26 Agosto 2025
As autoridades do Pará correm contra o tempo para preparar Belém para a COP30, em novembro. Um possível “teste de fogo” para a infraestrutura logística da cidade acontecerá um mês antes, com a celebração do tradicional Círio de Nazaré, programado para o dia 12 de outubro. O evento deve reunir cerca de 2 milhões de pessoas.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 25-08-2025.
De acordo com o governo paraense, mais de 40 obras estão em andamento na cidade, com investimentos que somam mais de R$4,5 bilhões. O secretário de infraestrutura e logística do estado, Adler Silveira, afirmou ao Estadão que não há risco de atraso nas obras para a COP30, diferentemente do que ocorreu em outras cidades brasileiras para a Copa do Mundo de 2014.
Estruturas de saneamento já foram entregues e 13 canais estão sendo revitalizados, dois na região central e 11 na periferia. Sobre mobilidade, o governo destacou a construção de quatro novos viadutos, sendo que um deles está 75% finalizado. Até novembro, as principais sinalizações de pontos turísticos, logística e direcionamento aos pavilhões devem ganhar versão em Inglês.
Já o Parque da Cidade, palco das zonas oficiais da COP, está com 97% das obras civis concluídas. Com mais de 500 m2 de extensão, o espaço abrigará os ambientes de negociação (Blue Zone) e de atividades paralelas da sociedade civil (Green Zone). O Platô Br deu mais detalhes.
Apesar das obras em Belém, o principal ponto de interrogação na preparação para a COP30 segue sendo os preços de hospedagem. Na apresentação do Parque da Cidade, Silveira evitou falar no assunto. Em nota, o governo do estado informou que a construção da Vila COP30, com 405 quartos para receber os delegados e líderes, está 67% concluída. Seis escolas também foram reformadas para funcionarem como hostel durante o evento.
Ainda sobre as hospedagens para a COP30, o g1 detalhou a oferta do ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, à Casa Civil para utilizar barcos das agências flutuantes da Previdência Social como hospedagem. O Pará conta com dois PREVBarcos, cada um com capacidade ínfima para 34 pessoas, que poderão abrigar funcionários do próprio governo federal que participarão da COP.
A realização do Círio de Nazaré pode ser um teste de infraestrutura para a COP30, mas até certo ponto. Isso porque, a despeito do grande número de participantes, o evento tem diferenças cruciais com a COP30, a começar pela duração – enquanto a celebração religiosa acontece em apenas um dia, a COP climática perdura por duas semanas, no mínimo.
Outra diferença é o perfil da demanda: como negociadores e observadores vêm reiterando nas últimas semanas, a hospedagem para a COP precisa atender às necessidades de um público que passará dias seguidos trabalhando sob grande pressão. Nada disso será testado pelo público do Círio.
Os problemas de hospedagem não se restringem apenas aos negociadores e observadores. Os jornalistas que cobrirão as negociações também enfrentam dificuldades para garantir reservas em Belém durante a COP. O Media Talks repercutiu o alerta do Knight Center para o Jornalismo nas Américas, de que a cobertura da COP em Belém pode ficar comprometida com a falta de jornalistas e de apoio financeiro à atuação dos veículos, especialmente os de menor porte.
Em Tempo 1
A Polícia Federal (PF) autuou duas empresas envolvidas com as obras da COP30. Uma delas, contratada pelo governo do Pará, foi usada para a compra de armamento pesado, como um fuzil. A polícia investiga a atuação de suposta organização criminosa especializada em lavar dinheiro, segundo a Folha.
A outra empresa foi multada por contratar 10 vigilantes de forma irregular para atuar no Parque da Cidade. Os policiais constataram que os vigilantes tinham sido contratados diretamente pela empresa de obras, contrariando o Estatuto da Segurança Privada. O g1 deu mais informações.
Em Tempo 2
Apesar de estar fora do Acordo de Paris e ser crítico ferrenho da agenda ambiental, o governo dos EUA está presente na Rio Climate Action Week, evento independente de apoio à COP30. Em vídeo, o “conselheiro ambiental” da Casa Branca, Ed Russo, criticou o que chamou de “foco errado” das ações climáticas globais. Segundo ele, os países deveriam priorizar o combate à poluição e não a promoção de fontes renováveis de energia e o fim dos combustíveis fósseis. Essa é uma afirmação no mínimo curiosa, já que as emissões de gases de efeito estufa são um tipo de poluição. A fala mostra a displicência com que o governo Trump tem tratado a questão climática.
O Globo sintetizou as baboseiras do representante norte-americano. Já a CNN Brasil abordou a preocupação de interlocutores do governo federal com a participação dos EUA na COP30 e o risco de que o governo norte-americano possa atrapalhar (ainda mais) as negociações climáticas.
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