25 Julho 2025
“Os juízes, os promotores, todos falharam conosco nas investigações; para eles, são simples arquivos, e para nós, são entes queridos (...)”, diz María del Carmen Volante Velázquez, mãe de uma jovem desaparecida em 2017 em Ajusco (Cidade do México). Ela faz parte das Madres Buscadoras, que, no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher –, se mobilizaram contra o feminicídio no Zócalo da capital mexicana (La Jornada, 8 de março).
A reportagem é de Enric Llopis, publicada por Rebelión, 24-07-2025. A tradução é do Cepat.
“Chega de violência contra as Madres Buscadoras e seus coletivos! Sua luta digna é a luta de todas”. Este foi um dos lemas anunciados nas Marchas da Dignidade, realizadas no dia 10 de maio (Dia das Mães no México). Mães, filhas e irmãs exigiram “verdade”, “justiça” e “reparação” para as vítimas e familiares de pessoas desaparecidas.
As Mães Buscadoras denunciaram a “ineficácia, a omissão e, em muitos casos, a colisão das instituições estatais com o crime organizado”. De fato, os coletivos frequentemente se encarregam da investigação e da busca, informaram em comunicado a Rede Nacional de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos do México e a Iniciativa Mesoamericana de Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos (IM-Defensoras).
Um dos casos detalhados ocorreu em 5 de março: a descoberta de um campo de extermínio em Rancho Izaguirre (município de Teuchitlán, Jalisco), onde foram cometidos crimes contra a humanidade (por exemplo, foram descobertos crematórios clandestinos); o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG) operava no local.
De acordo com a Rede Nacional e a IM-Defensoras, 16 defensoras buscadoras foram assassinadas no México entre 2019 e 2025 (no Estado de Jalisco, María del Carmen Morales e Teresa González Murillo foram assassinadas em abril deste ano).
Quase 130 mil pessoas desapareceram e permanecem sem localização desde 1952; este é o número divulgado pela Comissão Nacional de Busca do Governo do México e ponto de partida para o relatório “Desaparecer novamente: violações e impactos enfrentados por mulheres em busca dos Direitos Humanos no México”, publicado pela Anistia Internacional (AI) em 8 de julho.
A investigação reúne a experiência de 661 mulheres buscadoras em 30 Estados do México e em outros países: El Salvador, Guatemala e Honduras; elas responderam a entrevistas e questionários e participaram de grupos focais da Anistia Internacional entre março e dezembro de 2024.
Desaparecer novamente destaca o papel central das mulheres na busca: elas se organizaram em mais de 234 coletivos no México; para encontrar seus entes queridos, entraram em centros de detenção, cruzaram fronteiras e passaram por áreas perigosas, ruas e terrenos baldios, “muitos deles onde opera o crime organizado”.
Elas não apenas enfrentam o risco de serem assassinadas (finalmente consumados), mas também de desaparecerem, além de ameaças, extorsões, estigmatização, e são vítimas de deslocamento forçado. “A grande maioria das buscadoras sofreu problemas de saúde física e mental, incluindo depressão, insônia e o aparecimento de doenças”, enfatiza a AI.
O relatório observa que – segundo dados oficiais, até 30 de abril de 2023 – 5.696 valas clandestinas foram localizadas no México; e que – segundo dados do Registro Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Localizadas (RNPDNO) – os Estados com mais pessoas desaparecidas são: Jalisco, Tamaulipas, Estado do México e Veracruz.
Os desaparecimentos se concentraram em dois períodos. O primeiro (1965-1990) foi a chamada guerra suja, ou a violência perpetrada pelo Estado contra grupos, comunidades e povos (vítimas da contrainsurgência); a segunda fase teve início durante o mandato presidencial de Felipe Calderón (PAN), entre 2006 e 2012, na chamada guerra às drogas; essa fase continua até hoje.
Em relação às mulheres que estão em busca de algum ente querido desaparecido, 97% das entrevistadas pela Anistia Internacional relatam ter sido vítimas de violência e assédio durante a investigação; as categorias mais relevantes são ameaças, extorsão, agressões e deslocamento forçado.
O depoimento coletado pela AI de uma mulher no município de Chilpancingo (Guerrero) atesta os perigos: “Minha casa foi alvejada; foram 100 tiros. Eu estava com minhas filhas; foi horrível”.
Outra buscadora do Estado de Guerrero, Beatriz Zapoteco, enfatiza a situação das vítimas indígenas: “Estamos em uma situação diferente, muito mais desproporcional quando viemos das comunidades”.
Além disso, metade dessas defensoras sofre discriminação com base em gênero, condição econômica, identidade étnica ou status migratório, destaca a Anistia Internacional.
Na mesma proporção, as mulheres que realizam buscas foram vítimas de estigmatização (e revitimização) pelas autoridades, mas também por suas famílias e comunidades. Das mais de 600 entrevistadas, 60% afirmaram que as relações familiares se deterioraram; uma porcentagem maior, 70%, apresentou problemas de saúde.
O Comitê das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (CEDAW) observou em 7 de julho que as mulheres mexicanas que realizam buscas carecem de reconhecimento formal ou proteção do Estado; consequentemente, dada a impunidade de seus agressores, a luta dessas ativistas é reduzida ao status de heroísmo individual.
Além de solicitar seu reconhecimento, o Comitê da ONU instou o Estado do México a integrar essas mães, irmãs e ativistas ao Mecanismo Nacional de Proteção para Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas; dessa forma, segundo a CEDAW, elas poderiam se beneficiar de medidas preventivas de proteção.
Outro ponto incluído nas recomendações são os protocolos de proteção coletiva para mulheres defensoras, que abrangem “viagens a áreas perigosas, exumações de valas clandestinas e visitas a necrotérios ou hospitais”.
Também para reivindicar medidas de segurança e proteção à vida, grupos de busca, juntamente com organizações de direitos humanos, apresentaram diversas solicitações – em fevereiro de 2024 – à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
Por exemplo, diante da “falta de interesse por parte das autoridades mexicanas”, destacou-se a necessidade de o Estado auxiliar ativamente nas buscas; e de reforçar a identificação forense e combater a impunidade.