• Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato
close
search
  • Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato
search

##TWEET

Tweet

Quênia. Apoiada e organizada, a Geração Z resiste apesar da censura

Mais Lidos

  • “A revolução começa quando mudamos de desejo”. Entrevista com Juan Evaristo Valls Boix

    LER MAIS
  • Ser aprendiz na escola de oração de Jesus. Comentário de Adroaldo Palaoro

    LER MAIS
  • Leão XIV e a ilusão conservadora: o fim de um espelho?

    LER MAIS

Vídeos IHU

  • play_circle_outline

    Maria Madalena e o nome de quem Ele conhece

close

FECHAR

Revista ihu on-line

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

A extrema-direita e os novos autoritarismos: ameaças à democracia liberal

Edição: 554

Leia mais

Arte. A urgente tarefa de pensar o mundo com as mãos

Edição: 553

Leia mais
Image

COMPARTILHAR

  • Twitter

  • LINKEDIN

  • WHATSAPP

  • IMPRIMIR PDF

  • COMPARTILHAR

close CANCELAR

share

25 Julho 2025

No dia 7 de julho, uma nova onda de protestos da Geração Z varreu o país para celebrar o 35º aniversário da revolta de 1990 que conduziu o país à democracia. Pelo menos 50 pessoas morreram em confrontos com a polícia. Doze dias antes, esses mesmos jovens já haviam marchado em memória das manifestações de junho de 2024. Diante destes protestos, o governo tenta cercear a liberdade de expressão.

A reportagem é de Robert Amalemba, publicada por Afrique XXI, 22-07-2025. A tradução é do Cepat.

Quando o cheiro acre de pneus queimados e do gás lacrimogêneo finalmente começou a se dissipar, o Quênia acordou diante de uma cena sombria: prédios queimados no centro de Nairóbi, lojas saqueadas cobertas de cacos de vidro e famílias chorando a perda de pelo menos 19 jovens vítimas de balas da polícia. Enquanto o país celebrava o primeiro aniversário das históricas marchas da Geração Z contra a Lei de Finanças, os protestos foram mais uma vez reprimidos com munição real, um apagão da mídia e acusações de tentativa de golpe por parte do governo.

Kipchumba Murkomen, secretário de gabinete do Ministério do Interior e do governo federal, pediu calma. Sem sucesso. No dia 25 de junho, os jovens foram às ruas não apenas para protestar, mas também para prestar homenagem aos seus mais de 60 companheiros mortos durante o levante contra a Lei de Finanças 2024, que expôs profundas fraturas no governo do país.

Em vez de aliviar as tensões, Kipchumba Murkomen provocou indignação com o que foi amplamente interpretado como uma ordem de “atirar para matar”. Seus comentários reacenderam as acusações de brutalidade do Estado, contradizendo as declarações do presidente William Ruto em um fórum on-line em 2024, no qual prometeu ser duro com os policiais insubordinados e com o Ministério do Interior.

2024: a rejeição de um Projeto de Lei de Finanças injusto

O Projeto de Lei de Finanças que acendeu o estopim para a revolta de 2024 foi visto como punitivo e desvinculado da realidade cotidiana. Propunha aumentos de impostos sobre produtos de primeira necessidade como pão, fraldas, açúcar, celulares, transferências de dinheiro e dados de internet, desencadeando protestos generalizados. A indignação da opinião pública culminou na invasão do Parlamento pelos manifestantes, marcando sua ruptura simbólica com o Estado.

Uma reviravolta ocorreu quando o presidente Ruto – elogiado por ter conseguido desbaratar as manobras do veterano da oposição Raila Odinga – pareceu visivelmente abalado. Em uma entrevista televisionada do palácio presidencial, fez uma concessão incomum: “Estou pronto para conversar”. Esta declaração contrastava com sua insistência anterior de que o projeto de lei deveria ser aprovado sob sua autoridade de Comandante-em-Chefe. Ele até prometeu confortar pessoalmente, “como pai”, uma mãe enlutada que havia perdido seu filho durante os protestos. Assim como muitas outras, ela nunca recebeu resposta.

