11 Junho 2025
“Depois dos horrores das guerras mundiais, dos campos de extermínio, das deportações em massa, pensávamos ter aprendido o suficiente com a história para poder dizer 'não' às guerras ou, pelo menos, saber contê-las com a diplomacia e as negociações. Em vez disso, superamos a regra do 'olho por olho, dente por dente', que pelo menos impunha uma proporcionalidade ao mal, vinculando-o ao sofrido”, diz o cardeal vigário de Roma Baldo Reina, a quem Leão XIV também confiou o Instituto Teológico para a Família.
A entrevista é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 09-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que provoca a escalada?
Hoje tudo é multiplicado à enésima potência; se faz coincidir a defesa com o rearmamento, pensando que a partir da produção de armas pode nascer a paz. A guerra é sempre uma derrota. A corrida às armas é uma derrota que se mancha com mais sangue. Faltou à Europa uma operação cultural e antropológica em grande escala capaz de recuperar as raízes cristãs e humanísticas e torná-las um ponto de crescimento. O grande projeto das ‘famílias de nações’, alimentado pelo pensamento político de De Gasperi, Schumann e Adenauer, não conseguiu se estruturar de maneira completa e os valores fundamentais que o sustentavam não foram assimilados a ponto de se tornarem uma cultura compartilhada. A unidade foi puramente econômico-financeira, com diferentes velocidades de crescimento e desenvolvimento, não acompanhadas por um projeto comum.
Qual é o papel da Itália?
Há décadas que a Itália deveria ter compreendido que o Mediterrâneo era (e é) uma verdadeira ponte que liga o norte e o sul do mundo, o Oriente e o Ocidente.
Essa posição estratégica, se bem interpretada, podia (e poderia) permitir à Itália desempenhar um papel estratégico do ponto de vista geopolítico. Em vez disso, tudo foi interpretado sob a ótica do fenômeno da imigração, mais uma vez com a lógica do braço de ferro para determinar se acolher ou rejeitar aqueles que chegavam do continente africano ou do Oriente Médio. Certas miopias, às vezes, se pagam caro.
O que Leão XIV propõe?
É necessária uma reflexão sobre os macrofenômenos. Todo o Ocidente e aqueles que o governam deveriam assumir essa responsabilidade. Leão XIV, diante dos cenários de guerra, continua pedindo que os inimigos se encontrem; que se realizem negociações, mediações e tudo o que possa atenuar as tensões para encontrar caminhos concretos de conciliação. Do encontro e do diálogo pode nascer e crescer uma sociedade verdadeiramente humana, porque o homem é, por natureza, um ser em relação. Sem a relação, ele morre ou mata. A autorreferencialidade, o egoísmo, o orgulho são faces da mesma doença que empobrece o homem, porque não lhe permite ver o outro, com a consequência de que, ao matar, ele também se mata.
É a guerra “global”?
O que estamos vendo hoje não é ‘simplesmente’ uma guerra entre povos rivais circunscritos a territórios bem delimitados, mas o massacre de uma humanidade que se acostumou à guerra, cujo coração corre o risco de se deixar ‘anestesiar’ pela apatia e pela resignação à banalidade do mal.
O empenho ético não pode ser improvisado, não pode ser um slogan: é fruto da formação, da partilha de valores, da visão do mundo e da vida. As veredas fascinantes e íngremes do ‘conhecimento’ deram lugar a algoritmos concebidos para obnubilar o ‘bem do intelecto’. Sem pensamento crítico, não há busca pela paz.
É também uma crise educacional?
Sim. Tudo parece ter escapado de nossas mãos. Basta passar algumas horas nos corredores de uma escola ou ouvir alguns pais para perceber o esforço que todos fazem e fazemos para educar e também a rejeição dos jovens em relação aos adultos. Nosso tempo foi definido como ‘sem pais’, mas precisamos de pais e mães não apenas para vir ao mundo, mas também para saber como viver nele. Deseja-se um pacto entre as gerações? Minha sensação é que todos caminhamos em linhas paralelas, pensando que cada um está certo ou, pelo menos, que cada um tem suas próprias razões.
Antes do pacto, talvez seria preciso escutar uns aos outros. Precisamos sair do beco sem saída que dá razão a alguns e não a outros para entrar em um caminho feito de escuta sincera, de coparticipação sem julgamento, de compreensão sem rótulos. Conheci muitos jovens extraordinários com formas de rebelião e desconforto assustadoras, mas que simplesmente pediam para serem ouvidos e acolhidos com suas feridas e dificuldades, e ouvi pais e educadores igualmente frustrados com seus fracassos, que esperavam por outra chance.
Existe paz sem justiça?
A justiça é o pilar fundamental para qualquer convivência social. Reconhecer ao outro o que lhe próprio e, antes mesmo, reconhecê-lo como sujeito com dignidade própria, independentemente do que possui ou do que faz, é o ponto de partida de qualquer intenção de autêntico desenvolvimento humano. As desigualdades estão à vista de todos; agora já se tornaram a normalidade. Sem justiça não poderá haver paz, porque as desigualdades provocam raiva social e geram conflitos difíceis de sanar. Toda essa reflexão não pode ignorar a urgência de evangelizar a economia financeira, cujo poder excessivo é evidente. Na visão cristã, o outro é sempre meu irmão.
Se acolhermos esse princípio, então é possível construir laços autênticos entre povos diferentes e com aqueles que chegam de outros continentes (geralmente empobrecidos por países mais ricos). Olhar para o outro com a devida empatia permite reconhecer que ele tem as minhas mesmas necessidades de paz, justiça, bem-estar, desenvolvimento e serenidade. Antes de olhar para a cor da pele, deveríamos parar para conhecer sua história, se ele viveu dramas, se teve que fugir de guerras ou da fome, se teve que sofrer humilhações indescritíveis, se sofreu. Só então posso expressar um julgamento e orientar minhas escolhas.
A que se refere?
Vi um vídeo sobre os centros de detenção na Líbia. Aquelas imagens voltam constantemente à minha mente. E se tivesse sido a minha irmã ou a minha sobrinha a sofrer aquelas torturas? Enquanto o outro for o estrangeiro, nunca poderemos ser portadores de instâncias éticas. Faremos apenas discussões de salão. É importante lembrar que a cultura cristã está centrada no reconhecimento da alteridade.
Estamos todos no mesmo barco, ninguém se salva sozinho. As organizações supranacionais devem medir-se em relação às migrações. Se antes havia a necessidade de se defender de um bloco territorial, hoje há a urgência de encontrar novos caminhos para não ficar preso dentro de blocos que não dialogam mais ou que se preocupam apenas em ocupar ou adotam estratégias financeiras para se impor sobre o outro. É preciso gritar que assim a humanidade está caindo num abismo.