10 Julho 2025
O “Atlas dos Agrotóxicos” e a pesquisa “Tem Veneno Nesse Pacote” expõem a urgência de políticas mais rigorosas e a necessidade de transição para a agroecologia como alternativa sustentável.
A reportagem é publicada por EcoDebate, 08-07-2025.
O Brasil, um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, enfrenta desafios crescentes relacionados ao uso indiscriminado desses produtos químicos. Instituído em 11 de janeiro, o Dia de Combate à Poluição por Agrotóxicos busca conscientizar sobre os profundos impactos na saúde humana e no meio ambiente.
Relatórios e estudos recentes revelam uma realidade preocupante: os agrotóxicos não só deterioram a biodiversidade e contaminam ecossistemas, mas também deixam um rastro de doenças e problemas socioambientais que afetam tanto o campo quanto as cidades.
A exposição aos agrotóxicos pode ocorrer de diversas formas, atingindo toda a população através do consumo de alimentos e água contaminados. Trabalhadores agrícolas, operadores de empresas desinsetizadoras, e aqueles envolvidos no transporte e comércio desses produtos estão entre os mais suscetíveis à exposição direta por inalação, contato dérmico ou oral.
No ambiente, pulverizações aéreas dispersam substâncias tóxicas, contaminando áreas e atingindo a população, além do contato com roupas de trabalhadores.
Os efeitos na saúde podem ser:
O “Atlas dos Agrotóxicos” (publicado pela Fundação Heinrich Böll) e outros estudos associam esses produtos a um risco aumentado de câncer de fígado e de mama, diabetes tipo 2, asma e obesidade.
O glifosato, herbicida mais vendido no mundo, é classificado pela Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC) da OMS como “provavelmente carcinogênico”. Outros agrotóxicos como o tiacloprido também são considerados provavelmente carcinogênicos em humanos.
Além disso, o Brasil tem permitido o uso de agrotóxicos já banidos em outros países, como o Fipronil (banido na França em 2004), Clorotalonil e Clorpirifós (banidos na União Europeia).
Uma pesquisa recente do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), intitulada “Tem Veneno Nesse Pacote”, revelou a presença de resíduos de agrotóxicos em metade das 24 amostras de alimentos ultraprocessados analisadas, muitos deles com apelo ao público infantil. Produtos como biscoito maisena, macarrão instantâneo, empanados e hambúrgueres à base de plantas apresentaram traços desses químicos.
O glifosato foi o mais encontrado, presente em sete das 24 amostras. A farinha de trigo, ingrediente comum nesses produtos, é um dos itens com alta prevalência de contaminação. A ingestão contínua desses resíduos pode levar a efeitos cumulativos no organismo, aumentando o risco de doenças crônicas.
O uso de pesticidas é uma das principais causas da deterioração rápida e desastrosa da abundância de diversas espécies animais e vegetais em todo o mundo. Herbicidas de amplo espectro, como o glifosato, dizimam flores e brotos, levando à escassez de alimentos para insetos que se alimentam de flores e ervas silvestres.
Os insetos polinizadores, como as abelhas, são particularmente afetados. Um estudo de 2017 encontrou agrotóxicos em 75% das amostras de mel do mundo, com pelo menos um neonicotinoide, considerado muito tóxico para esses insetos.
Reportagens entre 2022 e 2023, compiladas pelo “Atlas dos Agrotóxicos”, indicam que o uso de pesticidas pode ter provocado a morte de mais de 300 milhões de abelhas, ameaçando a polinização natural de plantas e, consequentemente, das plantações.
A perda de serviços de polinização representa uma ameaça econômica significativa, avaliada em 153 bilhões de euros por ano. Culturas como abóbora, melancia, cacau, castanha do Pará, amêndoa, pepino, cereja, maçã e ameixa estão entre as mais ameaçadas pela ausência de polinizadores animais. Além disso, agrotóxicos prejudicam insetos benéficos, como joaninhas, que são inimigos naturais de pragas agrícolas. Uma única joaninha pode comer cerca de 50 pulgões por dia, e cerca de 40 mil em sua vida, reduzindo a necessidade de agrotóxicos caros.
Os impactos dos agrotóxicos se estendem à degradação do solo, contaminação de recursos hídricos (água e açudes), e problemas de saúde em comunidades rurais. Denúncias de morte de animais e inutilização de fontes de água são corriqueiras em áreas com contaminação.
No Maranhão, o uso indiscriminado de agrotóxicos tem intensificado conflitos entre produtores de soja e comunidades locais. Casos de pulverização aérea sobre comunidades e territórios indígenas são reportados, atingindo populações e causando doenças respiratórias, de pele, dores de cabeça e vômitos, inclusive em crianças e idosos.
No Mato Grosso, a pressão da monocultura de soja e milho e o uso de químicos impactam a saúde física e mental de assentados, que se sentem sem poder de reação diante da contaminação de suas produções agroecológicas.
A falta de informação sobre o correto manuseio e armazenamento dos agrotóxicos agrava a situação, levando a práticas perigosas como o armazenamento de produtos químicos sob a cama ou em armários de alimentos, e o uso das embalagens para saciar a sede.
As informações nos rótulos, que muitas vezes apresentam uma caveira, são pouco compreendidas pela grande massa de produtores rurais.
Diante desse cenário, a agroecologia surge como uma alternativa fundamental. Compreendida como ciência e prática interdisciplinar, a agroecologia integra conhecimentos científicos das Ciências Agrárias, da Saúde e Sociais com as técnicas e saberes populares dos povos tradicionais. Seus princípios incluem:
A agroecologia promove uma agricultura sustentável e livre de agrotóxicos, representando uma oposição ao modelo atual e uma solução para minimizar os impactos negativos.
É crucial que haja políticas públicas mais rigorosas que incentivem a redução do uso de agrotóxicos e o incentivo à agricultura orgânica, além de maior conscientização sobre os riscos e a promoção de alternativas sustentáveis.
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