06 Agosto 2025
Autoridades do setor elétrico revisaram para cima a previsão de crescimento da geração por mini e micro geração distribuída.
A informação é publicada por ClimaInfo, 05-08-2025.
Sistemas de mini e micro geração distribuída (MMGD), como painéis solares instalados em terrenos ou telhados de residências e indústrias, devem gerar 6.836 megawatts médios (MWmed) em 2025. É mais energia do que a garantia física da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, empreendimento que, além de provocar um estrago socioambiental sem precedentes, registra aproveitameto médio anual de sua capacidade de 4.500 MWmed, apesar de ter uma capacidade instalada de mais de 11.200 MW. Em 2023 foram 3.600 MWm e em 2024, 2.580 MWm.
A projeção, feita em conjunto pelo Operador Nacional do Setor Elétrico (ONS), pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), corresponde a um crescimento de 29% frente a 2024. É mais do que os 26% de aumento previstos pelas instituições no início do ano, informam UOL, IstoÉ e IstoÉ Dinheiro.
O volume maior se deve a um aumento da base instalada já verificada. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, há atualmente uma potência instalada de 41,98 gigawatts (GW) em mais de 3,7 milhões de sistemas de Geração Distribuída. De acordo com as instituições, o país deve encerrar o ano com 46 GW instalados – antes estimavam 45 GW. E a previsão é de 65 GW em 2029 – mais do que o total de usinas eólicas e solares de grande porte hoje em operação no país.
A despeito dos ajustes para cima nas projeções, ONS, CCEE e EPE não alteraram as premissas que balizam as estimativas sobre MMGD. As instituições seguem enfatizando a sobreoferta de módulos fotovoltaicos em todos os segmentos da cadeia de valor. Também citam, entre os fatores positivos para a expansão, a redução do preço dos equipamentos observada em 2024; o ainda baixo percentual de adotantes de GD no país; a expansão de veículos elétricos; o aumento de sistemas sem conexão com a rede de distribuição; e benefícios fiscais. Lembram ainda das políticas de incentivo ao segmento por meio do Minha Casa Minha Vida (MCMV) e do Programa de Energia Renovável Social (PERS).
Mas há também barreiras. As instituições citam como fatores negativos para um crescimento ainda mais intenso o aumento do Imposto de Importação de módulos fotovoltaicos, a volatilidade do dólar, a saturação do mercado de alto consumo e o aumento das taxas de juros, uma vez que 50% dos sistemas são financiados. Além disso, consideram questões técnicas setoriais, como a inversão de fluxo em algumas regiões alegada pelas distribuidoras para negar acesso a novos sistemas, mudanças na cobrança de tarifa fio após a Lei nº 14.300, e incertezas pós-2028.
O capítulo sobre mitigação do novo Plano Clima está em consulta pública e mostra como o governo pretende cortar emissões até 2035, setor por setor. Mas, se há pontos positivos nos segmentos ligados ao uso da terra, a proposta desanda na área de energia, destacam Natalie Unterstell, Liuca Yonaha e Marta Salomon, do Instituto Talanoa. Em vez de reduzir as emissões energéticas, o plano abre margem para que elas cresçam até 44% na próxima década, e mesmo num cenário dito “ambicioso”, o objetivo é não reduzir nada até 2035. “A justificativa? O clima está mudando, as chuvas estão erráticas, as hidrelétricas vêm perdendo força. Mas a resposta é recorrer às térmicas fósseis. Ou seja: reconhece que o sistema atual está vulnerável à crise climática, mas em vez de mudar a lógica, naturaliza a dependência dos fósseis. Parte do diagnóstico certo, mas tira a conclusão errada. Se a resposta ao colapso climático é mais termelétricas, talvez o país devesse parar de falar em transição”, afirmam na Folha.