05 Junho 2025
"Na Itália, entre os milhares de espécies de insetos que temos hoje, muito poucas estão aumentando: a maioria está se perdendo. Para entender isso, pense na síndrome do para-brisa vazio: em viagens de carro antigas, anos atrás, de vez em quando era preciso parar para limpar o vidro da quantidade de insetos presentes. Hoje, porém, ou não se encontra nenhum, ou são insetos de apenas duas espécies: portanto, insetos de menor qualidade, como mosquitos, moscas ou percevejos, estão aumentando em número, enquanto todos os outros estão desaparecendo silenciosamente".
O comentário é de Nicola Bressi, zoólogo e curador do Museu de História Natural de Trieste, retirado da edição de 4 de junho da revista Green&Blue, nas bancas, anexada à Repubblica e dedicada ao Festival Green&Blue (Milão, 5 a 7 de junho), publicado por La Reppublica, 03-06-2025.
“Muitas pessoas não conseguem distinguir uma borboleta de um molusco, falta-lhes uma cultura básica”. O zoólogo, curador do Museu de História Natural de Trieste, falará sobre o assunto no Festival G&B, em 6 de junho.
Como podemos proteger a nós mesmos e à natureza se não sabemos realmente o que estamos perdendo? Uma pergunta fundamental que devemos nos fazer em um planeta onde a biodiversidade está sofrendo "um verdadeiro extermínio", afirma, sem rodeios, o zoólogo, naturalista e curador do Museu de História Natural de Trieste, Nicola Bressi (@nicolabressi), um dos protagonistas do Festival Verde e Azul no Museu Nacional de Ciência e Tecnologia Leonardo da Vinci, em Milão.
O problema, diz Bressi, é que estamos perdendo o contato com a realidade: entre a falta de educação escolar, de treinamento e de papéis-chave como os dos taxonomistas que nos ajudam a reconhecer e determinar as espécies, e um distanciamento geral da natureza também devido a um alto número de proibições, hoje se dedicar à conservação da biodiversidade está se tornando cada vez mais complexo. Sabemos bem que hoje a biodiversidade planetária está de joelhos: em apenas [50] anos houve uma queda catastrófica de [73]% no tamanho médio das populações de vertebrados selvagens, com verdadeiros ecocídios se falarmos de ecossistemas de água doce (-[85]%), terrestres (-[69]%) e marinhos (-[56]%).
Uma das coisas mais difíceis de fazer as pessoas entenderem é que há um extermínio contínuo da biodiversidade que não para. As pessoas têm dificuldade em entender isso porque, na era das imagens visuais entre redes sociais, vídeos e compartilhamento constante de fotos, parece que estamos cercados de animais. Muitas pessoas me enviam fotos de insetos ou espécies pedindo informações, e é como se, pelo fato de todo mundo ter um celular e as imagens pulassem para todos os lados, houvesse a crença de que os animais estão até aumentando: na realidade, não é bem assim, pelo contrário. E há uma enorme diferença entre qualidade e quantidade", explica o zoólogo.
É o caso, por exemplo, dos insetos. "Na Itália, entre os milhares de espécies de insetos que temos hoje, muito poucas estão aumentando: a maioria está se perdendo. Para entender isso, pense na síndrome do para-brisa vazio: em viagens de carro antigas, anos atrás, de vez em quando era preciso parar para limpar o vidro da quantidade de insetos presentes. Hoje, porém, ou não se encontra nenhum, ou são insetos de apenas duas espécies: portanto, insetos de menor qualidade, como mosquitos, moscas ou percevejos, estão aumentando em número, enquanto todos os outros estão desaparecendo silenciosamente".
Um declínio que, afirma Bressi, anda de mãos dadas com o dos taxonomistas, os estudiosos especialistas em classificar plantas e animais. "Eles são cada vez menos numerosos e mal pagos, mas são essenciais para a compreensão da biodiversidade e, consequentemente, para sua proteção". Ainda hoje, embora Trieste tenha sido uma das primeiras cidades a realizar estudos dedicados ao tema, "não sabemos exatamente que espécies de formigas vivem em Roma ou Milão, por exemplo. Ainda há muito pouco conhecimento. No entanto, acontece de cidadãos telefonarem para saber como lidar, por exemplo, com uma invasão em sua casa: mas se não sabemos qual é a espécie, como podemos lidar com ela de forma eficaz?"
Para o naturalista, é necessário, portanto, investir mais em ciência e formação, começando pela educação nas escolas. "Nasci em um subúrbio de Trieste, em uma família de imigrantes, e desde pequeno fui considerado a criança 'louca' que amava animais. Talvez, por sempre ter desejado ser zoólogo, eu seja tendencioso ao dizer isso, mas me assustam as perguntas que as pessoas me fazem hoje: elas não sabem mais distinguir uma borboleta de um molusco ou reconhecer uma abelha doméstica. Há um distanciamento total da realidade porque não existe uma cultura básica geral que existiu outrora, como quando nos ensinavam a não alimentar animais selvagens, algo que hoje é preciso explicar tudo de novo." Informações que hoje muitas vezes nem são ensinadas nas escolas "porque raramente levam as crianças para a natureza ou porque a ciência é feita para ser decorada, de forma monótona. Em vez disso, a ecologia deve ser ensinada, sem medo de que na natureza alguma criança encontre um carrapato".
Por fim, afirma o naturalista, para proteger verdadeiramente a biodiversidade, "a confusão entre ambientalismo e animalismo, que afeta até mesmo a legislação, deve ser resolvida. Hoje, na Itália, para proteger a natureza, nos movemos com proibições: um pequeno lago deve ser protegido? Colocamos placas e não se pode mais tocar em nada, tanto que uma criança, como acontecia no passado, não consegue mais nem chegar perto para entrar em contato com os girinos, para aprender. Então, no final, o pequeno lago muitas vezes acaba abandonado. Em vez disso, seria necessária uma gestão da natureza muito mais ativa, em vez de proibições". Talvez só assim, e com mais estudo, possamos compreender outro grande drama da biodiversidade: "o fato de algumas espécies estarem desaparecendo sem motivo, e isso também acontece em áreas protegidas. Repito, para nos salvarmos, precisamos saber".