Na esteira desses acontecimentos, William Ruto reduziu seu governo inchado, prometeu reformas e surpreendeu a todos ao formar um executivo de base ampla, que se baseava em figuras importantes do campo de Odinga. Em seguida, livrou-se de seu braço direito, Rigathi Gachagua, cujas contradições públicas e saídas para o aumento do custo de vida tinham se tornado um problema. Mas a reforma política não foi suficiente para acalmar o descontentamento.

Uma reforma política para apaziguar

O aniversário celebrado há poucos dias pela Geração Z faz parte de um desejo crescente de tornar o dia 25 de junho um dia nacional de resistência. No prefácio do relatório de 2024 “Polícia Brutal” (1) da ONG queniana Missing Voices, Willy Mutunga, ex-presidente do Supremo Tribunal, instou o governo a reconhecer oficialmente esta data:

“A Geração Z e os millennials não vão desaparecer tão cedo. Peço que sejam proativos e apoiem a sua próxima mobilização e revolta. Não é preciso ser um gênio para saber que esta geração comemorará a revolta de junho de 2024. Suspeito que a data que será imortalizada e celebrada anualmente será 18 ou 25 de junho”.

Isso não impediu, no entanto, que o governo se dirigisse simbolicamente às famílias enlutadas para evitar uma repetição dos protestos de 2024, mesmo com os jovens tentando imortalizá-los. Em 15 de junho, discursando na cerimônia da Première Ligue queniana (vencida pelo Police FC, clube que pertence à polícia queniana), Murkomen declarou que o governo estava pronto para ouvir. Mas muitos quenianos se perguntaram: por que agora? Por que esperou um ano inteiro?

“Nós dormimos enquanto a revolução se alastra”

Os blogueiros e as equipes de comunicação pró-governo descreveram os protestos como anárquicos e acusaram Rigathi Gachagua de orquestrar uma tentativa de derrubar o regime. Mas o vice-presidente deposto rejeitou essas alegações ao vivo na televisão, dizendo: “Esses protestos são espontâneos. Ninguém pode mobilizar 26 condados sem que as agências de inteligência saibam. Se eu for culpado, que o Ministério do Interior me prenda imediatamente!”

Barrack Muluka, especialista em comunicação e antigo colunista do jornal The Standard em Nairóbi, disse ao Afrique XXI que o fracasso do presidente Ruto em cumprir suas promessas de campanha, especialmente em relação à criação de empregos e à recuperação econômica, agravou a frustração da população. “Ruto é como um capitão incapaz de navegar nas águas turbulentas do Quênia. Seria melhor atracar em um porto seguro e se retirar. Se nada mudar, como parece ser provável, os protestos continuarão”, afirma. E prossegue: “Nada mudou desde que a Geração Z foi às ruas. A verdade é que estamos dormindo enquanto a revolução se alastra. Mais uma faísca e o centro pode cair”.

O presidente Ruto reconheceu que os protestos são um direito constitucional, mas insiste que não podem ser usados para removê-lo do cargo por meios inconstitucionais. Em junho, ao discursar no palácio presidencial para chefes de segurança regionais e distritais e as autoridades do governo federal, após novos protestos, William Ruto defendeu a reintrodução de um draconiano Projeto de Lei de Ordem Pública, que, segundo ele, visaria equilibrar as liberdades civis e a ordem pública.

Leis mais rigorosas, sem diálogo

Este projeto de lei fortalecerá o controle sobre as manifestações públicas, tornando mais rigorosos os requisitos de autorização e as penalidades para “reuniões ilegais” e expandindo os poderes da polícia para dispersar aglomerações consideradas perturbadoras. O projeto também busca criminalizar protestos em um raio de 100 metros de áreas protegidas, como o Parlamento e o palácio presidencial. Os infratores podem enfrentar multas de até 100.000 xelins quenianos (aproximadamente € 740) e três meses de prisão.

Moses Wetang'ula, o presidente da Assembleia Nacional, está entre os defensores mais expressivos do projeto de lei. Esta figura de destaque na coalizão governista quer que o governo tenha ampla margem para enfrentar a “desordem”. Ele acusou a comunidade internacional e a Igreja Católica de usar dois pesos e duas medidas, criticando seu silêncio após os recentes incidentes. Falando logo após os protestos no condado de Kakamega, Wetang'ula questionou por que o clero e os enviados estrangeiros já haviam condenado a repressão do governo, se não haviam feito nenhum comentário contra os manifestantes.

