19 Setembro 2025
A assembleia será realizada em Nova York na segunda-feira. O objetivo é um reconhecimento "por etapas". Paris: "A aposta diplomática foi ganha".
A reportagem é de Anais Ginori, publicada por La Repubblica, 19-09-2029.
O evento está marcado para segunda-feira. Emmanuel Macron chegará à Assembleia Geral da ONU em Nova York e, juntamente com outros países, formalizará o reconhecimento do Estado da Palestina. Quando o líder francês anunciou a decisão em junho, pareceu um gesto isolado. Depois, Canadá, Austrália e, há alguns dias, Luxemburgo se juntaram a ela. Outros países, como o Reino Unido e a Bélgica, haviam condicionado o reconhecimento, mas agora estão supostamente prontos para dar o passo, que faz parte da declaração programática para a "solução de dois Estados" aprovada na ONU.
Embora agora seja certo que a Alemanha e a Itália não seguirão o exemplo, Paris repete que pode haver "surpresas" nas próximas horas. E que, no final, haverá uma dúzia de Estados se juntando à França. Uma nova coalizão de vontades que Macron construiu por meio de um trabalho discreto, mas intenso, em conjunto com a Arábia Saudita. "Vencemos a aposta diplomática", confidencia uma fonte diplomática em Paris. "Muitos governos que antes pediam para esperar agora querem reconhecer a Palestina para contribuir com o processo, não mais como uma etapa final. Uma mudança fundamental de paradigma".
Macron também está ciente dos riscos que se avizinham. Paris está abertamente preocupada com um Estado fantoche fragmentado, sem soberania real, nem com a possibilidade de o reconhecimento ser percebido como uma recompensa ao terrorismo. A França prevê o reconhecimento em etapas, dependendo da evolução da situação no terreno. A abertura de uma embaixada francesa em Ramallah faz parte das medidas planejadas, mas isso virá posteriormente. Uma das condições-chave é uma reforma profunda da Autoridade Nacional Palestina, que deve demonstrar sua capacidade de exercer poder legítimo e um compromisso visível com a renovação democrática de suas instituições. Este ponto, observa-se, é também o que os governos ainda hesitantes estão exigindo como condição para aderir à iniciativa.
O outro grande desafio para Paris diz respeito à disputa pela opinião pública, particularmente em Israel. Diplomatas franceses explicam que a campanha hostil lançada pelo governo Netanyahu, apoiado em parte pelos EUA, distorceu o significado da iniciativa, fazendo-a parecer um gesto unilateral pró-palestino ou, pior ainda, um "presente ao Hamas". "Um Estado palestino confiável, apoiado e reconhecido representa a morte política do Hamas", insiste o Ministro das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot. Não é por acaso que Macron escolheu dar uma entrevista a uma emissora de TV israelense na véspera da Assembleia Geral da ONU.
O documento aprovado na conferência de Nova York – copresidida pela França e pela Arábia Saudita – apela explicitamente ao Hamas para que entregue suas armas e a governança de Gaza à Autoridade Palestina. "A Arábia Saudita tem sido decisiva e nunca recuou", enfatizaram fontes francesas, embora a presença de Mohammed bin Salman nos EUA ainda não esteja clara até segunda-feira.
A Autoridade Palestina não dispõe de recursos para gerir sozinha uma operação de desarmamento do Hamas. A solução vislumbrada pela França é a criação de uma missão internacional de estabilização, inspirada em um plano árabe delineado nos últimos meses e incluído na Declaração de Nova York. Uma reunião inicial entre parceiros europeus e do Oriente Médio já ocorreu em Paris para discutir a viabilidade da missão. Uma nova reunião está agendada para os próximos dias para definir seu mandato, legitimidade e composição.
A diplomacia francesa não descarta retaliações israelenses, como o fechamento do consulado francês. "Estamos prontos para qualquer cenário", alertam fontes no Quai d'Orsay, observando que medidas semelhantes também afetariam os mais de 180.000 cidadãos israelenses com passaporte francês. Ao mesmo tempo, Macron continua a sustentar que a nova dinâmica pode levar a um renascimento dos Acordos de Abraão, com um papel renovado para os Estados Unidos. Enquanto isso, Washington decidiu ontem vetar um projeto de resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas que pedia a Israel que "levantasse as restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza e um cessar-fogo permanente" e ao Hamas que "libertasse os reféns". Os Estados Unidos foram os únicos a dizer não.
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