29 Mai 2025
Análise sugere que há 80% de chances de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere os recordes históricos de calor de 2024.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 28-05-2025.
Projeções divulgadas nesta 4a feira (28/5) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) indicam um aumento da temperatura média global de quase 2oC acima dos níveis pré-industriais nos próximos cinco anos (2025-2029). Segundo a agência da ONU, há até 80% de chances de que pelo menos um dos próximos cinco anos supere o recorde histórico de calor registrado em 2024, o ano mais quente da história.
Os dados da OMM também sugerem a possibilidade de um aumento superior a 2oC nesse período, pois os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera estão em seu nível mais alto em 800 mil anos. Embora isso não implique necessariamente na superação do limite de 2oC de aumento da temperatura média global definido pelo Acordo de Paris, a notícia traz preocupação aos especialistas.
A média quinquenal deve superar 1,5°C, com anos acima desse patamar se tornando cada vez mais comuns, como ocorreu em 2024, considerado o mais quente da história. A secretária-geral adjunta da OMM, Ko Barrett, alertou que a última década foi “a mais quente já registrada” e que não há perspectiva de alívio no curto prazo.
“Este relatório da OMM não oferece nenhum sinal de trégua nos próximos anos, e isso significa que haverá um impacto negativo crescente em nossas economias, em nossa vida cotidiana, em nossos ecossistemas e em nosso planeta”, disse Barrett.
Ao Euronews, a cientista climática Natalie Mahowald, da Universidade Cornell, que não participou dos cálculos, mas considerou-os coerentes, deixou claro que não se tratam de números abstratos. “Temperaturas médias globais mais altas podem parecer abstratas, mas na vida real se traduzem em maior probabilidade de eventos extremos, como furacões mais intensos, precipitações e secas mais fortes. Assim, o aumento das temperaturas médias globais tem como resultado mais vidas perdidas”, afirmou.
Os impactos desse aquecimento incluem redução na produção agrícola e exposição de mais de um terço da população mundial a ondas de calor extremo. A Bloomberg destacou que os padrões de chuva variarão significativamente entre as regiões. Espera-se que o Sahel, o norte da Europa, o Alasca e o norte da Sibéria tenham mais chuvas nesta temporada, enquanto a Amazônia deve ficar mais seca. O Ártico continuará a aquecer mais rápido que a média global, com temperatura 2,4°C acima da média recente (1991-2020) nos períodos de inverno estendido (novembro a março).
Como detalhou o g1, a previsão climática para o período entre 2015 e 2034 indica um aquecimento médio de 1,44°C, com variação entre 1,22°C e 1,54°C, reforçando a necessidade do cumprimento do Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aquecimento global a bem abaixo de 2°C, preferencialmente a 1,5°C, em relação aos níveis pré-industriais.
Esta é a primeira vez que modelos científicos indicam a possibilidade de um ano ultrapassar 2°C no curto prazo, algo considerado impossível há poucos anos. Embora a OMM avalie essa chance em apenas 1%, ela poderia coincidir com um evento extremo do El Niño – aquecimento anormal das águas superficiais e subsuperficiais do Oceano Pacífico Equatorial capaz de intensificar eventos climáticos. No entanto, ainda não há sinais claros desse fenômeno ou de seu oposto, o La Niña, nos próximos cinco anos.
Deutsch Welle, Financial Times, Reuters, Climate Change News, Business Green, Folha e Um Só Planeta, entre outros, repercutiram o estudo da OMM.
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