“Eles foram ao ar e disseram ‘que os protestos [tinham] que acontecer!’. Agora que vimos a destruição, o caos, as mortes, o que vão dizer?”, exclamou, defendendo o uso da força. “Outro dia, em Los Angeles, o presidente Trump mobilizou o exército contra os manifestantes. Por que só nos indignamos quando isso acontece aqui?”, questionou.

Perante o Parlamento, respondendo a uma advertência da Ordem dos Advogados do Quênia, afirmou que a lei não violaria os direitos e liberdades fundamentais previstos no Artigo 37 da Constituição, mas, ao contrário, “garantiria a ordem, protegendo a manifestação, a polícia e os manifestantes”.

Ataque e proibição da mídia

A repressão se intensificou em 25 de junho, quando a Autoridade de Comunicações, presidida por um ex-jornalista, ordenou que as emissoras de televisão interrompessem a transmissão dos protestos ao vivo. NTV, K24 e KTN desafiaram a ordem e seus sinais foram abruptamente cortados. A Ordem dos Advogados do Quênia moveu uma ação judicial, alegando violações da liberdade de imprensa e do direito constitucional da população à informação, embora outros tenham saudado a decisão com satisfação.

“O que vimos [em 25 de junho] foi uma insurreição, não um protesto protegido pelo Artigo 37. Durante dois meses, a mídia incitou a agitação e a violência que testemunhamos. Todas as liberdades têm limites. A cobertura ao vivo foi uma provocação e desencadeou ainda mais violência, violando a Constituição”, disse em sua página no Facebook o deputado da cidade de Homa Bay, George Kaluma, ex-opositor de William Ruto que se juntou ao governo ampliado.

Ele acrescentou: “Embora tardia, a decisão da Autoridade de Comunicações de suspender as transmissões ao vivo foi de interesse público, para a segurança da população, e, portanto, justificada. Tal medida deve sempre ser aplicada quando as transmissões incitam à violência. Não nos esqueçamos de que a mídia desempenhou um papel fundamental no genocídio de Ruanda [sic] (2). A mídia queniana se tornou desonesta e destruirá este país se não for devidamente regulamentada e punida”.

O deputado refere-se a dois veículos de propaganda ruandeses criados alguns anos antes do início do genocídio tutsi, que ceifou quase 1 milhão de vidas entre abril e julho de 1994: o Kangura, um jornal extremista criado em 1989, e a Radio Télévision Libre des Milles Collines (RTLM), em 1993. Estes incitaram o ódio contra os tutsis e, em seguida, o seu assassinato, chegando a publicar listas de pessoas a serem procuradas e assassinadas. Nada parecido aconteceu no Quênia.

Censura à oposição, às redes sociais, à cultura...

Sob o mandato do presidente Ruto, assistimos a um reforço da censura jurídica e cultural. Rose Njeri, uma programadora informática, foi presa em maio em virtude da Lei de Crimes Cibernéticos por ter criado um aplicativo que permitia às pessoas rejeitarem a Lei de Finanças 2025 com um único clique, embora a ativista tenha sido posteriormente libertada após as críticas contra o Ministério Público.

As contas nas redes sociais de opositores declarados, incluindo a de Albert Ojwang, foram apagadas. Ojwang morreu sob custódia (3) dois dias após sua prisão, em circunstâncias suspeitas, provocando uma onda de indignação on-line. A hashtag #JusticeForOjwang rapidamente ganhou popularidade, forçando o inspetor-geral adjunto Eliud Lagat a renunciar e levando às acusações de assassinato contra os policiais envolvidos na morte do blogueiro.

Dois meses antes, em abril, durante o Festival Nacional de Teatro, a peça Echoes of War (Ecos da Guerra), encenada pela Escola Secundária Feminina de Butere, foi proibida, mas autorizada no último minuto por um tribunal. Tarde demais: as estudantes subiram ao palco, cantaram o hino nacional e foram embora. Elas foram em seguida escoltadas por viaturas da polícia de Nakuru até a cidade de Butere, a quase 250 quilômetros de distância, enquanto a multidão que veio assistir à apresentação era recebida com gás lacrimogêneo.

