25 Junho 2025
Embora os dados sobre a religiosidade de brasileiros e brasileiras ainda sejam preliminares, o Censo de 2022, divulgado pelo IBGE no dia 6 de junho, permite algumas conclusões, também preliminares.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
O Censo mostra que o crescimento dos evangélicos já não tem mais a impulsão que teve em anos passados. Enquanto o Censo de 2010 registrava um aumento da grei evangélica de 6,3%, o Censo de 2022 constata um crescimento de 5,2%. Ainda assim, os evangélicos são 26,9% da população, ou seja, um em cada quatro habitantes é evangélico/a.
Mas quem são os evangélicos? Como os dados são preliminares, não dá para definir as diversas denominações e famílias evangélicas. Assim, não é possível, com os dados atuais, saber se, além de pentecostais e neopentecostais, também luteranos, presbiterianos, metodistas, batistas e outras denominações protestantes viram o número de sua membresia aumentar.
Num primeiro olhar, pesquisadores do Instituto de Estudos da Religião (ISER) afirmam que os evangélicos cresceram em número, “estão presentes na política e estão amplamente mais presentes em expressões de cultura –nas mídias sociais, na música, no mercado, nas novelas, na linguagem popular. Este é um dado muito relevante, pois quanto mais crescem, mais abrasileirados se tornam. Ou, provavelmente, tenham crescido mais, ao se tornarem mais inculturados à realidade brasileira”.
Mas o grupo dos pesquisadores do ISER também aponta para uma “observação empírica”, admitindo que o fenômeno deve ser melhor acompanhado e confirmado: “o desgaste de um tipo de cristianismo entre os próprios evangélicos, com ênfase na prosperidade financeira”. É preciso considerar ainda, continua o grupo, “a emergência de uma radicalização política, desde o processo eleitoral de 2018, com a adesão de evangélicos à consolidada direita cristã, que agrega pessoas, mas ao mesmo tempo afasta membros.”
A perseguir essa hipótese que, claro, carece de pesquisa focada, específica, dá para afirmar que o envolvimento político interfere na adesão religiosa? Seria este um motivo do declínio da influência – agora pelo outro lado do espectro político – das Comunidades Eclesiais de Base, que tiveram uma decisiva participação na educação cívica da cidadania brasileira?
A pergunta que fica é até que ponto as denominações devem, precisam, é também sua missão se envolver em questões políticas? Na medida em que proclamam vida plena para todas as pessoas, recorrem à voz profética para denunciar injustiças – como o racismo ou o avanço em terras indígenas - são questões sociais, mas com dimensão política. Podem as igrejas esquecer esse mandato bíblico, sua tarefa profética? Uma coisa é defender armamentismo, como ocorreu no pleito presidencial de 2018, outra é denunciar a injusta distribuição de renda no Brasil.
Esticando o olhar um pouco mais adiante nos dados preliminares do Censo 2022, constata-se que religiões de matriz africana tiveram um crescimento de 233% em relação ao Censo de 2010, embora sejam apenas 1% da população. Duas categorias – outras religiosidades, com crescimento de 48%, e sem religião, crescimento de 17% em relação ao Censo passado – embora sejam minorias, cresceram na última década, o que pode ser um indicativo para os olhares de igrejas voltadas à missão e evangelização. Os sem religião, de modo significativo entre pessoas mais jovens, são 9,3% da população.
Embora o Brasil siga majoritariamente cristão, nas últimas quatro décadas verifica-se uma queda de 12% nesse grupo. Cristãos eram 95,6% em 1980 e o Censo de 2022 computou-os em 83,6% da população.
Apesar do declínio do catolicismo no Brasil, é preciso observar que ele ainda é a religião majoritária no país, e que os evangélicos, embora o seu constante crescimento nas últimas décadas, somam menos da metade do contingente católico.
A análise do ISER constata que o campo religioso no Brasil é bastante dinâmico, com uma crescente diversificação e pluralização do quadro das religiões no país.
Nesse ponto o Brasil não mudou desde os últimos três Censos.