23 Agosto 2025
A eleição da primeira arcebispa do País de Gales e da Comunhão Anglicana, Cherry Vann, 66 anos, em julho, provocou um tsunami entre os conservadores da denominação religiosa. Ela é lésbica assumida, mora com sua companheira civil, Wendy, e seus dois cachorros.
A informação é de Edelberto Behs, jornalista.
O primaz da Igreja da Nigéria, reverendíssimo Henry Ndukuba, disse na 14ª Conferência de Chanceleres e Oficiais da Igreja que sua Província rejeitara a eleição de Vann, que ele classificou como uma “abominação” e um grave afastamento da Bíblia. A Igreja nigeriana rompeu laços com a Igreja do País de Gales por causa dessa escolha.
Também o presidente do Conselho de Primazes da Irmandade dos Anglicanos Confessantes (GAFCONS, na sigla em inglês), Laurent Mbanda, descreveu a escolha de Vann como um “ato de apostasia” e “mais um doloroso prego no caixão da ortodoxia anglicana”.
“Não consigo entender como amar alguém como amo minha parceira possa ser errado”, reagiu a arcebispa, que justificou: “Nunca ouvi Deus me dizer: quem você é está errado, quem você ama está errado, você está vivendo em pecado”.
Os ensinamentos da Igreja, argumentou, estão sujeitos a mudanças ao longo da história. As visões modernas estão começando a compreender uma visão mais amorosa de Deus em relação à sexualidade.
“Os cristãos têm opiniões diferentes sobre todos os tipos de assuntos: divórcio, novo casamento, aborto, morte assistida, para citar apenas alguns. Quer dizer, não temos todos a mesma opinião sobre a maioria das coisas”, disse, argumentando ainda que a Igreja muda de posição. “Ela adquire uma compreensão mais ampla do amor de Deus”.
Ela entende que as restrições bíblicas sobre sexualidade, entendidas tradicionalmente como proibitivas, se aplicam apenas a relacionamentos puramente sexuais, visando a gratificação sexual. “São abusivos. Na minha opinião, não está falando de relacionamentos amorosos duradouros que eu e muitas pessoas LGBT+ desfrutamos.”
Ela espera que os anglicanos conservadores não se sintam chamados a deixar a denominação, que está se tornando “mais inclusiva e diversa”.
“É o começo de uma conversa, um relacionamento, espero, de respeito mútuo, onde não tentamos mudar a opinião um do outro, mas reconhecermos que somos todos filhos de Deus, e Deus nos chama para amarmos uns aos outros, como Jesus ama cada um de nós”, arrolou.
Ela também espera que a Igreja Anglicana reflita sobre a natureza de Deus, “como a vemos em Jesus Cristo, aberta, transparente, honesta, responsável, para que, quando as pessoas olharem para nós, vejam as boas novas do evangelho, não as más notícias das falhas humana”.