Charlene Ruto, filha do presidente, processa uma editora

Enquanto isso, Charlene Ruto, filha do presidente Ruto, processou uma editora que publicou sua biografia sem seu consentimento. O autor, Webster Ochora Elijah, acaba de publicar Beyond the Name: Charlene Ruto and the Youth Uprising (Além do nome: Charlene Ruto e a revolta da juventude), o que levou Charlene Ruto a entrar com uma ação judicial por usurpação de identidade. Os advogados acreditam que a ação judicial da filha do presidente dificilmente terá sucesso, visto que é legítimo investigar figuras públicas, especialmente aquelas que se beneficiam de recursos estatais.

Em entrevista ao Afrique XXI recentemente em Nairóbi, o advogado Billy Janji declarou: “Muitos juízes tendem a decidir contra personalidades públicas que entram com ações judiciais por difamação ou violação de seus direitos, por razões óbvias: personalidades públicas recebem mais atenção”.

O ativista Hussein Khalid apela aos quenianos para que não desistam diante das tentativas organizadas do governo de restringir seus direitos civis. Ele ganhou atenção por auxiliar um policial durante um protesto recente e por ter sido expulso da Tanzânia, para onde tinha ido para demonstrar solidariedade ao líder da oposição, Tundu Lissu. Em entrevista por telefone, ele insistiu que, mesmo que o governo reforce seu controle sobre o espaço cívico, os defensores dos direitos “continuarão a exercer pressão até que alcancemos um país justo”.

Brutalidade sistemática documentada

A Civicus, plataforma on-line dedicada a ameaças à sociedade civil em todo o mundo, publicou recentemente um relatório intitulado “Balas Policiais, Correntes Digitais: as brutalidade do Estado diante da revolta pacífica da juventude no Quênia” (4), por ocasião do primeiro aniversário das manifestações. O estudo documenta a repressão perpetrada por autoridades e forças de segurança, que buscaram acabar com os protestos recorrendo a assassinatos, prisões, sequestros, ataques a ativistas on-line, uso de leis de crimes cibernéticos, interrupções na internet, restrições a jornalistas, vigilância, censura e outros meios.

Ao lançar o relatório, Mandeep Tiwana, secretário-geral da Civicus, afirmou: “O Estado queniano respondeu inicialmente aos protestos com violência generalizada, que deixou dezenas de mortos e mais de 100 desaparecidos. Desde então, o governo tem buscado reforçar o controle sobre todas as formas de espaço cívico e liberdade de expressão – desde manifestantes pacíficos nas ruas até críticas nas redes sociais. Este ano de repressão demonstra que o aparato de segurança do Quênia, profundamente enraizado em um legado colonial marcado pela brutalidade e pela desorganização, não está a serviço da população. Pelo contrário, é uma ferramenta de repressão que visa silenciar os cidadãos que exigem justiça e responsabilização”.

Mas o governo também respondeu com moderação à crescente indignação da opinião pública. Uma tática tem sido a implementação de programas de arrecadação de fundos e empoderamento para mulheres e jovens. Os críticos, no entanto, veem essas iniciativas como medidas politicamente disfarçadas, destinadas a acalmar os ânimos antes das próximas eleições.

A agenda econômica Bottom-Up (de baixo para cima), que antes impulsionou a campanha de William Ruto, agora é vista por alguns como um “suborno implícito de eleitores”, especialmente porque se concentra no setor informal, antes sua base mais forte, que agora está cada vez mais desencantado.

