11 Junho 2025
"É surpreendente que se possa usar a dialética entre “princípios” traduzindo-a em “polos” internos à mesma instituição. Isso é possível e pode também revelar uma vontade superior de acordo e conciliação."
O artigo é de Andrea Grillo, teólogo italiano, publicado no seu blog: Come se non, em 10-06-2025.
Para sermos fiéis ao contexto, devemos começar pela “ocasião”: estamos falando de uma homilia para o “jubileu da Santa Sé” (na sobreposição com a festa de Maria Mãe da Igreja, precisamente na segunda-feira depois de Pentecostes). A escolha desse estilo de “jubileu por categorias”, como é evidente, também envolve a Santa Sé.
Assim como há um jubileu de coros, de coroinhas, de adolescentes ou de médicos, poderia não haver um jubileu da Santa Sé? Como é possível que ninguém tenha pensado na singular contradição de tal definição? A Santa Sé como sujeito e objeto, ao mesmo tempo ativo e passivo, da mesma ação? Uma remissão das penas temporais que é pedida e concedida pelo mesmo sujeito? Quando se identifica a Santa Sé com o Romano Pontífice (para falar como a lei fala), que sentido pode ter um jubileu da Santa Sé? Talvez como um jubileu dos “funcionários”? Uma forma de garantir também que essa “categoria” tenha o seu espaço na programação anual? Em suma, teórica e praticamente, existem várias dificuldades, que deveriam ter sido geridas não apenas com a lógica da noticiabilidade ou da cobertura.
Mas vamos à Homilia, que era construída, de um lado, sobre o fundamento da memória litúrgica de Maria, Mãe da Igreja, e, do outro, com um olhar sobre a circunstância do evento jubilar.
Sobre essas bases, estabelece-se uma reflexão que tem Maria como centro, cuja maternidade eclesial é celebrada. A reflexão é conduzida com uma interpretação de Maria como “nova Eva”, mas com ênfase na fecundidade que diz respeito, indiferentemente, a todos os batizados. É usada, explicitamente, uma citação de Von Balthasar, sobre a raiz cristológica da Igreja, baseada em uma leitura tipológica do “grão de mostarda”. A citação não é particularmente significativa, no contexto em que aparece. Mas sinaliza a presença do mesmo autor no texto que se segue. As linhas seguintes, de fato, desenvolvem o raciocínio dos “carismas” mariano e petrino, para interpretar não apenas a Igreja, mas também a Santa Sé.
Aqui, um exemplo pode ser esclarecedor: um padre que carrega o peso do ministério, e que, no entanto, desempenha o ofício, é fecundidade da Igreja, como um pai que vive a dificuldade da família, mas continua a trabalhar. É evidente que apenas o primeiro exemplo é realmente pertinente ao tema da Santa Sé e define de alguma forma uma copresença, além do ofício, de uma resistência aos pesos: ofício e ação seriam o polo petrino, resistência e paixão seriam o polo mariano. O primeiro diria respeito, sobretudo, à lei, o segundo, à graça. Isso tem a marca claríssima da inspiração balthasariana. Não é muito convincente, porque contém em si uma forma de extremismo. Mas é preciso reconhecer que nasceu, originalmente também em Von Balthasar, para justificar uma “pluralidade eclesial”, uma multiplicidade de componentes da tradição eclesial; para dizer que não existe apenas a Santa Sé, como lugar do princípio petrino, mas uma componente carismática e mariana, que se concretizou em outras dimensões do catolicismo e em outras tradições cristãs.
É surpreendente que se possa usar a dialética entre “princípios” traduzindo-a em “polos” internos à mesma instituição. Isso é possível e pode também revelar uma vontade superior de acordo e conciliação. O que não é dito, porque nem sequer consta nos textos originais do próprio inspirador Von Balthasar, é que o polo petrino e o polo mariano devem ser identificados com a “função masculina” e o “destino feminino”, com a ação dos homens e a paixão das mulheres. Esse desenvolvimento, que encontramos em Von Balthasar, mas também em João Paulo II e parcialmente em Francisco, não aparece no discurso do Papa Leão. Se uma leitura de “Maria Mãe da Igreja”, mesmo recorrendo a categorias não inteiramente persuasivas, evitasse tirar conclusões enganosas, seria um ponto de evidência de um uso menos ideológico das mesmas palavras. Duas consequências podem então ser tiradas:
Se fosse esse o sentido da homilia de 9 de junho, poder-se-ia lê-la como uma evolução não ideológica das categorias introduzidas por um grande teólogo, que não resistiu, contudo, a fazer delas um uso distorcido, induzindo indiretamente um desenvolvimento equívoco nas palavras do magistério católico dos últimos 50 anos.