27 Setembro 2025
"Enquanto os traidores de ontem agiam nas sombras, os de hoje se exibem nas redes sociais e se declaram admiradores da nação que abre injusta e inaceitável guerra comercial contra o Brasil".
O artigo é de Marcos Rolim, jornalista, doutor em Sociologia, publicado por Extra Classe, 22-09-2025.
Eis o artigo.
A expressão “Quinta-Coluna” surgiu durante a Guerra Civil Espanhola, em 1936, quando quatro colunas militares do Exército franquista avançavam sobre Madri, e simpatizantes fascistas na cidade desenvolviam ações de sabotagem ao governo da Frente Popular. Esse grupo foi chamado, então, de “Quinta-coluna” para designar como traição o papel de agentes internos que enfraquecem as defesas nacionais ou abrem caminho para tropas invasoras. Algumas fontes históricas referem que o general golpista Gonzalo Queipo de Llano y Serra, conhecido por ter ordenado assassinatos em massa em Sevilha, teria dito: “A quinta-coluna está esperando para saudar-nos dentro da cidade”.
No contexto da Segunda Guerra Mundial, a expressão foi muito utilizada para identificar pessoas ou grupos que, de dentro dos países aliados, colaboravam com o Eixo por meio de espionagem, sabotagem, propaganda subversiva e difusão de boatos. As ações dos traidores se davam, assim, tanto no plano militar quanto no plano psicológico, para desmoralizar a resistência.
Um exemplo notável ocorreu nos Países Baixos, em maio de 1940, durante a invasão alemã. Membros do movimento fascista holandês Nationaal-Socialistische Bewwring (NSB), liderado por Anton Adriaan Mussert, atuaram de forma coordenada para ajudar os nazistas, fornecendo listas de opositores e de judeus às autoridades alemãs, sabotando comunicações e vias de transporte militar holandês e guiando as tropas alemãs por rotas alternativas para evitar a defesa.
Essas ações produziram danos imensos e os responsáveis por elas foram, após a Guerra, denunciados, processados e julgados, sendo executados como traidores entre 1945 e 1946, sendo o partido fascista holandês banido. Sobre o papel vergonhoso do colaboracionismo e a importância da resistência na Europa ocupada, aliás, vale muito assistir ao filme Número 24 (Netflix), que conta, de maneira especialmente delicada, a história do herói Gunnar Sønsteby, líder da resistência norueguesa.
O Brasil também teve os seus quinta-coluna como ficou comprovado no caso da rede de espionagem desmantelada no porto de Santos em 1942. Um dos líderes desse esquema era o alemão Albrecht Gustav Engels (codinome “Alfredo”), que organizou uma rede de simpatizantes locais, entre eles um certo Josef Starziczny, que foi preso enquanto espionava a movimentação de navios aliados.
Com auxílio do FBI, a polícia brasileira chegou a dezenas de outros colaboradores. Os quinta-coluna, nesse caso, informavam sobre o movimento de navios para submarinos alemães no Atlântico. A rede de espionagem foi formada por imigrantes alemães, muitos naturalizados; por membros e simpatizantes da Ação Integralista Brasileira (AIB) e por alguns militares e técnicos (pilotos, engenheiros), que, por convicção ideológica ou interesse, colaboraram, oferecendo também dados sobre aeródromos, pistas e movimentação de aviões.
Tudo isso é história que, no Brasil, se repete agora, ainda que como farsa, na conduta da família Bolsonaro. É, de fato, incrível que um deputado federal se licencie de seu mandato e se mude para os Estados Unidos para demandar de seu aliado de extrema-direita sanções ao Brasil para debilitar sua economia na tentativa de obstaculizar o funcionamento do Poder Judiciário.
As armas aqui não são fuzis nem transmissões clandestinas de rádio, mas lobby externo que caracteriza o mais flagrante ato de traição à Pátria que se tem notícia.
A diferença básica com os quinta-coluna está na forma. Enquanto os traidores de ontem agiam nas sombras, os de hoje se exibem nas redes sociais e se declaram admiradores da nação que abre injusta e inaceitável guerra comercial contra o Brasil, país que os quinta-coluna juraram defender.
Estamos, salvo melhor juízo, lidando aqui com crime contra a soberania nacional, prática tipificada pelo artigo 359-L do Código Penal: “Negociar com governo ou grupo estrangeiro, ou seus agentes, com o fim de provocar atos típicos de guerra contra o País ou invadi-lo”.
O fato já seria de uma gravidade extraordinária, mas o que há de pior em torno dele não é nem sequer a ação dos traidores empenhados apenas em salvar um covarde da cadeia.
O que espanta é que os quinta-coluna tenham uma legião de apoiadores no Brasil, a começar pela bancada da extrema-direita no Congresso Nacional, cujos representantes chegaram ao ponto de abrir bandeira em apoio a Trump na sede do Poder Legislativo.
O mesmo Poder que, aliás, não foi até agora nem sequer capaz de cassar o mandato do traidor. Assim, a ação lesa-pátria é transformada em ato de “resistência” e naturalizada por parte significativa da mídia, como se fosse a extensão da tal “polarização” política-ideológica, impreciso conceito que acomoda as mentes cansadas e os oportunistas e legitima a ação dos bandidos contra o Brasil.
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