Uma geração esclarecida e informada

“Já deveria estar claro para todos que ele [Ruto] está lidando com uma população esclarecida, especialmente a Geração Z, que rejeita abertamente sua liderança e suas artimanhas simbólicas”, disse em junho passado o professor Gitile Naituli, palestrante e comentarista político, em Nairóbi. Ele continuou nestes termos: “Esta é uma geração moldada pelas conquistas das reformas do presidente Kibaki, desde a educação primária gratuita até a transição para o ensino médio com 100% de aproveitamento. Eles estão informados, equipados com ferramentas de análise e não são facilmente influenciáveis. Eles entendem como o desenvolvimento funciona – das políticas ao orçamento – e esperam um impacto palpável. O apoio de Ruto a Raila não mudará isso; nem o simbolismo os enganará. Na verdade, só o tornará mais impopular. Se o presidente quiser se reconectar com o povo, precisa colocar a economia nos trilhos. Ponto final”.

O PIB do Quênia atingiu 16,2 trilhões de xelins (€ 106 bilhões) em 2024, com o crescimento desacelerando para 4,7%, em comparação com 5,7% em 2023, em linha com as tendências globais, enquanto o crescimento do PIB global caiu de 3,3% para 3,2%.

No entanto, a nomeação estratégica para a pasta das Finanças de John Mbadi, da ala de Raila Odinga, acalmou temporariamente a indignação da opinião pública. Seu tom moderado e seu compromisso de não implementar novos impostos ajudaram a acalmar os ânimos, a ponto de os quenianos irem às ruas principalmente para prestar homenagem aos mortos do ano passado. Mas a Geração Z, agora mais madura taticamente, continua se preparando para 2027, quando Ruto retornará às urnas após seu primeiro mandato de cinco anos.

Desvendar a lei para os jovens

Marvin Mabonga, um ativista conhecido nas redes sociais como @KOT_Sonko, disse à Citizen TV que quer usar a educação cívica para ajudar seus pares a entender melhor as políticas governamentais, para que possam identificar e expor qualquer irregularidade oculta. “Nós organizamos sessões com especialistas para desvendar o Projeto de Lei de Finanças 2024 porque muitos jovens não o leram ou não o compreenderam completamente”, disse.

Alguns inclusive querem evitar fraudes nas eleições de 2027, contando todos os votos e compartilhando os resultados em tempo real nas redes sociais.

“Se a recente coordenação on-line durante os protestos servir de guia, a Geração Z está mais do que pronta para derrotar qualquer um que planeje fraudar as eleições de 2027”, disse-nos o analista político Herman Manyora. E insistiu: “Dado o profundo interesse deles pelas questões de governança e seu engajamento ativo nas redes sociais, não ficaria surpreso se apresentassem a maioria dos candidatos na próxima vez. Não se pode aplicar o antigo software político a eles, mesmo que a maioria dos líderes atuais ainda o faça”.

A Geração Z conta com o apoio crescente da Geração Y (nascidos entre 1980 e 1995) e de outros grupos. O advogado Miguna Miguna criou uma mensagem de emergência pronta para ser enviada em caso de sequestro. “Escreva e salve este alerta de emergência em todas as suas redes sociais: ‘Meu nome é XYZ. Fui sequestrado pelo DCI/Polícia/NIS’”. Ele os incentivou a dar o alarme, se necessário: “Quando alguém que você suspeita ser do DCI, do NIS ou da polícia se aproximar de você, pressione ‘enviar para todos’ e avise sua família, amigos, blogueiros, a mídia e @LawSocietyofKe”.

Reunir a polícia?

Cyprian Nyakundi, um blogueiro proeminente e aliado da Geração Z, usou a comunidade on-line para destacar as virtudes pacíficas e esperançadoras das marchas de junho. Essa campanha digital ajudou a contrariar as narrativas oficiais, que retratavam os protestos como caóticos e sem lei, e tentou amenizar a relação tensa entre os manifestantes e a polícia.

Eric Omondi, um comediante da Geração Y e outra figura-chave do movimento, lançou a campanha “Police Friday” para convidar os policiais a compartilhar mensagens de empatia e moderação on-line, desafiando diretamente o controverso decreto de “atirar para matar” de C.S. Murkomen. Um policial contou como sua filha da Geração Z implorou para que não machucasse os manifestantes. Outro pediu aos seus colegas que agissem dentro da lei e demonstrassem seu amor pelo país. Uma vítima das brutalidades policiais, Anthony Weya, que foi baleado no braço, foi beneficiado por uma arrecadação de fundos on-line.

