11 Junho 2025
A aceitação de pastoras, as questões políticas e éticas, o posicionamento em relação à agenda política do Presidente Trump, a resposta aos abusos sexuais no interior das Igrejas e o reforço das contribuições financeiras farão parte do debate entre os mais de 10.000 representantes de igrejas locais que se vão encontrar em Dallas, nos dias 10 e 11 de junho, na reunião anual da Convenção Batista do Sul (SBC, na sigla em inglês).
A reportagem é publicada por 7Margens, 08-06-2025.
A Convenção reúne a maior denominação protestante dos Estados Unidos da América (EUA), com fiéis espalhados por todo o país, e deve voltar ao tema do papel das mulheres líderes na igreja — um assunto em debate desde 2019 – sobre o qual, notícia o Religion News Service, um grupo de pastores propõe ressuscitar uma proposta para excluir da convenção igrejas onde as mulheres tenham o título de pastora. A proposta mudaria a constituição da SBC e foi rejeitada em segunda votação no ano passado. As regras da Convenção exigem, para algumas matérias mais importantes, duas votações favoráveis em reuniões anuais consecutivas.
A declaração de fé da SBC restringiu, desde 2000, o papel de pastor a homens. Mas essa restrição raramente foi aplicada no passado pela assembleia anual. Alguns argumentam que a restrição se aplica apenas a pastores seniores, enquanto outros dizem que isso significa que nenhuma mulher pode ter o título de pastora — mesmo que tenha o título de pastora para as crianças, ou pastora de música. Mas este ano suspeita-se que o tema regressará em força e poderá tornar-se razão de exclusão de igrejas locais que sejam lideradas por pastoras.
A questão dos abusos sexuais no interior das Igrejas Batistas do Sul estará também na ordem do dia. “Nos últimos quatro anos, relata o Religion News Service, o Comitê Executivo pagou mais de 14 milhões de dólares em custos judiciais decorrentes de um relatório de investigação sobre abusos sexuais.” Esses custos judiciais esgotaram as reservas do Comité Executivo que agora pede à Convenção três milhões extras para pagar despesas com os tribunais e as indemnizações.
Mas as consequências das práticas de abuso sexual não são apenas financeiras. O que está em jogo diz também respeito à completa estagnação do famoso banco de dados para rastrear pastores abusivos. Este banco de dados foi apresentado há anos como sendo a peça central das reformas contra os abusos perpetrados por membros da denominação, tendo sido aprovado por uma ampla maioria dos participantes da reunião anual. Mas nunca avançou de forma significativa, paralisado por questões jurídicas e burocráticas.
O Religion News Service antecipa que “o debate mais acalorado durante a convenção pode envolver a Comissão de Ética e Liberdade Religiosa (ERLC, na sigla em inglês) — o braço de políticas públicas da SBC, que está a ser criticado por não se alinhar com a agenda MAGA (“Make America Great Again”) do Presidente Trump.
Grande parte da controvérsia em torno desta comissão, que aborda questões sociais como aborto, imigração e gênero, remonta ao seu ex-líder Russell Moore, que há muito critica Trump. Embora Moore tenha renunciado em 2021, os críticos do grupo continuam insatisfeitos” com este não alinhamento político.
Desde 2016, três votações promovidas por este conjunto de críticos para suspender o financiamento ou dissolver a ERLC fracassaram, embora na última convenção mais de um quarto dos participantes pareciam apoiar o encerramento da comissão.
O grupo mais ativo no ataque à ERLC é, segundo o Religion News Service, o Centro para a Liderança Batista dirigido pelo ex-funcionário do governo Trump, William Wolfe, e financiado por uma publicação presbiteriana. “O grupo alega que a ERLC está desconectada dos batistas do sul comuns, tem poucos vínculos com o governo Trump e tem-se mostrado muito disposta a trabalhar com entidades seculares”.
Entre essas entidades figuram a World Relief, a Focus on the Family e a Associação Nacional de Evangélicos que há muito tempo apoiam tanto a segurança nas fronteiras quanto o processo de obtenção da cidadania para pessoas em situação ilegal no país. Estas organizações são também parceiras do Fórum Nacional de Imigração, que recebeu financiamento da Open Society Foundation, fundada pelo bilionário George Soros, o que foi denunciado como uma forma de grupos progressistas se infiltrarem na Convenção.
A denominação perdeu quase 250 mil membros no ano passado — o 18º ano consecutivo em que o número de membros regrediu. Atualmente, a Convenção Batista do Sul afirma ter 12,7 milhões de membros, o número mais baixo dos últimos 50 anos, muito abaixo dos 16,3 milhões em 2006. Dois terços dos baptistas do sul adultos têm 50 anos ou mais, de acordo com dados divulgados pelo Pew Research Center. Apenas 10% dos adultos têm entre 18 e 29 anos.