a escolha dos candidatos. Tais critérios devem ter em conta as diferentes exigências culturais e ser avaliados periodicamente". Por fim, "o Dicastério ocupa-se igualmente da renúncia dos Bispos ao seu cargo, em conformidade com as disposições canônicas".
O empenho na frente dos abusos
Iannone tem uma longa carreira que se desenvolveu ao longo de quatro pontificados: de João Paulo II, passando por Bento XVI e Francisco, e agora Leão XIV.
Ele atuou como vigário-geral da diocese de Nápoles e vice-gerente da diocese de Roma. Lecionou Direito Canônico como professor associado na Pontifícia Faculdade Teológica da Itália meridional e lecionou como professor visitante em alguns institutos superiores de ciências religiosas e na Escola de Especialização em Direito Eclesiástico e Canônico da Faculdade de jurisprudência da universidade Federico II de Nápoles. Em 7 de abril de 2018, foi nomeado pelo Papa Francisco presidente do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos.
Como canonista, atuou em sínodos, reforma da Cúria e abusos sexuais na Igreja. Lidera um grupo de estudos do Vaticano que teria a obrigação de definir o crime de "abuso espiritual", composto por membros do Dicastério para a Doutrina da Fé e do Dicastério para os Textos Legislativos.
Em outubro de 2024, em entrevista ao Vatican News sobre as novas normas promulgadas pelo Papa em relação aos abusos sexuais, ele observou: "A normativa canônica para a repressão e punição dos crimes de abuso de menores e pessoas adultas vulneráveis foi modificada nos últimos anos (...). Em todos os textos legislativos, o foco está cada vez mais no bem das pessoas cuja dignidade é violada e no desejo de realizar um ‘justo’ processo em conformidade com os princípios fundamentais do ordenamento jurídico”. Portanto, o aspecto relativo à questão do escândalo dos abusos provavelmente terá seu peso nas nomeações que o Papa vier a fazer nos próximos anos.
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