Esta geração antenada em tecnologia está aproveitando ao máximo as ferramentas digitais, sejam elas assistência jurídica financiada coletivamente, protestos com tecnologia de IA ou objetos satíricos on-line que fazem sucesso. Quando as imagens retocadas de funcionários públicos em caixões inundaram as redes sociais, até o presidente Ruto percebeu e repreendeu os pais: “Ensinem boas maneiras aos seus filhos!”. Seu grito de guerra, #SiriNiNumbers (“O segredo está nos números”), reflete um movimento que frustra os planos do Estado com memes e mobilizações em massa. Apesar de toda a sua estrutura, o governo está lutando para acompanhá-lo.

Notas

1. Missing Voices. “Brutal Policing, 2024 annual report”, 06-05-2025.

2. O genocídio “ruandês” não existe. Trata-se do genocídio dos tutsis de 1994. Afrique XXI reproduz aqui fielmente as palavras do deputado, mas não concorda com elas.

3. Na noite de 07 para 08 de junho, Albert Ojwang morreu em uma cela da comissária central, em Nairobi, com traços de maus-tratos.

4. Civicus. “Police bullets, digital chains: State-sanctioned brutality in Kenya’s peaceful youth-led uprising”, 25-06-2025. Disponível (em inglês) aqui.

Leia mais

  • Ao mobilizar 20 mil estudantes pelo clima, jovem é ícone na defesa ambiental no Quênia
  • A grande questão global dos jovens africanos. Artigo de Mario Giro
  • Eleições presidenciais no Quênia. Entrevista com o jesuíta integrante da equipe de observadores eleitorais
  • Três milhões de pessoas morrendo de fome no norte do Quênia
  • Cortes na USAID. Só na Etiópia, Quênia e Uganda, mais de 90.000 mulheres darão à luz sem o apoio de um profissional de saúde qualificado e quase 100.000 recém-nascidos não receberão cuidados pós-parto
  • “A violência e o terrorismo se alimentam com o desespero da pobreza”, diz Papa Francisco no Quênia
  • Geração Z: como mitigar o mal-estar da Era Digital?
  • O que a campanha para prefeito de Zohran Mamdani pode ensinar à Igreja Católica sobre como alcançar a Geração Z. Artigo de Grace Copps
  • A geração Z, trabalho remoto e a condição do entretenimento. Artigo de Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves

Notícias relacionadas

  • A prática do sacrifício, hoje, é a prática da barbárie. Entrevista especial com Xabier Etxeberria Mauleon

    LER MAIS
  • O grito de Jesus na cruz e seus ecos na contemporaneidade. Entrevista especial com Francine Bigaouette

    LER MAIS
  • Defensoria diz que Rio passou por "limpeza" de moradores de rua do centro

    As denúncias de constrangimentos e violência contra moradores de rua na região do centro do Rio de Janeiro cresceram 60% nos me[...]

    LER MAIS
  • Olimpíadas: estado de exceção estabelece censura e outras violências

    "Muito além da proibição do #ForaTemer, Jogos Olímpicos reforçam uma série de violações de direitos". O comentário é de[...]

    LER MAIS
  • Início
  • Sobre o IHU
    • Gênese, missão e rotas
    • Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros
    • Rede SJ-Cias
      • CCIAS
      • CEPAT
  • Programas
    • Observasinos
    • Teologia Pública
    • IHU Fronteiras
    • Repensando a Economia
    • Sociedade Sustentável
  • Notícias
    • Mais notícias
    • Entrevistas
    • Páginas especiais
    • Jornalismo Experimental
    • IHUCAST
  • Publicações
    • Mais publicações
    • Revista IHU On-Line
  • Eventos
  • Espiritualidade
    • Comentário do Evangelho
    • Ministério da palavra na voz das Mulheres
    • Orações Inter-Religiosas Ilustradas
    • Martirológio Latino-Americano
    • Sínodo Pan-Amazônico
    • Mulheres na Igreja
  • Contato

Av. Unisinos, 950 - São Leopoldo - RS
CEP 93.022-750
Fone: +55 51 3590-8213
humanitas@unisinos.br
Copyright © 2016 - IHU - Todos direitos reservados