06 Setembro 2025
Estão 1.300 inscritos, mas serão seguramente mais os que participarão naquela que é a primeira Peregrinação Jubilar LGBT+ de sempre ao Vaticano. Entre católicos de diferentes orientações e identidades, familiares, amigos, padres e religiosas que têm vindo a acompanhar esta comunidade, os participantes não vão para protestar: vão para “rezar juntos, atravessar a Porta Santa com o coração leve, e criar encontros reais entre famílias e pastores”.
A reportagem é de Clara Raimundo, publicada por 7Margens, 04-09-2025.
Quem o diz é Alessandro Previti, um dos coordenadores da iniciativa e membro da associação La Tienda da Gionata, que assegura ao 7MARGENS: “Vamos lá como os outros cristãos fazem, da forma mais comum, sem tratamento especial. Simplesmente pertencer, simplesmente trilhar o caminho da fé juntos. Para muitos, isto parece invulgar: ir sem protestar, sem explicar, sem ser político, sem se opor ou procurar especial atenção. É reconfortante, porque somos convidados como parte da família”.
De resto, explica Previti, no centro do programa desta peregrinação está “um caminho sóbrio: uma vigília, a Eucaristia, a caminhada até São Pedro, com um significado profundo”. E sublinha: “Este evento expressa-se em ações, despojado de todo o ruído, e é isso que espero que todos sintam”.
A iniciativa arranca no dia 5 de setembro, às 20h, com uma vigília de oração na igreja de Jesus (conhecida como Il Gesú), a primeira igreja jesuíta construída em Roma, onde está sepultado Santo Inácio de Loyola. Na manhã do dia seguinte, os peregrinos regressam à mesma igreja para uma missa, às 11h, que será presidida pelo vice-presidente da Conferência Episcopal Italiana, o bispo Francesco Savino. E nessa tarde, pelas 15h, são esperados na Basílica de São Pedro, onde atravessarão a Porta Santa levando consigo a “Cruz do Jubileu”.
“Este evento, na sua essência mais profunda, é como um sino a tocar no silêncio ensurdecedor das exclusões, em sinal claro, forte e irreversível, lembrando-nos que o Evangelho não é um manifesto para poucos escolhidos, mas uma carta de amor dirigida a toda a família humana”, disse Savino numa entrevista recente.
Questionado sobre o apoio do clero e da hierarquia da Igreja à iniciativa, Previti mostra-se satisfeito com a disponibilidade do bispo Francesco Savino e dos “muitos padres que estarão presentes e concelebrarão”, assinalando ainda que “vários bispos escreveram palavras de proximidade”.
Foi o caso do cardeal José Cobo, vice-presidente da conferência episcopal da Espanha, que enviou uma carta à Rede Global de Católicos Arco-Íris, uma organização católica LGBT+ internacional que se reuniu na última semana em Madrid. “No contexto do Ano Jubilar, em que a Igreja abre as suas portas para aqueles que caminham juntos na esperança, espero que o evento que estão a organizar ajude a prepará-los mais profundamente para ‘entrar na Porta Santa’ e que leve a um encontro mais profundo com Cristo”, escreveu Cobo.
“Achei o Papa encorajador”

Papa Leão XIV com o padre jesuíta James Martin. (Foto: Vatican Media)
Na última segunda-feira, 1 de setembro, o Papa recebeu em audiência privada o padre jesuíta James Martin, que tem acompanhado a comunidade de católicos LGBT+ nos Estados Unidos da América e está em Roma precisamente para participar na peregrinação jubilar desta comunidade. Sobre o encontro com Leão XIV, Martin disse à Catholic News Agency: “Senti-me honrado e grato por me encontrar com o Santo Padre esta manhã numa audiência no Palácio Apostólico e ouvir a mesma mensagem que ouvi do Papa Francisco sobre as pessoas LGBTQIA+, que é de abertura e acolhimento: ‘Todos, todos, todos’. Achei o papa sereno, alegre e encorajador”.
Embora reconheça que há ainda “um percurso importante pela frente, que deve ser percorrido ao ritmo certo”, Alessandro Previti interpreta o facto de uma peregrinação jubilar LGBT+ se concretizar pela primeira vez no Vaticano “como um convite a caminhar com paciência e clareza”.
E para esta peregrinação – em que estão inscritos participantes de 40 países diferentes, incluindo Portugal – diz que levará sobretudo “gratidão”. “Caminharei pensando naqueles que lutaram por permanecer, naqueles que regressam passados anos e naqueles que acompanham silenciosamente. Peço passos lentos, sorrisos e gestos simples. O resto é levado pela oração partilhada”, conclui.
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